Tudo no Japão tem de ter enredo. Tudo. Até os géneros que à primeira vista não carecem de qualquer narrativa associada, que jogamos pelo simples prazer de jogar. Shooters e bullet hells? Certamente têm todos uma história a ser contada. Puzzle games? O enredo tem que ser quase ou tão mais puzzling que os próprios puzzles. Jogos de corridas? Sem a história dramática dos corredores não faz qualquer sentido. Fighting games? Sim, ó se contêm história…

BlazBlue é uma série emblemática de jogos de luta. Um dos grandes resistentes de um género que tanto apreço teve a nível global, mas cuja relevância parece ter ficado circunscrita aos limites geográficos do Japão.

Visualmente BlazBlue: Central Fiction, a mais recente iteração desta emblemática série está deslumbrante. Mas menos do que isso não seria de esperar com a expertise da Arc System Works, habituada a produzir dos melhores 2D fighting games que chegam ao mercado num regime quase anual.

Lembram-se de ter falado ali no início da necessidade quase obsessiva de colocar um forte pendor narrativo em géneros ou jogos que podiam facilmente passar sem eles? BlazBlue: Central Fiction leva essa vontade ao extremo, e avisa-nos do tempo que vamos perder para poder apanhar o fio à meada.

É que BlazBlue: Central Fiction não se limita a ser o mais recente jogo da série, mas é também aquele que encerra o arco de história actual, e existe uma tremenda preocupação dos seus criadores para que qualquer jogador, habituée da série ou recém-chegado de poder compreender toda a intrincada mitologia que rodeia a franquia. Ouviste bem Syberia III?

São largas horas de diálogos entre os personagens que não são obrigatórios de serem vistos, e podemos rapidamente mergulhar na pura e dura pancadaria habitual com a qualidade que a Arc System Works nos habituou sem termos de assistir a verdadeiras encenações inter-combates.

Esta flexibilidade do jogo permitir ser usufruido de forma dupla, por um lado em pleno, com todo peso da história e o combate, e por outro aproveitar apenas este, torna-o apelativo a tipos diferentes de jogadores. Mas a profundidade de vermos o enredo centrado em Ragna the Bloodedge dá-nos a percepção total dos personagens, e das teias complexas que os unem entre si.

Mcanicamente do ponto de vista de combate muda muito pouco do que a série já nos trouxe e ironicamente isso não é um mau ponto. Sendo os jogos deste estúdio os meus favoritos em termos de combate 2D com uma direcção artística brilhante na abordagem inteligente à estética nipónica, não haver alterações coloca-o num porto seguro, e relembra porque é que BlazBlue é uma das séries de luta mais acarinhadas até aos dias de hoje.