Hoje estava a tentar escrever o artigo no qual ando a pensar há mais de 6 meses. Tenho procrastinado e procrastinado porque não consigo organizar ideias, mas juro-vos que estava mesmo a tentar… Uma coisa impediu-me de continuar e levou-me a querer escrever algo completamente diferente. Entrei no site do RubberChicken e li o artigo do nosso editor-in-chief– Ricardo Correia. Um artigo profundamente tocante e pessoal que se chama: E depois do Rubber Chicken. E fez-me pensar…e, aparentemente, eu não “Penso logo Existo”. “Eu Penso logo Sinto e logo Escrevo”.

Este artigo do Ricardo mexeu comigo. Dei por mim a pôr-me, pela primeira vez, efectivamente na sua pele. A tentar descolar-me do meu dia, dos meus problemas, do meu cansaço e esfera egocêntrica onde todos teimamos em cair de vez quando, e a pensar no que será sacrificar tanto por um projecto cujo motor principal é a Paixão. Um projecto onde não existe qualquer ganho monetário, onde se é criticado por todas as direcções, onde as horas pela noite dentro em claro são mais que muitas e onde a vida pessoal é, mais vezes que o normal, sacrificada. Onde se escrevem artigos nos intervalos dos compromissos profissionais, de jantares pessoais, de eventos sociais, para que o projecto em que se acredita continue vivo. Como será trabalhar para um projecto 4 anos a fio, permanecer isento, objectivo, critico, integro mas ao mesmo tempo apaixonado e no final, ver projectos cuja “qualidade” (sim – as aspas são propositadas) é bastante subjectiva, terem mais sucesso… seja esse sucesso através de likes em artigos, convites para eventos ou outra coisa qualquer. E mesmo assim, continuar no seu caminho sem ponderar qualquer tipo de desvio, mesmo que uma ou outra curva tornasse o percurso mais fácil. Como seria lidar com as personalidades de todas as pessoas que contribuem nesse projecto… tentar motivá-las e uni-las e ao mesmo tempo exigir que cumpram o seu compromisso. Lidar com as pequenas punhaladas nas costas, as birras de uns e intrigas de outros. As faltas de respeito e de carácter de outros tantos.

Desde que li o artigo do Ricardo que passei as ultimas horas do meu dia, a colocar a Alexa no divã e a perguntar-me como seria ser essa pessoa.

A resposta é que a Alexa jamais conseguiria ser assim. Engraçado… para alguém como eu que sempre se orgulhou de ser um Ser feito de Paixão, não deixa de ser irónico ver que essa Paixão é ínfima quando comparada a alguém que verdadeiramente é movido por Ela. Pode dizer-se que ler este artigo foi uma experiência de humildade e auto-reflexão.

A 13 de Fevereiro de 2015 entrei oficialmente para o Rubber Chicken. Entrei porque um amigo e colega de trabalho leu algo que uma vez escrevi sobre The Last of Us e disse-me que eu escrevia bem. Esse colega era, curiosamente, guitarrista da banda Hyperspace, banda essa em que o Ricardo Correia era vocalista. Perguntou-me se eu me importava que ele mostrasse o meu artigo ao seu vocalista: “ele escreve para o Rubber Chicken” disse-me. Eu concordei sem pensar muito nisso e dois dias depois estava a beber café com o Ricardo. Disse-me que gostou muito do que leu. Perguntou-me se queria escrever. Eu disse “Sim”. E já está. Não me impôs regras. Não estabeleceu limites. “Escreve sobre o que gostas!” – acho que foi a única coisa que me disse. Apresentou-me o resto da equipa num jantar. Eram bastantes. Gostei muito de uns. Não gostei nada de outros tantos. Polarizada como sou, admito que “clicar” comigo não é de todo fácil. O Ricardo ouviu as minhas opiniões e fez-me sentir que efetivamente tinham peso.

Pelos tombos e quedas com a equipa, tornei-me Amiga do Ricardo num piscar de olhos. Daquelas à antiga – que ficam para uma vida. Ele apresentou-me o homem com o qual viria a casar. Foi nosso padrinho de casamento e nesse dia, brindou a minha entrada cantando a nossa canção. Esteve ao meu lado na morte da minha mãe no ano passado – o momento mais doloroso da minha vida.

