Alguns dos cartões telefónicos a que me vou referir neste artigo. Os mais baratos pós-euro de que me recordo são da quantia de 3€.

Já faz algum tempo desde a última vez que carreguei um telemóvel com saldo, devo agradecer esta realidade aos tarifários pré-pagos. Artefactos ainda mais precursores a esta forma de transformar dinheiro em minutos de conversa são os cartões para as cabines telefónicas. Estes possibilitavam um número de minutos limitado de conversa com amigos e familiares e possuíam ilustrações bonitas (algumas exclusivas, que davam um carácter colecionável a estes objectos). Cada um tinha um custo atribuído e a cada valor correspondia uma quantidade de impulsos, que determinavam o tempo de utilização de uma cabine telefónica. Entretanto, todas as cabines de que me recordo foram retiradas ou não estão em funcionamento neste momento.

De valor inferior ao cartão de impulsos mais barato que me recordo foram estes dois indies publicados pela Sometimes You. Save the Ninja Clan saiu a dia 20 de Janeiro do presente ano e está disponível pela módica quantia de 0,99€, ao contrário de NeverEnd que custa a exorbitância de 1,99€ e está disponível desde 16 de Fevereiro. Ambos disponíveis para PC e Mac no Steam. Mas valerá algum destes a pena?

Save The Ninja Clan

Save the Ninja Clan é um platformer onde controlamos um ninja em busca dos seus amigos, sequestrados por um ninja maléfico. Sendo o argumento tão complexo como este jogo está polido, existia imenso espaço para apresentar a história de forma mais original do que na página da loja do Steam, principalmente quando em detrimento disso procuram partir a quarta parede construindo bugs para nós encontrarmos e progredirmos mais rapidamente no jogo. Save the Ninja Clan resume-se a um jogo de plataformas que aspira um nível de dificuldade acentuado, deixando a porta aberta para todos os que desejarem lutar por tempos recorde (apesar de também não ter leaderboards para o fazer). Conta também com um estilo artístico banal, roçando tanto o pixelart como algo desenhado exclusivamente por polígonos de cantos arredondados no MSPaint, e com uma banda sonora igualmente humilde. Falta também referir que, por muito que queiramos fechar os olhos, alguns dos níveis são cópias autênticas de outros de Super Meat Boy. Por noventa e nove cêntimos, talvez ser um esbanjador e gastar mais um cêntimo num cheeseburger do McDonalds não compense assim tanto, mas a verdade é que certamente encontrarão alternativas a Save the Ninja Clan gratuitas, na internet. E talvez melhores.

Save The Ninja Clan

Neverend é, para aqueles que forem persistentes e tiverem paciência, na melhor das hipóteses, um jogo para ocupar duas ou três tardes. Consistente, apresenta um bom desafio para aqueles que não têm problema com padrões de ataque extremamente previsíveis mas lentos, um pouco à semelhança dos jogos mais castigadores da última década. E como castigador este jogo é!

Neverend

Neverend é um rogue like dungeon crawler top-down à lá The Legend Of Zelda, só que com tank controls e a metade da velocidade. O jogo decorre numa grelha de salas quadradas adjacentes que são reveladas à medida que nelas progredimos. Existem vários tipos de inimigos espalhados por estas salas, inimigos esses que são desenhados de forma variada, com propriedades diferentes como tantos outros jogos nos ensinaram a fazer (procurar por Orthogonal Unit Differentiation). Temos também lutas com mini-bosses e pequenas lojas para satisfazer os nossos gostos consumistas. Ainda assim, no momento em que Neverend me agarrou logo me fez desistir. Visualmente não repulsivo. O mesmo se pode dizer da banda sonora na primeira ou segunda hora de jogo (talvez menos).

Neverend

Porém, para estares aqui, a ler isto, talvez não saibas o que procuras, mas sabes que estás a procurar. Bem: digo, longe de arrependimentos, que se procuras o que tens a fazer é parar de o fazer. Pára de procurar e talvez encontres. Porém, se achas que encontraste e se chama Gustavo Santos, talvez seja melhor ganhar distância. Ver uns episódios de Contemporâneos talvez ajude.