O meu primeiro texto de 2017 trata de Star Wars, de mortes, não da morte de Carrie Fisher a eterna Leia mas de todo um universo de videojogos às mãos da Disney. Desde miúdo que sou fã de Star Wars, tinha os três filmes gravados da televisão em Betamax e via-os tantas vezes que não só sabia as falas todas como também os anúncios que inevitavelmente estavam no meio. Apesar de não ser tão fã do tratamento que foi dado aos personagens nas prequelas do cinema também não sou tão puritano que só vejo parte da história como o seu todo, para mim Star Wars sempre se espalhou num universo completo e complexo que era chamado de Expanded Universe. Esse universo que englobava filmes, animação em TV, romances, livros de BD e jogos em todas as plataformas, através de milhares de anos antes e depois da destruição da Death Star na Batalha de Yavin (ponto que marcava o ano 0) foi apagado da existência e agora é considerado lenda.

É por isso que depois de ter visto Rogue One, e até ter gostado do filme (porque algumas das minhas histórias favoritas de Star Wars são as que não se centram nos Skywalker) fiquei com um sabor amargo na boca, um pequeno toque de fel na garganta que me irrita porque, para mim, não foram os membros de Rogue One que roubaram os planos da Death Star (isto não é spoiler, toda a gente sabe de que se trata o filme antes de o ver) foi Kyle Katarn e mais outros tantos que o fizeram em mais do que meia dúzia de dias! Por isso vamos dar uma volta no espaço e tempo das lendas, por ordem cronologica de acontecimentos.

Tudo começa num momento estúpido provocado pela arrogância em The Force Unleashed (2008). Darth Vader depois de ter capturado Bail Organa e Mon Mothma pensa que é boa ideia mostrar a sua nova base e superarma de modo a tentar apagar o facho da rebelião enquanto esta é apenas uma faisca. Apesar de não saberem o que ela faz, os lideres da Rebel Alliance ficam a saber da existência desta. E de acordo com o Expanded Universe os planos necessários não estavam convenientemente alojados num deposito, nem Palpatine nem Lord  Vader iriam cometer um erro tão básico como esse. Os planos estavam espalhados por toda a galáxia, em partes.

Duas missões são feitas na campanha individual de Star Wars: BattleFront II (2005), outra por Biggs Darklighter em Star Wars: X-Wing (1993), Kyle Katarn rouba uma das partes mais importantes em Dark Forces (1995). Em Jedi Dawn (um livro Choose Your Adventure de 1993) conta como outra secção é roubada e transmitida para Leia e Rianna Saren com o seu bot Zeeo, outros planos são também roubados seguindo as ordens de Katarn em Star Wars: Lethal Alliance (2006). Tudo isto e mais é intitulado Operation Skyhook.

Infelizmente toda esta operação já não entra em jogo, muitos foram os Bothans e outros que (supostamente) morreram em vão (pequeno toque ao ataque da segunda Death Star). Porque não é só Kyle Katarn que será esquecido pelas novas gerações, nem sequer a mais olvidável Rianna. Há todo um universo de jogos que nos deram tantas histórias com tantos momentos memoráveis que me custa que sejam assim colocados de lado. Também perto dos filmes canónicos, o que aconteceu com Delta Squad? Os quatro membros do genial Republic Commando? Foram Scorch, Fixer, Sev e o seu chefe “Boss” apagados como uma missão de Black Ops que nunca aconteceu? Carth Onasi e Bastilla Shan, ou até HK-47 o adorável droid de Knights of the Old Republic também não existem mais? Apesar de por razões de produção KotOR II ter tido um final mais apressado, ambos os jogos criaram personagens e enredos tão ou mais ricos que os filmes, toda a história dos dois é envolvente ao extremo, todas as nossas acções são ponderadas porque o menor gesto pode ter repercussões sérias em toda a galáxia.

É pena que a Disney não se digne a recuperar tudo o que devia, assim como reciclou HK-47 numa versão mais soft e chamou-lhe K-2SO para agradar a mais público e funcionar como comic relief no filme, deixou de lado anos de trabalho e conteúdo.

Mas não são só as dezenas de jogos como os Battlefront, Jedi Knight e Academy, KotOR ou até Empire at War que foram ignorados. Os romances de Star Wars, e os seus personagens como Jaina e Jacen Solo, assim como Anakin os três filhos de Han e Leia nos livros, desaparecem para dar lugar a um Ben Solo que parece um Marylin Manson adolescente quando tira o capacete.  Ainda custa mais sabendo que Ben, nos livros, é o nome do filho de Luke Skywalker e Mara Jade, a fogosa ruiva Jedi que também já não existe (ou talvez seja mencionada em Episode VIII, a esperança é a última a morrer), as aventuras de Rogue Squadron, toda a guerra com os Yuuzhan Vong. A que é provavelmente das melhores trilogias de Star Wars e talvez das space operas alguma vez escritas, a Heir to the Empire Trilogy donde felizmente recuperaram e respeitaram um dos melhores personagens criados, o Grande Almirante Thrawn.

Mas tudo o resto, todas as outras personagens foram esquecidas ignoradas, menos para mim. Espero que nós, os fãs de Star Wars e dos seus jogos em particular, nunca deixemos morrer toda esta história às mãos de um Império animado. Todo este trabalho merece ficar para sempre nas nossas memórias.

Que a força esteja convosco.

Sempre.