Mais uma semana e mais uns clones para recordar através do universo alternativo dos bootlegs os jogos do nosso património “videocultural” comum. Já abordei nesta crónica uns quantos fighting games e hoje não será exceção pois tive o “prazer” de violentar os emuladores com um conjunto de clones que fazem coceguinhas à glândula lacrimal dos que neles gastam dinheiro.

Tekken é talvez dos jogos de combate em que mais tempo investi. Professo-me um fã incondicional de Street Figther e de mais uns quantos 2d fighting games. A Saga do “Punho de ferro” não atinge o pódio das minhas preferências… No entanto quem tivesse um mínimo de emancipação parental em 98 sabe que Tekken 3 era o incontornável das sessões caseiras na PlayStation. Um jogo que acabaria por ser um dos primeiros jogos de porrada 3D a atingir este estatuto de incontornável, à semelhança do que Fifas e CODs representam hoje em dia no espaço contemporâneo.

Já todos tivemos a possibilidade de controlar cangurus, pandas e tipos com sobrancelhas gigantes. Já todos levámos uma tareia de um Eddie Gordo controlado por um comando esquecido debaixo do sofá enquanto jurávamos ter decorado a nossa lista de combos.

Evidentemente perante um fenómeno tão massificado os “consoleiros” mais desfavorecidos poderão facilmente ter caído na armadilha de um packaging com o jogo da moda compatível com o seu ferro velho. Os próprios deuses do mercado negro tiveram consciência disso e presentearam-nos com nada mais nada menos do que 4 jogos… Todos absolutamente abomináveis. Vamos a isso.

Tekken 2 (NES)

Este Tekken 2 para NES tem a tarefa difícil de superar a grande distância gráfica que o separa do original. No entanto deste conjunto de jogos é aquele que se safa melhor: É possível de jogar mais de um minuto. A Hummer team recuperou grande parte do motor do kart fighter e integrou 8 personagens do Tekken 2 original. Porque 8 é bom mas mais é melhor, lembraram-se de os duplicar todos… Tal e qual. Não procurem aqui qualquer diferença de indumentária ou movimentos, são personagens a dobrar e pronto… 16 personagens… Bem bom!

Um dos aspetos positivos da relativa lentidão dos Tekkens originais é que acaba por ser uma boa desculpa para tapar as suas falhas com o pretexto da autenticidade. Nesse sentido este Tekken 2 NES é autentico. O Problema é que num jogo sem tridimensionalidade e o nervosíssimo associado a projeções e combos bem colocados, a lentidão não transmite nada para além da sensação de estar a perder o seu tempo um pouco mais devagar.

Os elementos de gameplay resumem-se a um pontapé, um murro e um super golpe executado pressionando os botões A e B em simultâneo. Não há limites para esse golpe pelo que uma gestão eficaz implica martelar estes dois círculos salientes como se não houvesse amanhã. Cada personagem tem um “super golpe” diferente inspirado num combo da versão PlayStation. Dito isso a coisa varia bastante conforme as personagens de tal maneira que enquanto uns são praticamente imparáveis, ao estilo de Law e Hayashi, outros são perfeitamente inúteis como é o caso dos “super golpes” de Nina ou Kazuya. Porque o jogo resume-se a duas personagens a repetirem o mesmo movimento até um optar pela horizontalidade, cria-se uma estranha lógica de pedra papel tesoura em que um lutador poderá ser perfeitamente inútil contra um e o calcanhar de Aquiles de outro. Por exemplo o super golpe de King que consiste em saltar para cair em cima do adversário é algo que praticamente nunca funciona menos contra Hayashi e o seu “super golpe” que habitualmente acaba com qualquer adversário. Tudo isto torna o jogo bastante fácil se optarmos por efetuar as trocas necessárias conforme as nossas dificuldades… Talvez seja por isso que os criadores resolveram criar um limited continue… Num jogo de porrada… Está certo.

Tekken 3 Special (Mega Drive)

O Tekken 3 de necessidades especiais é na verdade um Tekken 2 mas com o Yoshimitsu. Lembravam-se que não aparecia no Tekken 2? Eu não. Ninguém se responsabiliza por este bootleg de Mega Drive e com razão: É impossível de jogar. Não que haja qualquer impeditivo em carregar botões com consequências na imagem do televisor… O que o torna impraticável é que o jogo está quebrado ao ponto de o tornar insuportável em poucos segundos.

