Ataque dos Clones #40

Inspirado pela vaga mais recente de crónicas dedicadas ao universo Star Wars, sinto-me na obrigação de contribuir também eu com um clone baseado nesta saga. 
Como qualquer míope, orgulho-me de ser um dos devotos desta franquia e sinto-me na obrigação paroquial de não ficar para trás cada vez que alguém aparenta gostar mais de Star Wars. “Tens as meias Darth Vader? Amigo, tenho as cuecas… Todas!”.
 
Star Wars é o expoente máximo da cultura pop e a expressão moderna da devoção ostensiva que levava donas de casa a investirem em action-figures da Nossa Senhora para impressionar as colegas. Dedicar-lhe um Ataque dos Clones é assegurar-se um texto protegido de qualquer juízo crítico.
 
Esta crónica é também um momento especial para esta rubrica já que o filme que “inspirou” este clone é nada mais nada menos do que o Ataque dos Clones. Uma espécie de crossover épico entre sentido literal e sentido figurado portanto (?). 
 “Star Wars II: Battle Among Cloned Humans” é um dos raros -para não dizer o único- bootleg Star Wars a ir para além da modificação do menu principal de um jogo popular para lucrar sem grande esforço (a chamada escola russa). É uma das virtudes da sua criadora, a Sintax, que procurou sempre fazer o seu próprio conteúdo roubando aqui e ali os elementos necessários para a criação de uma peça de mediocridade única. Com mais de 100 jogos publicados para a Game Boy e Game Boy Advance, a Sintax é, para todos os efeitos, a rainha do bootleg de bolso. 
 
Relativamente ao filme, não surpreenderei ninguém ao juntar-me ao coro dos lesados das prequelas. O Ataque dos clones é para mim o pior dos três filmes -sim pior que o ameaça fantasma- e a flatulência no elevador do fandom que eu teimo em ignorar por constrangimento. Nada que possa perturbar as exigências narrativas de um clone de Game Boy, pelo que uma silhueta pixelizada com um lightsaber será sempre melhor que uma sem.
 
Bom, e este jogo vale alguma coisa? Talvez. Tendo em conta a fraca qualidade dos dois jogos Game Boy Advance baseados no filme, a aquisição do cartucho por uma criança menos atenta não defraudar nenhuma expectativa. Consigo apontar dois defeitos evidentes ao jogo: a mecânica de salto que interrompe a progressão vertical da personagem para além do expectável num jogo de plataforma e o tempo de invulnerabilidade dos inimigos após contacto que é estupidamente longo. O resto é incrivelmente mediano. As bizarrias são poucas e não superam o lado insólito do material original. A música destoa frequentemente da ação pois foi roubada ao Pokémon Pinball. Os elementos visuais, provenientes essencialmente do excelente Ninja Gaiden Shadow, são por vezes utilizados sem qualquer consideração pela sua proporcionalidade (alguns inimigos parecem miniaturas ao lado do Anakin). Os planetas que caracterizam os níveis sofrem da síndrome do PES com nomes a falharem por poucas letras o material original: Tartoine, Corsuscate, Topica, Nabco… Enquanto atravessamos os planetas marca branca da galáxia o nosso loiro da trança vai coletando diamantes na esperança de conseguir escapar ao deserto da friend zone e impressionar a sua Upper Nabco Bae. No fim do jogo é de salientar a ousadia narrativa que leva o jogador a confrontar passado e presente num duelo entre Darth Vader e “Ainda Não Darth Vader”. Algures entre os Hadoukens do sombrio general asmático e a minha falta de jeito estará um mar interpretativo que eu não pretendo explorar.
 
 Se este jogo cativou a sua (tua se fores jovem e fixe) atenção recomendo uma visita ao excelente Handled Underground onde poderá encontrar não só este jogo como uma impressionante coleção de ROMs da Sintax. Um trabalho discreto e no entanto fantástico de preservação destes bootlegs quase impossíveis de encontrar em formato físico. Uma visita obrigatória para qualquer clone lover.