Aturou as minhas ausências do Rubber, a minha depressão (não assumida e que tanto custa a passar), as minhas iras, sarcasmos e opiniões cortantes. Discordamos muitas vezes. Muitas e muitas. Fico frustrada com ele e detesto quando alguém dentro da equipa o desrespeita sem que ele se aperceba. Irritei-me um cento de vezes porque gostaria que fosse mais assertivo e impositivo em muitas situações. Discutimos acesamente muitas ideias sobre o Rubber, porque entre todas as coisas que discordamos, o valor deste projecto e o desejo em vê-lo crescer são coisas que mantemos sempre em comum. Pelo caminho, magoou-me algumas vezes e tenho a certeza absoluta que o magoei em dobro – infelizmente, sei que consigo ser uma besta mesmo que logo a seguir me arrependa ferozmente.

Dois anos depois de entrar para o Rubber, depois de ler um artigo de alguém que cá está o dobro do tempo, que escreveu mais artigos nestes 4 anos do que eu provavelmente escreverei numa vida inteira, que me trouxe para esta equipa de galinhas, pergunto-me se o meu contributo de alguma forma demonstrou o quão Honrada e Grata me sinto por este tempo. Se o Ricardo efectivamente tem noção do quão fundamental tem sido para mim, ele e este projecto.

O meu primeiro artigo deste ano chamava-se A expectativa de 2017 e nele falei da minha “Despaixão” pelo actual mundo dos videojogos e questionei-me se valeria a pena continuar a escrever. Afinal, sou uma escritora de coisa nenhuma. Falo do meu amor e experiência pessoal dos videojogos que amo – não escrevo objectivamente. Nele abordei a desmotivação e o cansaço. O não querer que os artigos se tornem uma obrigatoriedade ou uma imposição pois quanto tal acontece, como em qualquer relação, a chama apaga-se. E eu não queria fazer isso ao projecto Rubber Chicken, às pessoas que lêem, a mim e principalmente … ao Ricardo!

Esse artigo saiu a 11 de Janeiro. Quase 4 meses depois, vejo que foram publicados 5 artigos meus (sendo que o ultimo há mais de um mês). Do meu compromisso para com o Rubber Chicken de escrever 2 artigos mensais, cumpri com dois terços (mais coisa menos coisa) disso. E sei que isso é menos que suficiente. Um site só vive se alguém escrever, e quando alguém, continuamente, falha, o site arrisca-se a enfraquecer.

Pelo meio desta falta de artigos, atravessou-se uma etapa profissional e uma exaustão mental pela não me lembro de ter passado… mas isso não interessa. Detesto desculpas. Por mais razões que existam, a verdade é que falhei. A verdade ainda mais cruel, é que não sei se não falharei mais ou se, o que faço (e sempre fiz no Rubber), é por si mesmo, uma Falha. Uma Fraude. As perguntas que coloquei neste artigo de 11 de Janeiro são hoje ainda mais pertinentes.

A dura verdade é que, sempre que não cumpri com o meu compromisso, não pensei muito no Rubber Chicken. Sabia que estava assegurado. Estava lá alguém que certamente ampararia a minha falha como sempre amparou as falhas e faltas de todos. Nem por um momento, na esfera egocêntrica do meu cansaço e exaustão, pensei qual o preço para segurar sempre Tudo. Para não deixar que as fundações se desmoronem. Para garantir que os leitores do Rubber têm sempre a sua capoeira à espera. É que quando existe alguém que é tão intrinsecamente fiável, cometemos o pior dos pecados: tomamo-lo por Garantido!

Enquanto espécie, somos, de uma forma geral, parcos em gestos ou palavras bonitas. Ofender é muito mais cool do que elogiar. O facilitismo de Odiar é bem mais confortável do que os sacrifícios de Amar. A Gratidão é algo que nos obriga a admitir que precisamos dos outros.

Mas depois de ler um artigo em que se fala de outros 799 que foram escritos, senti a necessidade de escrever este e dizer, de uma forma mais ou menos atabalhoada, e enquanto jogadora e apaixonada por Videojogos: Obrigada Ricardo Correia!

Tal como tu dizes, não sei o que o Amanhã nos traz. Mas o Hoje trouxe-me a tua Paixão, o teu amor e dedicação ímpares. Para mim, o Rubber és Tu, e porque ambos que são UM que digo: Obrigada! Não sei se nos encontraremos a escrever no Amanhã, mas Hoje já valeu a pena!