Puzzle games como Portal e Antichamber demonstraram o quão inventivos poderiam ser os jogos na primeira pessoa, colocando-nos na pele e no olhar do protagonista que resolvendo e utilizando algumas características mecânicas do jogo consegue progredir nos muitos níveis e áreas de jogo. Sempre, mas sempre com um twist abstracto.

Se estes foram os precursores de uma nouvelle vague de jogos que experimentaram mecânicas distintas para criar verdadeiros quebra-cabeças espaciais tridimensionais para todos nós, seria de esperar que a adição de uma quarta dimensão, o tempo, fosse uma mecânica a explorar.

É o que faz Echoplex de forma metafórica e mecânica ao explorar um mundo onde nós, o protagonista, perdemos a memória e estamos a contar com um procedimento-teste de uma companhia que se compromete a restituí-las. Cada memória é um pequeno vídeo de um todo que será a nossa história, e para as resgatarmos precisamos de resolver alguns puzzles em pequenas salas (ditas) na nossa mente.

O grande twist de Echoplex é que segundos depois de começarmos cada nível, uma cópia nossa aparecerá e começará a replicar os nossos movimentos com o devido distanciamento temporal. É óbvio que temos de utilizar esse nosso clone para nos abrir portas e interruptores e todas as lógicas habituais de um puzzle game do género.

Echoplex brinca com ideias de deixarmos pequenos ecos no passado sempre que agimos. Os nossos clones são apenas uma exemplificação palpável e perigosa das nossas acções e que se materializam na nossa impossibilidade de o tocarmos. Se o fizermos perdemos e temos de recomeçar o nível, aludindo a questões de paradoxo mnemónico e afins que são mais justificação mecânica do que interpretação filosófica. Pelo menos digo-o eu.

Com as estruturas de level design labirínticas e não-lineares é que Echoplex se complexifica. Facilmente nos perdemos e acabamos por chocar com o nosso eco ou simplesmente sentir a tensão e a distorção visual que acontece quando este passa por nós, mesmo sem nos tocar.

Echoplex é um jogo interessante, não só pela parte narrativa e pelo uso de imagens reais para dar contexto ao enredo, mas também pela forma como aborda com eficácia a utilização e a precisão temporal. Tudo circunda à sua volta, entre termos de nos apressar a passar uma porta para que o nosso eco não a feche, ou de termos de”queimar tempo” para que o nosso clone também o faça. Há uma big picture a decorrer em cada level design de Echoplex, que existe na terceira e quarta dimensões, e que nos compete a nós descortinar.

Temos a missão de reconstruir peça-a-peça todo o enredo e jogar eficazmente com o delay entre nós e o nosso clone assustadoramente inexpressivo. É nesta dança e reprodução de gestos que todo o ambiente asséptico entre sci-fi e uma distopia que assenta Echoplex, um puzzle game desafiante e interessante, que facilmente se deixará ultrapassar mediaticamente pelos ecos passados de tantos outros jogos.