Muito se tem falado sobre o “jogo” Baleia Azul, sendo pertinentes todas as explicações, clarificações e alertas possíveis sobre este fenómeno.

Contextualizando os menos informados sobre o assunto,o “jogo” Baleia Azul é um jogo nascido na Rússia, tendo começado por ser alegadamente distribuído na rede social vKontakte. Neste “jogo” os seus participantes são convidados a participar, normalmente através das redes sociais, com recurso a ameaças dos administradores ou “curadores”, como assim se denominam. Estes dão a ideia aos participantes de que sabem tudo sobre eles e sobre as suas vidas, ameaçando fazerem-lhes mal caso eles não participem no “jogo”. Neste os jovens “têm” de realizar uma série de actividades que envolvem auto-mutilação, desenvolvimento de rotinas prejudiciais e por fim o suicídio. Não tendo como objetivo repetir muito daquilo que já tem vindo a ser falado pelos Media entre outras Entidades, este é realmente um fenómeno com contornos graves, chegando a mais de uma centena de mortes, facto que tem vindo a criar um pânico generalizado Mundo fora, algo compreensível tendo em conta a situação existente.

O “Jogo” Baleia Azul tem sido definido como um provocador de mutilações intensas e suicídios, estimulando os jovens a comportamentos de elevado risco. Porém será que é o jogo em si que leva os jovens a cometerem tais atos a si mesmos? Verificou-se ainda que os jovens são persuadidos e levados a acreditar que têm pouco valor, que “são gordos”, que “são falhados” e que estão inseridos num grupo de escolhidos. Porém será que isto seria o suficiente para levar uma pessoa a cometer atos tão graves com relação à sua integridade física e psicológica? O que leva um jovem a submeter-se a uma atividade deste tipo e a realizar este tipo de atos contra si mesmo?

Penso sinceramente que este fenómeno gravíssimo chama à atenção do Mundo, não ao quão problemático o “jogo” pode ser (apesar de o ser), mas acima de tudo ao quão importante é investirmos para um bom desenvolvimento de saúde mental. Este fenómeno é um reflexo de que algo deve ser feito para a existência de uma maior identificação, desenvolvimento e promoção de inteligência emocional, prevenindo situações de risco de patologia mental, na qual se enquadram quadros depressivos, distúrbios de personalidade, entre outros. Não é por acaso que Fernanda Fernandes, profissional do Departamento de Repressão aos crimes Informáticos do Rio de Janeiro, referiu que a maioria dos convidados a participar no jogo eram jovens dos 13 aos 14 anos com tendências depressivas.  A verdade é que alguém saudável psicologicamente e com uma série de fatores protetores com: um bom pensamento critico, auto-estima bem limada, motivação para os seus projetos futuros (se os tiver definidos), ativa vida social, rede familiar estruturada, entre outros, caso visse uma mensagem de um administrador do jogo a dizer “Desenha uma baleia com uma faca no teu braço”, o mais provável seria dizer “Nem pensar, que parvoíce… vou parar já de jogar isto. Vou levar isto à policia ou mostrar aos meus pais”. Somos seres humanos e apesar de tudo temos livre arbítrio e sentido critico, o que faz de nós pessoas capazes de escolher aquilo que é melhor para nós independentemente daquilo que nos é pedido. Ainda assim existem fatores como o medo, que afetam principalmente os mais novos, e os levam a acreditar que a única solução será jogar o “jogo”, aliando esta atitude às crenças negativas que têm com relação a si mesmos e que consequentemente são alimentadas pelos administradores do “jogo”.

Não é por acaso que a Organização Mundial de Saúde tem vindo a realçar a Depressão como uma das perturbações que mais afeta a população mundialmente, exigindo atenção redobrada por parte dos profissionais de saúde, mas principalmente das pessoas ainda muito condicionadas pelo estigma relativamente à perturbação mental. Estima-se que são mais de 300 Milhões de pessoas as que vivem com depressão, tendo existido um aumento de 15% da população deprimida de 2005 a 2015. Estes são porém os casos conhecidos, sendo que ficam ainda por apurar todos os casos de pessoas que não procuram ajuda de um especialista para poderem superar esta perturbação. A Depressão caracteriza-se de modo sintético por uma perturbação que integra tristeza constante, falta de motivação para as atividades diárias, levando as pessoas muitas vezes a um estado incapacitante, que no seu extremo poderá levar a tentativas/concretização de suicídio. Nesta doença a auto-estima é uma das variáveis penalizadas, levando a pessoa a pensar em si e na sua vida de um modo bastante negativo. Numa sociedade em que cada vez são maiores as pressões e dificuldades sociais, académicas, profissionais, etc. torna-se também mais exponencial a incidência deste tipo de casos, tornando as pessoas mais frágeis e susceptíveis ao sofrimento e ao comportamentos de risco.

