Vamos começar esta peça que pode ser um bocado controversa afirmando que theHunter: Call of the Wild não é um jogo na minha perspectiva. Assim como Flight Simulator não o era, nem nenhum dos seus sucessores de Farming a Truck Driver, de Goat a Tree. Não implica, contudo, que não seja uma obra de entretenimento. Mesmo assim esta não é a parte controversa deste simulador mas sim a sua temática. A caça.

Apesar de ser algo inerente ao ser humano, um instinto que foi desenvolvido ao longo de milhares de anos é algo que gera tanta controvérsia como touradas na cultura portuguesa. Por razões em parte semelhantes. Digo já que não concordo com touradas mas também não concordo com nada que seja posto numa pizza que não seja molho de tomate, queijo e pepperoni. Ou atum no caso de estar em Napoli. Faz parte das minhas crenças ideológicas.

Quanto à caça há dois tipos:

Há quem cace para comer. Sejam aves, coelhos ou lebres, javalis ou toda a espécie de veados, estes caçadores são parte de uma espécie (cada vez mais rara) que por várias razões sobre as quais irei falar mais à frente concordo que o façam. Depois há a outra espécie que caça por desporto e por troféus, e esses não consigo respeitar muito, mas não consigo culpar porque até os sacanas do golfinhos caçam e matam por prazer*. Felizmente fui criado de uma forma tolerante e aceito todos os pontos de vista mesmo que com incongruências do estilo de quem acha que caçar é bárbaro mas adoram uma boa costeleta de novilho, ou vegetarianas que não comem carne porque gostam muito de todos os animais mas têm oito pares de sapatos de camurça** e alguns deles já mataram várias aranhas, ou até quem vai achar este theHunter um jogo desnecessário e violento mas têm uma equipa muito bem posicionada nos rankings de CS:GO.

Relativo ao simulador, em theHunter controlamos um caçador como é óbvio, num dos parques naturais disponíveis onde aprendemos a controlar tudo desde seguir pegadas e avaliar excrementos, como seguir e aproximar da presa, usar chamarizes, armas e até um smartphone que nos ajuda e funciona como mapa, GPS entre outras coisas. Depois temos praticamente rédea solta para andar pelos vários quilômetros quadradas que nos estão disponíveis metendo em prática tudo o que aprendemos.

Seja a solo ou em grupo, tal e qual como numa caçada normal, estamos à nossa vontade. À vontade não é à vontadinha, e isso é muito importante, há não só regras de segurança, aqui respeitando o código dos Estados Unidos da América, mas há regras naturais e de bom senso que devem ser cumpridas. Não se caçam crias, não se caçam predadores (pelo menos ainda não encontrei nenhum, e só o faria em legítima defesa da minha vida virtual) e não entramos aos tiros como se fosse um filme do Michael Bay voando pelos ares em câmara lenta enquanto disparamos uma pistola em cada mão.

Regra básica de um caçador, e em particular o DLC (grátis quando este artigo foi escrito) theHunter™: Call of the Wild – Bearclaw Lite Compound Bow é perfeito para isso mesmo, na qual se dá um tiro e se consegue uma morte. Deve-se ser o mais humano possível quando se caça, e ao contrário do que pensam não é com um tiro na cabeça que se consegue isso pois há mais hipóteses de falhar, um verdadeiro Kill Shot, é dado na zona do coração matando imediatamente a presa, falhando acerta-se nos pulmões conseguindo o mesmo efeito. Com um arco somos obrigados a fazer isso porque não temos tempo para recarregar ou disparar mais tiros se falharmos. theHunter reproduz os aspectos da calma na aproximação, do posicionamento, controlo de respiração e garantia de tiro certeiro.

Onde este jogo é perfeitamente exímio e onde dou os parabéns aos developers é na sua reprodução de ambiente gráfico e sonoro. Num bom PC é absolutamente lindo seja qual for o local e hora do dia, os efeitos de luz, de cor, e mesmo as reproduções dos animais são do mais realista que já vi. Os sons ambiente estão perfeitamente enquadrados desde o barulho de passos em terrenos diferentes às folhas nas árvores a mexer com o vento. São tão boas que até para quem não quer “caçar” pode ser uma boa experiência de observação de natureza (virtual).

A variedade de locais, presas e armas é bastante extensa com o andar do tempo e com o que o jogador quiser investir.

Vou arriscar e dizer que theHunter: Call of the Wild não é um simulador que vá agradar muita gente pelo simples facto que é sobre um tema que não agrada a muitas pessoas, contudo no que diz respeito a um simulador faz a sua função perfeitamente, especialmente com os DLC grátis sendo o meu favorito o que permite usar o Compound Bow. Não é barato, portanto não posso dizer que seja algo para comprarem sem ser em saldos ou bundle se não forem adeptos de caça. Se querem um substituto virtual, é o caminho para ir. Se querem um substituto real façam tiro de participem em provas de simulação de caça. Se não concordam com nada disto e só comem vegetais, lembrem-se que os nossos antepassados não desenvolveram o arco e flecha para caçar brócolos ou bagas goji.

* golfinhos matam outros animais e as próprias crias só porque sim, é um facto comprovado por vários cientistas, se quiserem confirmar.

** nunca percebi porque não se pode molhar camurça. Já estive muitas vezes no campo e nunca vi uma vaca bater à porta de um agricultor quando começa a chover a dizer “muuuu… deixa-me entrar, sou de camurça e vou ficar manchada!”

*** theHunter tem um Free to Play se quiserem testar.