Se alguém hoje me fizesse esta simples pergunta: “Alexa, porque é que és uma apaixonada jogadora de videojogos? ”, dou-me conta que não sei se saberia responder.

Parece à partida uma pergunta de resposta simples. A verdade: “Porque gosto!”, seria uma resposta óbvia e quase simplista. E não propriamente correcta. Mas no ano em que completo 40 anos (Finalmente!!!), e sendo eu uma mulher que cresceu numa geração em que jogadoras femininas eram quase inexistentes, sendo a última de 5 irmãs das quais nenhuma foi gamer, tendo vivido num bairro complicado em que os amigos não possuíam qualquer consola nem hipóteses de a comprar… dou-me conta que é mais complicado do que à partida parece,  responder a uma pergunta tão simples. Ainda por cima, apenas me tornei nesta sub-espécie humana que são os gamers por volta dos 21 anos – já a entrar para a idade adulta e depois de entrar para a faculdade, onde me formei em psicologia. Estranho percurso que levou alguém como eu a amar videojogos, tanto como amo cinema ou literatura.

E agora no virar de ano, aquela altura inevitável onde pensamos no que passou e tentamos organizar uma nova etapa que aí vem, numa tentativa de fazermos um pouco melhor do que fizemos até então, dou por mim a fazer-me esta pergunta mais vezes do que quero admitir. E não consigo arranjar uma resposta válida que seja coerente ou racional para quem puder cruzar-se com este artigo. Inevitavelmente, a razão para esta pergunta está aqui – no Rubber Chicken, a casa onde pertenço vai fazer 2 anos e que me leva a questionar sobre o meu contributo.

Jogo porque Amo a sensação que tenho, cada vez que estou no meu mundo a jogar. Jogo porque me sinto Viva quando luto com monstros através da minha consola. Porque me sinto melhorar, a atingir objectivos. Porque sinto que afasto a depressão, a dor e todas as sensações más para as quais a vida me arrasta. Jogo porque Vivo e Respiro intensamente cada história onde me embrenho, seja través dos diálogos, das cenas, através da banda sonora ou da personagem que encarno… por tudo. Porque posso ser quem quero ser, fazer o que não ousaria fazer, concretizar as fantasias mais obscuras e libertar os lados mais negros de mim, sem qualquer julgamento. Porque os jogos me fazem sentir mais Mulher. Mais Psicóloga. Mais Eu!

Não sou, nunca fui e nunca serei uma jogadora racional. Não vejo os jogos pelo frame rate, textura, design gráfico, jogabilidade ou coesão de história. Sou instintiva no que escolho jogar: ou me apaixona ou não. Ou me transmitem algo ou não. Ou são uma boa experiência para mim, ou não. É assim que jogo e é assim que escrevo. Muitas pessoas dizem-me que os meus artigos e análises são demasiado emotivos e subjectivos. Têm absolutamente toda a razão… mas como poderei fazer de outra forma se não sei viver os videojogos de outra maneira?

E com esta consciência de mim, do que sou, da forma como escrevo, vem a inevitável pergunta: os meus artigos têm utilidade para alguém? Qual a utilidade de ler uma análise se lá não consta o que a maioria procura: jogabilidade, framerate, design gráfico, e todas as outras características que se lêem noutras análises mais objectivas? Não faço a pergunta à procura de validação ou aceitação. Acreditem em mim – se me conhecessem melhor, saberiam que não sou, definitivamente, o tipo de pessoa que depende de qualquer tipo de validação de outros para além das pessoas que ama. Faço esta pergunta porque considero que o Rubber merece alguém que efectivamente contribua com algo útil. Algo que a indústria procura. E cada vez mais duvido que eu seja essa pessoa. Vejo os meus artigos como conversas íntimas sobre as as emoções que vivi nos videojogos que joguei… ultimamente, nem sequer ponho a psicóloga que tenho em mim a trabalhar numa tentativa de elaborar uma análise mais racional.

