Tão importante como os gráficos ou a jogabilidade, a música é algo capaz de fazer de um videojogo um marco histórico. Para muitos de nós bastam os primeiros acordes de uma dessas músicas, para sermos automaticamente transportados para o momento em que pegámos no comando pela primeira vez para jogar esse jogo.

Dado que comecei a jogar há mais de 20 anos, a quantidade de músicas que ficaram registadas, como uma tatuagem auditiva na minha mente, é gigantesca e sempre que oiço uma dessas músicas lembro-me exatamente quando joguei esse jogo pela primeira vez!

Os primeiros sons que me lembro de ouvir num videojogo vieram de uma Atari 2600 que era de um amigo da infância. A mãe desse meu amigo era ajudante de bordo da TAP e numa das suas paragens pela Bélgica comprou-lhe uma com a qual jogámos até à exaustão (que é como quem diz, até os joysticks se partirem).

Digo sons e não músicas, porque quem conhece a Atari 2600 sabe tão bem quanto eu que esta não era propriamente a melhor consola no que ao som diz respeito. Mas esse foi apenas o princípio! Depois chegaram as máquinas de arcada… e meus amigos… aquilo era uma BRUTALIDADE!!!

Nessa altura seria impossível pensar que algum dia teríamos a possibilidade de ter aquele nível de gráficos, jogabilidade e som, em nossas casas! Hoje tudo isto parece trivial. Com bandas sonoras tocadas por orquestras que fazem com que a Boston Pops mais pareça a Banda Amadeu Mota, pensar numa altura em que não existiam bandas sonoras ou que as mesmas consistiam de uma mão cheia de acordes que se repetiam infinitamente, parece algo inconcebível.

Bandas sonoras como a de God of War ou Bloodborne encostam Hollywood a um canto! E foi exatamente enquanto, eu e a minha mulher, ouvíamos a banda sonora do Bloodborne no meio do trânsito a caminho de casa, que dei por mim a pensar… Qual foi o primeiro jogo a ter uma banda sonora?

E quando me refiro a uma banda sonora, estou a falar de, pelo menos uma música que toque durante o jogo e não apenas no início de um nível ou entre níveis como acontecia no Pacman.

Assim que chegámos a casa não consegui parar de pensar nisso e como um obcecado que se preze, lá me pus à procura pelos meandros das internetsUma vez que não me convenço facilmente, pus de lado a Wikipedia e resolvi pesquisar à maneira neo-clássica – ou seja Google books!

E não é que a Wikipedia estava errada? Ele há coisas que contadas ninguém acredita!

Como não podia deixar de ser, na génese das soundtracks está um nome, outrora associado à inovação, a Atari! Em 1977 Owen Rubin, um dos programadores da Atari que nesta altura já se encontrava debaixo da alçada da Warner, lançou uma máquina de arcada rudimentar que se chamava, Triple Hunt. Tratava-se de uma máquina com um jogo de tiros com 3 modos diferentes.

Até aqui, nada de novo. A grande diferença é que, de forma a contornar as limitações tecnológicas da altura que impossibilitavam os jogos de terem uma banda sonora, Owen introduziu na mesma, um leitor de cartuchos 8Track que permitiam uma banda sonora contínua enquanto o jogador se divertia a dar tiros a Guaxinins!

Nesta altura já metade de vocês está a mandar vir comigo: “Mas isso é batota! A música não estava mesmo no jogo, era um cartucho que tinha a música!”

Sim… é verdade, mas para mim, isso não lhe tira o mérito de ser o primeiro! Mas se formos ao pormenor, então nesse caso temos de referir outras duas grandes marcas, símbolos universais dos videojogos, que voltam a estar em destaque. Desta feito falo da Taito e da Namco.

Em 1978 a Taito lança o inconfundível Space Invadors. Na sua versão arcade, tinha uma música (embora muito rudimentar), que acompanhava o jogador na sua missão de proteger a Terra.

Por seu lado, em 1980 a Namco lança Rally-X, uma arcade de simulação de corridas com uma banda sonora muito mais próxima do que seria o standard na segunda metade da década de 1980.

E pronto… assim sendo deixo os meus cumprimentos ao senhor Owen Rubion pelo seu contributo para o mundo dos videojogos… e agora que já aprendi mais uma coisa inútil, posso finalmente ir descansar e pensar nas outras grandes questões que me assolam, como por exemplo: “Para que servem os dedos dos pés ou porque é que os homens têm mamilos?”.