Quando LEGO CITY Undercover saiu pela primeira vez o meu filho estava a um mês de nascer. Mal saberia eu que a versão remasterizada acabaria por sair quase quatro anos depois fora da exclusividade da Wii U e que seria com ele que a análise seria feita.

Justiça seja feita, com a chegada da cópia de análise de LEGO CITY Undercover, o mais normal era pedir à pessoa que mais horas acumuladas nos jogos da Lego tem nos últimos meses, e surpreendentemente o meu filho é capaz de estar empatado comigo. Especialmente porque os jogos da Lego são um dos grandes momentos de partilha videolúdica que temos um com o outro, e decerto que os jogos da TT serão daqueles que servirão de pedra basilar ao seu crescimento enquanto jogador. É claro que para isto muito contribuem os 100% alcançados em conjunto em Lego Marvel Avengers, Super Heroes, Batman 1 a 3, Lego the Movie the Game e as 180 horas em Lego Dimensions ao longo de 2 anos e meio, como a Sony PlayStation tão simpaticamente me lembrou. Temos aqui um expert em jogos da Lego com pouco mais de 1 metro de altura.

A análise que se segue serve de diálogo crítico entre mim e o meu filho que fará 4 anos na próxima semana. As citações são ipsis verbis dele.

“Gosto muito porque temos todos os bonecos de Lego City.”

LEGO CITY Undercover não podia retirar aquela que é a mecânica base de todos os jogos da Lego: a capacidade de personagens diferentes terem habilidades distintas. Mas aqui é o protagonista, o heróico polícia Chase McCain quem tem a possibilidade de vestir “disfarces” que lhe conferem “poderes” únicos. Mascarado de ladrão consegue arrombar cofres e caixas multibanco, com uma roupa de mineiro consegue partir pedras e usar explosivos. Todas as profissões ou personagens que possamos imaginar e que compõem esta fantástica cidade estão disponíveis para serem encarnadas pelo nosso intrépido polícia, que apesar de manter a tónica de todos os jogos da Lego, dá-lhe um pequeno twist (que lembra os fatos do Batman e do Robin nos três Lego Batman).

“Gosto muito do Chase McCain porque ele ajuda toda a gente”.

LEGO CITY Undercover é o GTA que todos deveriam comprar para a família. Deveria existir uma espécie de entidade sobrenatural que se materializava no ar e pregava uma valente bofetada a alguém que proferisse frases como “vou comprar o GTA V para o meu filho pequeno porque aquilo dá para fazer tudo” ou “o meu filho de 10 anos quer o GTA V e eu acho que vou comprár-lio” (sic) (notem que aqui a bofetada é dupla pela parvoíce de pôr um miúdo a jogar GTA e pelo assassinato da língua portuguesa.

OS PEGIs existem por alguma razão, e se querem um mundo aberto onde podem fazer tudo, mas num sentido divertido e bem.intencionado, retiramos o protagonismo a criminosos e colocamo-lo sobre os ombros de  um polícia. É claro que em muita coisa as falhas de LEGO CITY Undercover o colocam numa fasquia técnica e mecânica abaixo de GTA V, mas é óbvio que aquele é um jogo familiar extremamente divertido e que traz-nos uma cidade viva e o sandbox apropriado para todas as idades. O que inclui andar a destruir tudo o que nos aparece à frente pelos mui-amados studs e pelas peças especiais de LEGO.

“Estamos a construir a cidade aos bocadinhos.”

Ao contrário de grande parte dos jogos lego em que os pequenos rebites Lego são a única moeda disponível e são com eles que temos de desbloquear todos os extras no jogo, em LEGO CITY Undercover temos uma segunda moeda: os blocos especiais. Estes blocos existem não só escondidos pelo mapa (e que temos de usar a tablet (que era o Wii U Game Pad obviamente) para os revelar) ou então ao destruirmos objectos pelo mapa.

Estes blocos permitem-nos efectuar as Super Construções, ou seja, partes da cidade que ainda não estão disponíveis, como pontes, heliportos, rampas, entre outros edifícios que vão sucessivamente completando a cidade.

Não é que a cidade esteja vazia à nossa chegada. É mais a abertura sucessiva do mapa à la GTA que se vai completando com todas as adições e construções que levamos para LEGO CITY, e que permitem o nosso contributo para esta cidade viva.

LEGO CITY Undercover prova a força da TT Games em conseguir criar não só um óptimo jogo com uma franquia própria, como demonstra que não é refém de licenciamentos para produzir excelente conteúdo, e que seja vendável e criticamente reconhecido”.

Obviamente esta frase não foi proferida pelo meu filho. Ainda. Mas pela descoberta existencialista que está a passar, penso que será o tipo de raciocínio que poderá fazer mais tarde. Aos cinco anos talvez.

LEGO CITY Undercover provou a muitos que o sucesso dos seus jogos não reside apenas na força das marcas e licenciamentos que trouxe a reboque até aqui. Baseado na sua linha histórica de brinquedos (como o Miguel tão bem refere na análise de então) de LEGO CITY, este jogo consegue criar o seu próprio mundo de forma coesa e demonstrar o quão divertido pode ser um sandbox da Lego, jogado sozinho ou a par como eu e o meu filho temos feito.

Se a história é “engraçadinha” com um humor que vai do sofrível ao ridiculamente genial e subtil, onde as missões são quase um tour por várias áreas-chave desta cidade, é a área sandbox e a possibilidade de percorrermos a gigantesca cidade de Lego que nos deixa de sorriso na cara.

É a derradeira experiência para quem gosta de coleccionar extras em jogos, especialmente nos da Lego.

Apesar de ser um crítico dos remakes, parece-me uma óptima oportunidade esta que a Warner Bros. teve de trazer este jogo para as plataformas actuais, suprindo a falta de acesso que todos os jogadores possam ter por não terem adquirido uma Wii U. E com o curto espaço de tempo entre o lançamento original e este, quase que parece que este excelente jogo acabou de chegar pela primeira vez ao mercado.