Há uns meses escrevi aqui no Rubber um artigo a demonstrar o meu desagrado com Super Blackjack Battle II Turbo Edition: The Card Warriors, um jogo que pouco introduzia de novo que não fosse a quase exasperada colagem à linguagem de Street Fighter II. Pareceu-me uma oportunidade perdida de conseguir pegar em algo aparentemente fechado como o blackjack e dar-lhe uma roupagem nova, um tratamento diferente que o distinguisse de qualquer outro jogo de cartas. Mas não. Este era um jogo de blackjack sem qualquer volta diferente, em que a imagem decalcada do jogo da Capcom era um mero gimmick e nada adicionava ao jogo, sem ser um tópico de venda fútil.

Os Lunchtime Studios provaram-me que a minha exigência para com aquele jogo, com a visão de que é possível ter um bom jogo, reinventando algo tão estanque quanto um jogo de cartas que quase toda a gente no globo conhece. Falo do seu jogo, Lords of New York, ainda em Early Access, e que demonstra o quão bom pode ser um jogo tendo uma premissa aparentemente tão simples quanto o Poker (ou póquer se quisermos usar o aportuguesamento).

Nunca joguei Poker na vida real, mas foram as versões em videojogo que me ensinaram a jogar. Tenha sido o Zynga Poker (na altura em que os jogos de Facebook da gigante norte-americana dominavam as redes sociais), ou mesmo os Poker Night 1 e 2 que conseguiam trazer uma grande substância para além do jogo de cartas em si.

Lords of New York pega nessa ideia e leva-a mais longe. Cria uma história em torno do período da Lei Seca nos EUA, e incorpora-a com excelentes sequências de animação, uma narrativa coesa e bem desenvolvida e um surpreendente voice acting. Para além do cerne do jogo, como é óbvio, as rondas de Poker a solo ou em multiplayer (que incluirão na versão final o crossplay com dispositivos mobile), Lords of New York vai um pouco mais longe e criou um modo de campanha, cuja pequena preview já é possível fazer na build actual. Escolhas múltiplas onde alguns elementos estatísticos do personagem importam e que podem ou não mudar o outcome dos acontecimentos.

A componente de Poker propriamente dita é o mais entusiasmante de tudo. Para além das óptimas animações (tradicionais) dos personagens e do já referido voice acting que ajuda a recriar o ambiente da época em torno do clássico Texas Hold’Em, com o elenco a demonstrar a diversidade de personalidades através das suas atitudes e falas, há um elemento verdadeiramente delicioso neste jogo: a incorporação de elementos de RPG e habilidades especiais únicas.

Os “poderes” não são sobrenaturais, mas são antes um reflexo da personalidade de cada um dos personagens. O personagem mais agressivo é aquele que vai obrigar os outros personagens a irem sempre a jogo, ou então a obrigá-los a fazer fold quando não querem. A sedutora vai convencer alguém a apostar uma percentagem a mais da sua aposta inicial, valor que reverterá para si, e assim por diante. As habilidades estão muito bem equilibradas, e vão sendo desbloqueadas e leveled up a cada ronda, permitindo que nos ajustemos à correnteza da mesa.

Tudo isto é mais, muito mais do que seria de esperar não só de um jogo de Poker, mas também de um jogo Early Access. O estado em que Lords of New York se encontra neste período de alpha fá-lo ser merecedor da nossa compra a preço inteiro. O ambiente dos loucos 1920s está todo aqui, numa das mais criativas abordagens ao Poker que já joguei, sempre bem acompanhado de jazz da época que nos transporta ainda mais facilmente para este mundo animado.