É impossível logo à primeira vista não ficar conquistado com a direcção artística de Herald: An Interactive Period Drama, a fazer lembrar em muitos aspectos aquilo que a Telltale tem implementado nos seus jogos de sucesso.

Aliás, é quase irónico que comece esta caçada dedicada a aventuras-gráficas quando a realidade Herald: An Interactive Period Drama não é, e está aliás naquela zona ainda sem nome de cruzamento de jogos de aventura com interacções mais simples e visual novels, um subgénero que mais facilmente pode ser apelidado de jogo à Telltale.

Mantendo essa lógica, a seriedade da temática de Herald: An Interactive Period Drama faz-se, e muito, pelas múltiplas escolhas que vamos fazendo nas árvores de diálogo que se desfolham perante os nossos olhos.

É curioso como a utilização de uma História alternativa da colonização da Índia pelo império Britânico acaba por de forma ficcional os mesmos assuntos e “dores” deste período. Em especial as noções de racismo e de cisão entre os brancos nascidos-na metrópole e os colonizados. Herald: An Interactive Period Drama faz-nos sentir isso na pele do nosso protagonista Devan Rensburg, nascido nas colónias indianas mas educado na metrópole, cuja visão sobre o imperialismo e a colonização (e o Protectorado que ele cresceu a amar) dependem unicamente das decisões que criamos para ele.

Há uma profundidade maior do que a que esperamos, e há também uma tremenda coragem dos criadores do estúdio Wispfire em abordarem um tema tão sensível, permitindo que o direccionamento ideológico e emocional seja decidido pelo jogador e não por imposição apriorística.

Devan, dentro da sua óbvia divisão entre dois mundos demonstra, assim como é habitual na maior fonte de inspiração de Herald, que os temas mais pesados podem muitas vezes ser difíceis de confrontar, mas causam conflitos mais interessantes, fugindo do humor (às vezes expectável) que demarca o género.

Infelizmente Herald: An Interactive Period Drama não é excelente, apesar de levantar-nos questões éticas e políticas importantes. Visualmente exímio, e uma surpresa de ver um estúdio indie com dimensão mais reduzida que a aclamada Telltale a conseguir igualá-la na direcção e execução artística. Mas a temática menos fantasiosa e excessivamente real pode não ser apelativa para todos.

E tudo isto acaba por perder-se sobre alguma ingenuidade criativa e alguma insipiência dos personagens que deviam e mereciam ter mais substância do que aquela que tem, e que se revela bastante mecanicamente naquilo que temos para dizer e fazer.

A colonização não é, nem nunca será um tema fácil. Especialmente na forma como Herald: An Interactive Period Drama apresenta-o como um assunto com múltiplas cores, longe do maniqueísmo do certo e do errado. E este foi o efeito que o jogo teve em mim, um anti-colonização convicto e irredutível.