Caçada semanal #83

Não sei é do fervor todo com a vinda do Papa ou da canonização dos embustezinhos, perdoem-me, dos pastorinhos, se é do outdoor gigantesco no Marquês de Pombal a dar as boas-vindas ao Chefe de Estado Jorge Mario Bergoglio, também conhecido Papa Francisco, que é visível quase ali do Campo Pequeno (valha-nos o exagero), ou se é do arranque da magnífica adaptação do livro de Neil Gaiman American Gods, mas esta semana caíram-nos no colo 2 God Games depois de já termos falado de um terceiro, o Tethered.

Em memória aos bons tempos de Peter Molyneux, aqui ficam os 2 indies da semana, que abordam os god games sob uma perspectiva evolucionista.

Birthdays the Beginning

Nascido da mente de Yasuhiro Wada, criador de Harvest Moon, Birthdays the Beginning é um god game irónico já que estamos a controlar condições para que o darwinismo seja posto em prática.

O visual descontraído e divertido reminiscente dos anos de Harvest Moon está aqui bem patente, e adapta-se bem ao cubo isolado no vácuo que acaba por ser o nosso parque de diversões, e o bioma onde a vida irá florescer, de unidades celulares simples até a sistemas complexos como os muitos animais vertebrados que coabitarão esse mundo.

Mecanicamente observamos este cubo/bioma como uma Placa de Petri à criação de vida, no qual temos de oscilar entre uma visão micro e macro de toda a geografia. Na visão micro vamos alterando o terreno, sabendo que esses acidentes geográficas aumentam/diminuem a temperatura e a humidade relativa do ar, levando à criação e ramificação da evolução de espécies.

Para cumprir as metas que o modo “campanha” nos apresenta (cujo objectivo final é conseguir ramificar a evolução até que os humanos modernos existam), temos de ir fazendo tweeks às condições atmosféricas para que, bem, a vida aconteça e as necessárias evoluções/adaptações ocorram.

Na visão macro as mecânicas são opostas. Se na versão micro temos de dar atenção ao detalhe, ao sobrevoarmos o bioma controlamos a passagem do tempo, para percebermos se as alterações que estabelecemos conduzem a evolução na direcção que desejamos, ou se teremos de agir para que a desejada ramificação exista.

Como seria de esperar, a curva de aprendizagem é bastante abrupta aqui (afinal ser Deus não é tarefa fácil) e de início tudo parece estupidamente complexo dentro das relativamente reduzidas opções que temos em mãos para esculpir o bioma. Mas a partir do momento em que a multiplicação de espécie vai acontecendo, percebemos o quão interessantes as mecânicas evolutivas estão descritas e desenvolvidas neste jogo da NISA.

Evolucionismo enquanto mecânica é aquilo que Birthdays the Beginning nos traz para o PC e PS4. E fá-lo de forma espantosamente afinada e compreensível, em muito auxiliada pela vibrante direcção artística típica de outras franquias do autor, que o torna um jogo leve e obrigatório, especialmente para jovens e adultos criacionistas. Mas para todos os outros também.

Intelligent Design: an Evolutionary Sandbox

Aplaudo a ironia do nome, de misturar conceitos pseudo-científicos como o criacionismo patente no Design Inteligente com a Selecção Natural. Um título que certamente vai deixar húmidos alguns religiosos sedentos de encontrar um objecto videolúdico.

Vamos então assumir que o estúdio MIDIEvil e que Sean Walton desenvolveram este jogo sobre engenharia genética e evolucionismo com um t+itulo ambíguo, mordaz e inteligente, e não apenas um faux pas entre criacionismo e evolucionismo.

Intelligent Design: an Evolutionary Sandbox parte da mesma premissa de Birthdays the Beginning mas com um pior impacto: é que a direcção artística é perfeitamente inexistente, e tudo parece ser efectuado com assets padronizados do Unity, o que não permite grande “afectividade” com o jogo, nem uma ultrapassagem para lá das mecânicas de polvilhamento do bioma com material genético simples.

Em Intelligent Design: an Evolutionary Sandbox tudo se passa de forma mais “descontrolada” e aleatória, mimetizando a selecção e evolução natural mas de uma forma menos interessante visual e mecanicamente falando.

Acredito porém que o facto deste jogo estar ainda em Early Access é sinal de que muito poderá mudar ainda. E eu acho que o evolucionismo merece-o.