Antes de avançar quero dizer que a Microsoft perdeu a oportunidade para chamar a nova consola de Xcorpio… Ainda vão a tempo! Estão a ouvir?!

Agora que a poeira assentou, achei boa ideia esmiuçar o que penso sobre o assunto. O marketing em volta de algo que é “a consola mais poderosa” é algo que não é novo, na era dos bits o número mais alto era para fazer vista, e quando se ultrapassou a contagem “matemática” passou-se para adjetivos pujantes.

Os Americanos gostam de tudo o que é grande, isso é sinonimo de qualidade, mas sobretudo de riqueza, numa cultura que se concentra religiosamente no mérito sagrado de que ser rico é ser-se abençoado. A primeira consola da marca Xbox era grande, sobretudo porque era mais um PC que uma consola, não sendo propriamente a primeira a usar hardware de PC foi a que teve mais sucesso dentro a arquitetura x86. Depois da Dreamcast ter iso desta para melhor e os seus cérebros na sua maioria terem migrado para a Microsoft, pariram uma máquina que tinha como objetivo, retardar o monopólio da PlayStation, mas tinham que ter alguma coisa que se destacasse… E o que foi? O que foi? Poder, tamanho e jogos viris, sobretudo para o público adolescente em idade para ir para tropa e sobretudo Americanos!

Bem cedo perceberam que se queriam conquistar todos os mercados teriam que ter jogos para todos os gostos e de certa forma durante algum tempo a consola recebeu muitos bons jogos mas sobretudo da Sega e das grandes editoras Americanas que ainda tinham depositado esperança em ver uma consola Americana voltar a dominar o mercado depois da Invasão dos chineses da ilha! O orgulho nacional estava em alta.

Não quero aqui contar a história toda, sabemos que a consola não atingiu o objetivo, a PlayStation 2 foi e ainda é a consola caseira que mais vendeu, a Gamecube da Nintendo devido a alguns erros estratégicos não conseguiu acompanhar e até teve um catálogo bastante rico e quanto a mim superior à primeira Xbox, mas ficou-se pelo 3º lugar da corrida.

A Microsoft vira-se para o seu plano B e a consola é sacrificada prematuramente para arrancarem cedo com a nova geração, e assim surge a Xbox 360, uma consola bem planeada para tomar de assalto e dominar o mercado. Correu quase tudo bem, a consola não era cara, o target estava estudado e tinham muitos acordos, metade da vida da consola receberam exclusivos que apelavam tanto a um público europeu como americano. Do lado da Ásia não correu bem por diversas razões mas pelo menos não desistiram. Mas o plano não correu tão bem assim, nos primeiros 3 a 4 anos as consolas mostravam defeitos e/ou erros de conceção, o mais conhecido foi o que originou o sobreaquecimento da consola que dava aquele erro conhecido como RROD (Red Ring of Dead), estimou-se que cerca de 50% aproximadamente das consolas bateram as botas umas prematuramente outras durante os meses seguintes ao lançamento. A Microsoft durante os primeiros dois anos sempre negou o problema mas não conseguiu esconde-lo e teve que resolve-lo. Apesar de terem levado algum tempo, até resolveram a questão bastante bem. A consola é uma das com maior sucesso mesmo apesar dos infortúnios e apesar de terem deixado de receber exclusivos em grande quantidade e qualidade a meio do seu tempo de vida, o que fez a concorrência directa (PlayStation 3) os ter apanhado em números, ambas as consolas estarão separadas por uma diferença mínima de 1 a 2 milhões de consolas tendo a PS3 conseguido passar a meta tal qual a história da lebre e da tartaruga. Ainda assim a Xbox 360 vendeu mais software.

Chegamos à nova geração e passaram-se coisas que me recordam que esta indústria não aprende com os erros, aparentemente dizem-te que aprenderam, mas numa altura que estejam mais folgados: PIMBA! A Sony com o seu excesso de confiança devido ao estrondoso sucesso e fartura da PlayStation 2 pensou que os consumidores iriam comprar cegamente outra consola apenas porque era uma nova PlayStation, e pensaram “vamos fazer uma coisa maior, porque maior significa melhor!”. Bem a coisa esteve quase tornar-se um completo desastre. Com a Microsoft aconteceu o mesmo, depois da Xbox 360 toca de meter o preço mais alto que podemos e encher aquilo de tralha, eles compram e eles tão “leais” à marca vão aceitar todos os termos que lhes metermos à frente! Bem não resultou, o público está mais informado dos seus direitos.

