2017 está a ser um ano difícil na minha relação com videojogos. Cheguei àquela altura da relação em que tento mais que tudo recuperar a Paixão inicial que fez com que os videojogos se inscrevessem no meu DNA. Está ser complicado fazê-lo por variadíssimas razões… mas estou a tentar o mais que posso. Dou por mim a tentar procurar algo para jogar e a sentir-me triste quando nada me puxa. Sou, neste momento, uma Amante solitária, que tenta que o seu Amor volte, sem saber explicar bem porque é que ele partiu.

Enquanto espero, volto aos momentos entusiasmados que vivi com Shadow of Mordor, num ano em que a sua inevitável sequela foi anunciada.

Shadow of Mordor é um Action RPG (como julgo que todos os jogos de acção são ultimamente), que chegou em 2014 e, antes mesmo de poder afirmar fosse o que fosse, foi obrigado a vencer o cepticismo que o rodeava. Baseado numa das sagas mais amadas por todo o Mundo, a saga de Tolkien: Senhor dos Anéis, Middle Earth: Shadow of Mordor herdou o peso de tentar ser original numa altura em que pouco ou nada original saiu no mercado e quando tudo parecia já ter sido feito à volta desta tão amada saga. Afinal, não falamos de uma história e saga qualquer – Tolkien criou uma Universo onde as suas regras se expandiram bem para além dos seus livros. Quer dizer: é óbvio que os anões são excelentes ferreiros e vivem em cavernas dentro de montanhas, certo? Os humanos são excelentes guerreiros com características que se adaptam perfeitamente ao escudo e espada, os elfos são fantásticos arqueiros e assassinos das sombras com propensão para a magia e os magos, susceptíveis a ataques mais físicos. Isto são “regras” criadas nas personagens deste fabuloso escritor nascido na África do Sul. Destas “regras” nasceram universos como World of Warcraft, Skyrim, Dragon Age, e outros tantos incontáveis universos que tantos fãs semeiam ao longo dos anos. Com uma herança deste nível nos seus ombros, não seria fácil para a Monolith Productions, desenvolver algo original e inovador, que fizesse o jogador sentir que vivia por dentro do universo de Senhor dos Anéis.

Eu Adoro a Saga Senhor dos Anéis. Mais do que a saga, amo o Mundo que Tolkien criou. Vejo os filmes, leio os livros e… quero estar ali. Quero ser uma guerreira e lutar contra as forças do mal. Destruir Mordor. Sou uma absoluta devota deste género – a ficção especulativa corre-me nas veias, sendo este Amor unicamente suplantado apenas pelo que nutro pelo género Terror, principalmente pela saga Alien. Mas isso ficará para um outro artigo. Se o Tolkien é o meu autor favorito deste género? Hum…. Michael Moorcock deu-me algo que amo ainda mais, mas mais uma vez, isso ficará para outro artigo. Não me quero desviar muito mais do que tenciono falar por aqui.

Ouvi falar de Shadow of Mordor na altura em que este saiu, Setembro de 2014. 2014 foi o ano em que fomos inundados por notícias de TitanFall, Destiny e principalmente, Watch Dogs, todos  eles com uma publicidade e hype tão grande que era impossível poder corresponder às expectativas criadas. Nesta altura, havia rumores de um novo jogo dentro do mundo de Tolkien, mas os rumores foram rapidamente silenciados pelo barulho incessante dos outros AAA prontos a sair. A Monolith, muito inteligentemente, optou por não gastar um orçamento (que provavelmente não tinha de qualquer maneira) em gerar atenção em demasia ao jogo. Preferiu simplesmente lançá-lo, distribuir cópias a meios de comunicação-chave um pouco por todo o Mundo, e deixar que a qualidade do seu produto falasse por si.

Num mundo em que tudo é fogo-de-artifício e hype, não posso deixar de admirar esta jogada discreta e muito corajosa da Monolith. Mas foi uma jogada que compensou – e bastante! O jogo recebeu Excelentes análises e criticas um pouco por todo o mundo e, juntamente com Dragon Age: Inquisition, foi considerado Jogo do Ano. Num ano tão fraco e desolador para a indústria como 2014, ser considerado o melhor não parece um grande feito… mas na verdade é. É que, este era verdadeiramente um jogo que, como diz o povo: “Ninguém dava nada por ele” – mas é na verdade, Muito Bom!

Quem lê meios de comunicação relacionados com videojogos, sabe perfeitamente os pontos fortes que fazem deste título, um título a jogar: Excelentes gráficos, Fantásticas animações, Óptimo sistema de combate e movimento (“copiar” o melhor de Assassin’s Creed, certamente compensou) e claro, o sistema Nemesis – um sistema que pode ser descrito como, literalmente: um sistema de inimigos. Com este sistema Nemesis, conseguimos ver as características dos nossos inimigos, os Capitães de Mordor, os seus pontos fortes e fracos, dando assim ao jogador uma oportunidade extra de aprender como derrotá-los.