Há ataques especiais programados mas esqueceram-se de lhes colocar uma combinação executável com o comando. Resultado enquanto a IA adversária faz a Nina inundar-nos de hadoukens e o Lee de Sonic Booms (tal como acontece nos jogos originais como é sabido) é nos impossível fazer o mesmo. Existe um botão para bloquear ataques mas o bloqueio não funciona. Levantar-se do chão implica uma cambalhota que nos direcione irremediavelmente para o punho do adversário. Apesar de o menu option permitir escolher a dificuldade, tal não tem qualquer repercussão no jogo. Não consegui passar do primeiro combate. Estranhamente há algo bem pior do que isto tudo neste Tekken 3 Special. Estão a ver a barra de vida? Neste jogo a barra vai de vermelho para verde!! OH QUE CARA…

Taken 2 vs VR Fighter 2 (Mega Drive)

Nos dias do Tekken sempre nos aparecia, mais tarde ou mais cedo, o gajo da Sega que fazia questão de colocar os pontos nos is: Virtua Fighter é bem melhor e chegou primeiro, Tekken é só uma cópia. Estes tipos por mais que pudessem ter alguma razão raramente tinham amigos. Anos mais tarde alguns reconverteram-se aos Dead or Alive para continuar o seu processo de marginalização. Outros ainda não ultrapassaram a morte da Dreamcast e estarão certamente presos a uma sessão semanal de Jet Set Radio para o resto dos seus dias…

Baseado no Tekken Special, este crossover consegue ser um pouco melhor (não é difícil) e recupera grande parte dos sprites substituindo os specials por um ataque construído a partir do pressionar de um mesmo botão 3 vezes seguidas… É sempre melhor do que ter um golpe impossível de ativar.

O problema do bloqueio persiste e continua a não funcionar e o pontapé mais salto implica um timing improvável que ainda não consegui racionalizar.

A representação das personagens é muito desigual. O único ponto positivo de Tekken 3 Special era o de ter algumas personagens bem reproduzidas. Neste jogo optou-se por adicionar as personagens de Virtua Fighter sem grande consideração pelos critérios de estética… Aliás nem o critério temático é consistente pois temos aqui duas personagens oriundas de Fighting Vipers (Honey e Bahn).

Este jogo até poderia ter algum potencial não fosse uma combinação de fatores que permite fazer “batota”. Basicamente as arenas não são fechadas e portanto é possível recuar/avançar eternamente. Basta atingir o adversário e recuar sem parar – dificilmente conseguem seguir-nos devido a movimentação lenta- até chegar o time out e ficar com a vitória. O processo é ainda mais facilitado tendo em conta a IA que sofre da doença dos pianistas afro-americanos e vai dando golpes no ar tal como o Van Damme no Bloodsport. Experimentar este jogo até pode ser uma experiência pedagógica. Porque é que a deslocação num 2d game é tendencialmente mais rápida do que num 3d? Porque as arenas são limitadas por muros invisíveis? Este jogo dá nos a entender a importância destas pequenas coisas.

Tekken 2 (SNES)

Não consegui jogar a este jogo. Desesperei ao alternar ROMs e emuladores na esperança de que um pudesse funcionar. Reza a lenda que este jogo vinha com uma proteção contra a cópia e isso criou montes de ROMs impossíveis de jogar… Proteção contra a cópia… Num bootleg SNES!

O Youtube tem uns quantos sortudos a terem tido a possibilidade de ir para além da selecção de personagens ou porque tiveram acesso a um cartucho original ou porque conseguiram a ROM certa. Naturalmente não tenho a possibilidade falar deste jogo com grande exatidão mas os poucos vídeos que eu vi deixam entender que este não passa de um Tekken 3 Special ligeiramente mais arrojado. O Conjunto visual é bastante conseguido mas reconheço facilmente um gameplay pesado e pouco reativo quando o vejo. Todos os que experimentaram o jogo confirmam esse gameplay sofrível e não tenho nenhum elemento para os desmentir… A life bar vai de verde para vermelho… Dificilmente será pior que Tekken 3 Special.