Já passamos metade desta geração e a consola ainda não se estabeleceu bem em relação à sua concorrente direta, apesar dos diferentes modelos, os exclusivos são poucos e mais do mesmo no geral. A Sony viu a oportunidade a aproveitou-a, deixou de se focar na superioridade técnica e focou-se em ter exclusivos, fator que ainda vende consolas e que é eliminatório na escolha dum produto porque é mais fácil escolher uma máquina que além de ter todos os jogos de terceiros ainda tem coisas novas e o atual sucesso da PlayStation 4 é indicador do que o mercado hoje quer!

Xbox Scorpio

Finalmente cheguei aqui, ao que interessa. O que penso disto?

A meu ver a Microsoft perdeu um bocado o rumo, e arrisca no que sabe fazer: coisas à grande e à Americana! O que pode correr mal aqui é que sabe-se que não basta ter um bom hardware sem que se tenha software que compense e atraia a sua aquisição. A Microsoft já viu isso e desculpa-se com o preço “premium”: é um produto especifico para quem quer a última tecnologia, nomeadamente dos 4K. Tenho duvidas que isso resulte, será um nicho, porque é preferível ter um PC aberto do que algo fechado e extremamente restritivo. O sucesso da consola vai continuar a estar dependente dos jogos.

E as especificações técnicas?

Aqui não há muito a argumentar, a consola vai ter um hardware bastante poderoso mesmo comparado com PCs modestos, mas para PCs high-end continua a ser uma formiga.

Não vou entrar em detalhes mais do que foi dito e repetido por diversas fontes, falando de forma básica e simples o que mais interessa: o poder gráfico está ao nível duma GTX 1060 e RX 480 que é já respeitável, mas que no PC não é o suficiente para correr jogos 4K a 60 fps quanto muito 4K em definições médias ou baixas. Esqueçam isso num PC equiparável a correr qualquer jogo recente com 60 fps estáveis e definições no ultra. Mas o que aqui pode ser decisivo é a otimização que as consolas gozam, poderá ser possível atingir essa meta em jogos bem otimizados com motores de jogo que sejam prata da casa, os multi plataforma de terceiros será uma situação diferente e termos que esperar para ver.

O problema/problemas?

Já falei da questão do software, não basta um carro com motor e rodas, se não tiver combustível só anda se o empurrarem dum penhasco..

Números largos não significam muito se não existir otimização, até nos Pcs isso ocorre, temos gráficas de topo de gama que tem mais de 5 anos com grandes números mas que o seu desempenho é inferior a gráficas de media gama com números mais modestos, e isso duma forma para português entender, é algo que depende sempre da otimização do software.

Do que já sabemos e que não é já bom indicador é que poderá existir um bottleneck de memória idêntico à Xbox One, mas isso só acontecerá em jogos que sejam compatíveis entre ambas as consolas e isso vai ser difícil de gerir (dito pelos próprios), portanto não estou aqui a inventar algo de novo.

Os técnicos que projetaram a consola estavam entre a espada e a parede: por um lado tinham que assegurar uma retro-compatibilidade e por outro tinham que projetar algo mais poderoso, dum lado vemos um bom iGPU e RAM em abundância, mas por outro lado vemos o mesmo CPU com apenas um aumento da velocidade de relógio que dada a arquitetura em questão não vai resolver o desequilibro totalmente.

O último problema que será o mais decisivo a seguir ao software é o preço, se a consola ultrapassar a margem dos 400€ podem ter a certeza que será quanto muito um artigo de nicho para enfeitar prateleiras das lojas. Por outro lado, se a Microsoft suportar o valor elevado e vender abaixo do custo vão ter que suportar prejuízos semelhantes ao que suportaram no passado e que quase sacrificaram o departamento, cuja extinção é desejada por muitos investidores e diretores da empresa ainda.

Resta esperar e observar, espero que não seja o caso dum escorpião a cometer suicídio quando se vê encurralado entre o fogo. Desejo no fundo muito sucesso, até porque sem competição e concorrência perdemos todos. A diversidade é o melhor motor para que existam produtos de qualidade e sobretudo inovadores.

Esperem para ver e elevem os vossos “padrõezinhos”, que o hype está altinho.