Mas a sua parte técnica, que é efectivamente Muito Boa e um avanço no mundo dos videojogos, é o que menos me seduz em Shadow of Mordor. Este é, efectivamente, um jogo Brutal e Imersivo. Para quem, como eu, se transporta para um livro ou filme quando lê ou vê algo deste género, Middle Earth: Shadow of Mordor põe-nos mesmo lá. Desde os primeiros instantes em que conhecemos Talion (trazido à vida pela voz única de Troy Baker) e a sua família, sentimos que vivemos uma história também ela certamente escrita por Tolkien… apenas talvez deixada fora dos livros. Uma história de vingança e dor, como tantas outras histórias, mas sobretudo uma história de redenção, salvação e procura de identidade verdadeira de ambos os personagens. Esta é uma história que parece nova, mas saída do Universo que tanto Amamos.

Cumprir os desafios para ganharmos novas habilidades dá ao jogador uma verdadeira sensação de progressão e aprendizagem. Celebrimbor, o elfo que literalmente é “a outra parte” de Talion, concede-nos uma sabedoria que não tínhamos, um outro apelo às nossas habilidades e jogabilidade. E os dois fundem-se tão bem que fazem o jogador sentir que dominam ambos a todos os momentos. Senti-me, muitas vezes, um Todo feito de duas partes. Queria explorar Talion, e toda a sua história, tanto quanto queria conhecer mais de Celebrimbor. Senti que havia uma relevante descoberta a cada momento de interacção e conversa entre os dois.

A visceralidade e brutalidade do combate é tão satisfatória que dei por mim a fazer dezenas de missões secundárias apenas para poder ver e rever os cruéis finisher moves de Talion. Quando estamos assoberbados de inimigos, com a vida quase a terminar, temos um milésimo momento de retaliação fechado num Quick Time Event, mas este está tão bem integrado, que sentimos uma verdadeira urgência em pressionar o botão certo. É que o preço da morte em Shadow of Mordor é muito alto: cada vez que perdemos a vida, o inimigo que nos mata sobe no ranking de generais e comandantes do exército das trevas, o que faz com que este adquira mais poderes e se torne mais forte (um “presente” do sistema Nemesis). Mas o confronto seguinte é absolutamente delicioso de se observar – o general que outrora nos derrotou, lembra-se de nós, provoca-nos e torna esse encontro algo que se torna, para o jogador, verdadeiramente pessoal. Dei por mim muitas vezes a gritar, como uma verdadeira guerreira em mundos longíquos, quando finalmente matava alguém que me derrotou em momentos anteriores.

E quando encontramos Gollum? Quando se é um fã de Tolkien, é impossível não ficar comovida quando se encontra aquela que é, para mim, a personagem principal e central de toda a saga.  Se forem como eu, querem segui-lo por todo o lado e magicamente transformar Shadow of Mordor numa história centralizada neste esquizofrénico e fascinante ser.

Este não é um jogo perfeito. Por vezes, torna-se muito repetitivo. Se forem como eu, e quiserem fazer todas as missões secundárias, matar todos os generais antes de avançarem para o primeiro Boss, começam a perceber que esta é, por assim dizer, uma tarefa impossível. Os generais são constantemente substituídos e substuídos, até desistirmos e simplesmente avançarmos para o Boss. E isto, para alguém que é intrinsecamente obsessiva como eu, incomoda. Incomoda muito. Sinto que avanço com algo incompleto. Porque é que não é possível simplesmente acabar com todos os generais de um território, por mais que isso demore e custe? Isto pode parecer estúpido, mas foi algo bastante negativo para mim. Senti que estes comandantes infindáveis eram nada mais que um desnecessário “filler” para aumentar o tempo de jogo. As missões alternativas por vezes perdem o foco na história e dão igualmente a sensação de serem nada mais que um prolongamento forçado de um jogo que não necessitaria disso para ser Excelente.

Shadow of Mordor foi um lufada de ar fresco no marasmo de maus AAA de 2014… veio suavemente, sem fazer grande alarido, e surpreendeu. Beneficiou certamente do desastre de overhype de jogos como Watch Dogs e Destiny, mas teve também o mérito de ser algo que Tolkien poderia, ele mesmo, ter escrito e criado. Algo que Peter Jackson poderia levar para o cinema.

Shadow of Mordor não foi Fabuloso, mas é Visceral e Surpreendente o suficiente para merecer que os amantes de videojogos e também de Tolkien voltem a mergulhar no seu mundo, antes que o segundo capítulo desperte à nossa porta.