Em suma, vejo os artigos que escrevo como o diário que não tive em adolescente. E isto tem interesse para alguém, objectivamente falando? O que interessa o que eu sinto? Consigo ser absolutamente racional quando analiso um filme ou um livro (as duas outras Paixões do triunvirato da minha alma), mas com videojogos, por mais que tente – não consigo. Vivo Tudo o que jogo. Respiro a experiência. Não sou espectadora nem jogadora –momentaneamente… estou Lá. Do outro lado da televisão. Mas… e isto interessa a alguém?

Juntando a esta instrospecção, vem outra. Cada vez são menos os jogos pelos quais anseio. São cada vez mais restritos os títulos com os quais quero gastar as minhas horas. Por tudo o que me aconteceu no ano passado, tenho mais presente que nunca que o Tempo é o que de mais importante temos na vida. Algo que não se recupera de forma alguma. E por isso, é de forma cada vez mais selecta que escolho qual o jogo ao qual dedico o meu tempo.

Em 2016, apenas 2 títulos lançados me apaixonaram: Uncharted 4 e The Last Guardian. Todo o resto do tempo de jogadora foi passado  a jogar Bloodborne, um jogo lançado em 2015 e que para mim deveria continuar a ser jogo do ano em 2016. Numa indústria que cada vez mais cria títulos descartáveis, dou por mim a ansiar cada vez menos o que aí vem.

Vejamos 2017. De tudo o que já espreitei e conheço, e cujo lançamento foi anunciado para este ano (The Last of Us 2…2018 cá estaremos) apenas Death Stranding de Kojima e o reencontro com o meu Kratos em God of War faz mexer as borboletas do meu estômago apaixonado de videojogadora. Existem títulos muito interessantes, como Prey, Detroit e Resident Evil 7 (é bom que este seja alguma coisa de jeito senão…), mas o resto… não incendiou a chama. Não me acendeu, nem entusiasmou. Como diz o povo: não me aqueceu nem arrefeceu. Confesso que anseio por God of War mais que tudo o resto – ver Kratos num mundo Viking é mais que o casamento perfeito. Mas tudo o resto me parece simplesmente – meh… bom… aceitável… e não é justo para a equipa e para quem possa vir a ler algo que eu escrevo, que eu sinta isto…

Esta “despaixão” que começo a sentir não ajuda no que tento fazer aqui. Este desapego à maioria do que se produz não acende a minha veia racional. Seria esperar que, com o morrer da Paixão, a racionalidade aparecesse, certo? Errado! Em mim, é precisamente o contrário. Quando o meu coração se desliga, o meu cérebro vai sempre atrás. Vejo a maioria dos títulos que aí vêm como isso mesmo… um título. Mais um. Tal como vejo os filmes da Marvel que saíram no cinema nos últimos 5 anos – mais um e outro e outro.

Portanto, volto à pergunta que fiz e tentei responder com este artigo: se a razão pela qual sou jogadora é a Paixão, o que irá acontecer se essa Paixão, que me acompanha há 20 anos, se desvanecer por completo? Fará sentido continuar a escrever? Faz sentido agora? se a Paixão se tornar em obrigatoriedade – qual a honestidade do que escrevo para quem possa querer ler-me? Esse desrespeito eu jamais conseguirei – jamais conseguirei ser desonesta com algo que produza. E ser puramente racional é apagar uma parte de mim absolutamente vital, e isso é uma forma mascarada de desonestidade.

É esta a expectativa que tenho para 2017: descobrir onde estou enquanto jogadora. Que tipo de jogadora quero continuar a ser. Que tipo de artigos quero escrever. Se valerá a pena efectivamente escrevê-los. É isto que quero descobrir. Não anseio por grandes aventuras… estou um pouco desapaixonada… talvez a chama da Paixão se volte a incendiar. Não Sei. Mas até lá, até que porventura essa chama se incendeie,  a expectativa de 2017 será vivida à procura de reencontrar as Sensações que me trouxeram até esta linha e me transformam na gamer que outrora fui!