Quando me pediram para testar um horror game, género que não estou de todo familiarizado, preparei o meu melhor par de boxers Calvin Klein para umas horas de escuridão, jumpscares, gente a berrar, criancinhas com eyeliner e chegar ao fim e dizer “Nhe, jogos de computador não me assustam”.

Não encontrei nada disto.

Assustei-me na mesma

Bem-vindos a

Já podia ter feito este artigo há bastante mais tempo, mas penso que o meu primeiro passeio por este jogo feito pelo nosso compatriota Rúben Pereira merecia um segundo olhar, porque aquando da versão alpha ou beta que testei uma das janelas mais comuns foi esta

A Demon’s Game foi dos poucos jogos que conseguiu alterar o meu ritmo cardíaco, mesmo depois de eu ter entrado com a mentalidade de maior da minha aldeia, de que isto é um jogo e não dá para me assustar.

A alma e força deste primeiro episódio da saga, na minha sincera opinião não são os puzzles, a história (apesar de interessante), nem os gráficos (bastante aceitáveis, com um feel muito Half-Life 2esco) mas sim o ambiente, a imersão que sentimos a cada segundo de jogo.

Começámos logo com uma introdução à história pela voz do Diabo em pessoa, (Lucy para os amigos) que nos explica que ficou sem paciência para andar atrás dos seus demónios mais rebeldes e relega-nos essa árdua tarefa.

Todo este diálogo inicial é-nos entregue numa sala vermelha cheia de crucifixos, símbolos utilizados maioritariamente por fãs de entroncamentos, ou da letra T maiúscula.

Aqui gostei especialmente do voice acting e sentido de humor do Lucy.

Após descobrirmos alguns pormenores sobre o primeiro demónio que teremos que enfrentar, somos largados suponho que pelo sistema de controlo sanitário do Inferno e acabámos nos esgotos, local de residência do nosso alvo.

Outra coisa que ajuda imenso o sentido de que estamos “dentro” do jogo, (factor essencial para este género, pois se o jogador não sente que está lá o objectivo do jogo perde-se) foi a interface, ou diga-se, a falta dela. Apenas contamos com o indicador da bateria da lanterna (e só quando esta está ligada), todo o nosso ecrã é o ambiente, não há mãos, armas, indicadores de vida, tempo, munições, fome, contador para o próximo jogo da seleção, nada.

Isso faz com que esta pequena passagem pelos esgotos de A Demon’s Game seja mais um Eu jogador, do que um Eu personagem.

Ao longo desta primeira fase inicial, vamos tendo alguns puzzles, que tenho que ser sincero pecam um pouco pela simplicidade, andando maioritariamente no vai-buscar-isto-aqui-e-leva-aquilo-para-ali-para-poderes-carregar-acolá-para-abrires-adiante-uma-manivela-que-desbloqueia-uma-porta-além.

Havia por exemplo uma sala com tubos que tínhamos que organizar para formar uma palavra, mas provavelmente aselhice minha não fazia a mínima ideia disso simplesmente carreguei na tecla E, enquanto andava feito barata tonta para a frente e para trás e aquilo lá se organizou.

Fiquei com a ideia que alguns puzzles tinham demasiadas dicas (spoiler : como é que vamos magoar este demónio? Se calhar indo buscar uma corda e uma catana conseguimos ativar aquele elevador avariado e fazê-lo cair em cima do bicho) e outros estavam no pólo oposto na medida em que acho que só os resolvi porque calhei de passar no sitio que era preciso sem querer antes.

Nada como estar descansadinho da vida, a fazer a leitura de cartas deixadas em vários tipos de letra diferentes pelos antigos habitantes e amigos destes e de repente toda a banda sonora tornar o ambiente tenso de um segundo para o outro.

AVISO! (Ou se preferirem um tom passivo-agressivo – CONSELHO!)

Joguem este jogo com auscultadores, ou colunas nas alturas (não me responsabilizo). Vão ficar inquietos, com medo de olhar pelos cantos, a banda sonora é fantástica e leva toda a imersão de A Demon’s Game a um novo nível.

Preparem-se para se encostar à cadeira, para ouvir a vossa própria respiração e preparem-se para que não passe uma ervilha no vosso próprio sistema de saneamento biológico.

Cada vez que o demónio aparecer (mesmo este não sendo sequer visualmente mais assustador que a Lindsay Lohan quando foi para reabilitação) a banda sonora vai-vos aumentar o ritmo cardíaco.

Quando este pequeno senhor põe olhos em ti não há muito a fazer, por mais Benny Hill que se ouça, por mais rezas ao nosso senhor dos bugs que se façam, ele vai acabar a apanhar-nos, portanto mais vale esperar pela morte certa e da próxima ter mais cuidado e andar pela sombra ou não fazer tanto barulho.

Em suma foi uma experiência interessante, apenas foi lançado o primeiro episódio mas já fica material muito bom para os próximos.

A história não soa a cliché e cria interesse, os puzzles podiam ser melhores, mas não são entediantes, tinha aqui mais um ponto a acrescentar quanto à confusão que é navegar naqueles esgotos mesmo com mapas na parede, mas eu perco-me na minha própria rua portanto vou culpar isso na minha aselhice geográfica.

Podem e devem visitar a página Steam do jogo quanto mais não seja para ajudar o panorama nacional a andar para a frente. O jogo custa menos que um menu Big-Mac e se o jogarem vão perder a fome portanto se o comprarem estão efectivamente a poupar dinheiro.