Há muitos boardgames que facilmente são adaptados a videojogo, e alguns videojogos que acabam por ser adaptados para o tabuleiro. Há muitos outros que em qualquer momento do desenvolvimento poderiam ter ido para qualquer um dos lados, ou para ambos, e Antihero é um desses casos.

Desenvolvido por Tim Conkling, Antihero é um jogo de estratégia atípico em várias áreas. A primeira é que, dê-se as voltas que tivermos de dar, mas este é 4X, distante das habituais abordagens de conquista galáctica ou domínio civilizacional mundano ou especulativo, remetendo as 4 componentes essenciais de um 4X.

Na nossas demanda por dominar as ruas de Londres Victoriana sob o manto do Mestre dos Ladrões e líder incontestado da sua guilda, temos de eXplorar o nevoeiro que cobre a cidade (ainda decorrente do misticismo literário victoriano ou do peso ambiental da Revolução Ambiental), eXpandimos a força da nossa guilda controlarmos os negócios e serviços locais com orfãos intrusos, eXterminamos a concorrência de outras guildas concorrentes e ceifamos a vida de alguns londrinos corruptos cuja cabeça está a prémio no submundo e eXploramos (lamentavelmente o sentido do verbo explorar em português serve ao mesmo tempo para explore e exploit) os recursos que vamos obtendo e tentamos optimizar a aquisição deles através de upgrades à nossa guilda.

Trocar o ambiente espacial de 80% dos 4X por uma Londres estilizada e cartoonizada acaba por funcionar a favor de Antihero. A sua direcção artística e a aura dickensiana é tão distintiva que quase agradecemos a Conkling não ter cedido de qualquer outra forma a tónicas mais usuais ao género, e decidir enveredar pela linguagem de desenho tradicional que demarca a editora onde Antihero está a ser lançado, a Versus Evil.

Ainda está em Early Access, com campanha e IA limitada e ainda desprovido de multiplayer, mas já é tão, tão divertido, que dificilmente o largamos. Cumprir a missão de conseguir 5 pontos de vitória (seja por obter segredos na igreja, obras de arte de valor incalculável, ou por subornos a altas figuras da cidade), cada nova “sessão” obriga-nos a adaptar-nos, seja pelo investimento que fazemos com os nossos recursos (entre novos upgrades ou recrutamento de órfãos, gangues ou rufias) mediante as escolhas que o nosso adversário vai fazendo.

Antihero é um jogo de estratégia por turnos bastante leve, tanto nas mecânicas como na apresentação, o que não faz dele um jogo menor do género. Torna-o sim um dos grandes jogos a chegar ao nosso mercado e a ter a sapiência de ser uma boa porta de entrada para o género para todos, com a leveza e o charme que só este nível de simpatia visual e mecânica conseguiriam chegar.