O jogador altamente nostálgico que eu sou adora dungeon crawlers e a forma como sem necessidade de explicação ou rodeios o género nos atira para o meio da acção. Há pouco a ter de ser clarificado em jogos em que o nosso objectivo é tão simples quanto ir para uma masmorra e tentar sobreviver o máximo de tempo possível.

Há algo de verdadeiramente relaxante no género, e o facto de existir um regresso à produção destes jogos acaba por encaixar na perfeição no meu estilo de vida actual. Se a (putativa) maturidade dos trinta nos ensina algo é que a adicionar à necessidade de encontrar objectos culturais cada vez mais complexos, deve existir um outro lado mais depurado, mais primordial, de diversão instantânea para contrabalançar os desafios diários que a vida nos impõe.

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Foi essa simplicidade com laivos de algo mais que a NIS America decidiu trazer-nos neste Cladun Returns: This is Sengoku! um retro dungeon crawler que vem quebrar com algumas tendências do mercado actual e que consegue, pelo meio de algumas más decisões, ser um dos mais refrescantes jogos do género.

Comecemos pelo setting. Desde os primórdios do “desbravamento” de masmorras que a associação instantânea é a fantasia medieval, com guerreiros, arqueiros e magos a percorrem infindáveis níveis a combater ogres, orcs e demónios.

Cladun Returns: This is Sengoku! decide dar uma volta completa a isso e levar o dungeon crawling para o período histórico japonês conhecido pelo período Sengoku, onde diversos clãs encetaram uma série de intrigas e de guerras de facto que abalou o Japão e que marcou o território para sempre.

Os fãs dos videojogos podem reconhecer as liberdades criativas que foram existindo em Samurai Warriors, que também relata este período.

Cladun Returns: This is Sengoku! tem “apenas” 10 capítulos. E dizemos apenas porque aquilo que parece um número simples é afinal uma tarefa árdua com muito, muito grind envolvido. Mas menos não seria de esperar de um dungeon crawler.

A ligeira complexidade de Cladun Returns: This is Sengoku! circunda as decisões da NIS de colocar os pontos de ataque dinâmicos, ou seja, atacarmos um inimigo de frente, de lado ou por trás tem impactos diferentes, especialmente com os comportamentos diferentes que as armas podem ter neste jogo.

Este dinamismo de combate foi um dos momentos surpreendentes deste jogo, onde mergulhei com a ideia de que ia encontrar mais um simples retro dungeon crawler e acabei por encontrar algo mais, um jogo cujo enorme desafio nos compele a pensar nas “limpezas” que fazemos em cada masmorra de forma estratégica.

As masmorras, essas, são curtas, e possibilitam incursões rápidas que podem até ser feitas no pouco tempo que disponhamos para nos sentarmos à frente da TV e jogar uns jogos.

Apesar da dificuldade decrescente, o verdadeiro desafio de Cladun Returns: This is Sengoku! está nas boss battles, onde o pico de desafio cresce abruptamente e temos de conseguir pensar nas melhores formas de conseguir desgastar de forma eficaz a muita defesa e vida dos bosses, e escapar dos ataques verdadeiramente devastadores que podem desferir.

Como dungeon crawler que é, Cladun Returns: This is Sengoku! permite um grind quase infinito, criando dungeons mais difíceis com melhor loot que podem ser repetidas ad infinitum, lembrando o regresso diário de tantos milhares de jogadores ao ambiente repetitivo e unicamente farmável de Diablo III.

Cladun Returns: This is Sengoku! remete-nos para um ambiente nostálgico, sacrificando, e bem, o paleio ou enredo martelado em favor da possibilidade de mergulharmos de cabeça em cada sessão de jogo. A pensar “nos mais velhos” que podem não ter a mesma disponibilidade temporal para estar durante muito tempo em grind, cada masmorra é passada em poucos minutos o que permite incursões curtas no jogo, e de alguma forma, mascarar a sua repetição e monotonia, tão típicas do género. Mesmo com algumas falhas sentidas, este retro dungeon crawler é tão interessante que é daqueles que facilmente fica instalado para podermos lá voltar em períodos de 5 minutos apenas para dar o gosto ao samurai que temos dentro de nós.