Em Portugal verifica-se em média que anualmente cerca de 400 000 Portugueses vivem em Depressão, sendo este um dos Países com taxa de incidência mais elevada. Sabe-se ainda que 70% dos casos de suicídio existentes em Portugal são devido a Depressão e a verdade é que cerca de um terço das pessoas que estão com Depressão não estão a obter o acompanhamento e tratamento que necessitam, quando se o fizessem teriam uma taxa de sucesso de 70 a 80% do seu tratamento. Ao longo dos anos tem-se também vindo a verificar um número mais elevado de suicídios, tendo estes passado de 951 a 1154 do Ano de 2011 a 2014, segundo o INE. Sendo assim, sem dúvida estamos perante uma doença séria, com grave impacto na vida das pessoas e que perante a sua fragilidade torna estas mais suscetíveis ao desenvolvimento de atos prejudiciais à sua saúde psicológica mas também física.

Um jogo como a Baleia Azul é sem duvida um projeto psicopático que de modo “impessoal” estimula o sofrimento já existente em pessoas que por si só, por diversos motivos possíveis descritos abaixo, já integram alguma fragilidade ao nível da sua vivência pessoal, fazendo-as perder o sentido critico e alimentar sentimentos negativos com relação a si mesmos. Sendo os jovens cada vez mais pressionados pelas exigências da sociedade vigente, tendo o seu futuro cada vez mais ligado ao sabor de uma maré pouco previsível, por vezes com pobre acompanhamento familiar e pouca vida social, tal leva a uma maior suscetibilidade a este tipo de atividades de risco, que já verificámos noutro tipo de jogos como a Roleta Russa, por exemplo. Um jovem com alguma fragilidade torna-se um alvo fácil aos criminosos que fazem este jogo existir, sendo importante a atenção por parte dos encarregados de educação quanto à saúde mental dos seus educandos, assim como com relação a outros comportamentos de risco, estabelecendo cuidados e uma relação de confiança com os mesmos, que previna o fácil acesso a atividades deste tipo e a uma ausência de comunicação quanto ao que se está a passar na sua vida.

Realmente é possível que seja Incoerente dizer-se que o Jogo Baleia Azul é o derradeiro ou mais importante provocador dos comportamentos de risco, sentimentos depressivos e suicídio, embora seja um estimulante imediato a estes comportamentos e consequências. Existe então uma problemática mental prévia que condiciona o jovem a sentir que aquele jogo é pertinente de ser jogado por si, realizando as atividades lá sugeridas. Tal pode ocorrer seja por sentimentos depressivos condicionados por fatores contextuais (ex. problemáticas familiares, escolares, sociais) ou de personalidade, seja por desejabilidade social “vou jogar para ser aceite no meu grupo e provar que sou forte”, à semelhança de outros comportamentos de risco habituais na pré-adolescência e adolescência que muitas vezes envolvem também algumas problemáticas depressivas, medo da rejeição ou/e auto-culpabilidade. A ingenuidade particular destas idades aliada ao medo de perda relativamente às pessoas que amam ou de estarem a ser controlados, unidos a uma fraca confiança familiar e alguma fragilidade psicológica, podem de facto levar um jovem a facilmente ser manipulado, tornando graves as consequências, e tornando importante a atenção de todos quanto a esta situação.

Sendo assim torna-se importante consciencializar jovens e famílias à importância de contacto com um Psicólogo para a realização de Apoio Psicológico ou Psicoterapia, aliada se necessário também ao contacto com um Psiquiatra em casos mais agravados, caso detetem que algo poderá não estar tão bem. A prevenção e atuação perante a Depressão e outras perturbações mentais é importante e existem momentos na nossa vida em que precisamos de apoio, não sendo por isso “malucos”. A nossa saúde mental é tão importante quanto a nossa saúde física e ambas estão estreitamente interligadas, sendo por isso importante a procura de ajuda e a prevenção de fenómenos como o tristemente ocorrido com o Jogo da Baleia Azul para diversos jovens.

Importa ainda realçar a existência de várias Linhas de Apoio que qualquer pessoa pode ligar no caso de estar a precisar de ajuda de modo bastante urgente ou encontrar-se com pensamentos suicidas fortes:

SOS VOZ AMIGA – diariamente das 16h às 24h, um serviço tutelado pela Liga Portuguesa de Higiene Mental (IPSS).
Telefone: 21 354 45 45 | 91 280 26 69 | 96 352 46 60
Email: direccaolphm@gmail.com

VOZ DE APOIO – todos os dias das 21h às 24h
Telefone: 225 50 60 70
Email: sos.vozdeapoio@sapo.pt

SOS – Serviço Nacional de Socorro
Portugal, Europa
Tel: 112

Por fim trago-vos um vídeo de um youtuber brasileiro conhecido (principalmente pelos mais novos), que apesar de ser um comediante, apresentou há pouco tempo um vídeo sério sobre esta temática que considerei bastante pertinente e vai de encontro ao que vos tencionei transmitir neste artigo.