Caçada semanal #69

Crédito: Ferdinand Choffray

Abrindo já aqui o jogo (não literalmente), o aluno do Professor Machado que o contactou para saber afinal qual o jogo da NES em que controlávamos um casal ao mesmo tempo, mas de forma simétrica, fui eu. Binary Land é um puzzle game mecanicamente interessante e ao qual eu nunca dei o devido valor quando o joguei à volta dos meus 6 anos de idade. Mas olhando agora bem pare ele percebe-se o quão inteligentemente simples são as mecânicas do jogo, e ainda mais por percebermos que já lá vão 34 anos desde que foi criado.

Sentir o quão bem-pensadas estavam as mecânicas desta jóia quase esquecida da NES e perceber a influência que ainda pode sofrer em alguns jogos indies contemporâneos é sem dúvida um elemento de surpresa, e de reconhecimento do mérito do subvalorizado jogo da Hudson Soft.

Semispheres

Não propriamente com uma linha de pensamento (e de charneira), Semispheres surpreendeu-nos pela verdadeira surpresa que trouxe e as voltas ao cérebro que nos conseguiu dar.

Entre um misto geométrico de dois mundos paralelos mas simultaneamente simétricos, Semispheres coloca-nos a controlar duas esferas coloridas em simultâneo: uma laranja, na metade esquerda do ecrã, e uma azul na metade direita do mesmo. O objectivo de cada puzzle é conduzir as duas esferas ao mesmo ponto nos seus lados respectivos, como se fizéssemos uma sincronização/união das duas esferas em dimensões paralelas.

Com mecânicas curiosas e aberturas para as duas dimensões, e múltiplas formas como uma esfera consegue influenciar o “mundo” da sua simétrica, é verdadeiramente deliciosa a forma sucinta como Semispheres nos consegue dar verdadeiros nós no cérebro, e testar a nossa perícia e controlo mão-olhos levado ao extremo, com um exercício de puzzles digno de um baterista.

É que a esfera laranja é controlada com o analógico esquerdo do ecrã e a azul com o direito, e termos de resolver os cada vez mais complexos puzzles a controlarmos ambos em simultâneo é o equivalente (para quem já se sentou num banco de uma bateria e tentou tocá-la) como se tivesses de dividir o nosso cérebro a controlar as duas mãos de forma distinta e tocar ritmos diferentes, um em cada mão.

Um dos puzzle games mais inteligentes que já conhecemos, na sua simplicidade e a forma inventiva como se consegue destacar com um visual bastante depurado, mas com uma linguagem e mecânicas que nos marcam, quase tanto como Binary Land, uma das mais óbvias inspirações para este jogo.

Death Squared

Peguemos no desafio de Binary Land, ou mesmo de Semispheres e desmultipliquemo-lo numa mecânica cooperativa, em que necessitamos obrigatoriamente de outro jogador para conseguir resolver os desafios que nos são apresentados. Isso é Death Squared.

Um puzzle game notoriamente feito para se jogar, cooperar e dialogar com amigos, Death Squared traz-nos um 2 Players e um 4 Players Story Mode, trazendo para o level design uma miríade de armadilhas e handicaps que temos de conseguir resolver em conjunto.

É interessante como, numa fase em que tantos puzzle games chegam ao mercado, e quase todos destinados a experiências a solo, um jogo como Death Squared decide embaralhar as cartas e voltar a dá-las soba forma de um jogo que nos obriga a raciocinar em conjunto com outros jogadores, para resolver cada um dos níveis e levar os nossos protagonistas – até quatro cubos robóticos coloridos – às respectivas metas. O nível de diversão é ainda mais elevado já que é possível, voluntária ou involuntariamente, conduzir ou levar os nossos colegas cúbicos à morte.

A estruturação dos perigos de cada nível são impressionantes, e facilmente nos surpreendemos com a diversidade e a complexificação crescente que os níveis vão tendo progressivamente.

Os respectivos lançamentos de Death Squared e Semispheres demonstram o quanto é possível é inovar a partir de uma inspiração única, e se por um lado desmultiplicámos a tónica dos puzzle games em vários pares de mãos, em outro trazemos a noção de simetria do nosso cérebro e do controlo das nossas mãos em separado. E são sem dúvida duas excelentes propostas que o mercado indie nos trouxe neste primeiro trimestre para o género sempre preenchido dos puzzle games.