Todos nós temos um dia mau, um daqueles dias em que estamos com um feitizinho da merda e os Estado-Unidenses chamam “a bad hair day” por razões que lá lhes fazem sentido. Conker, o protagonista do Rapaz Ventoinha de hoje, não tem cabelo mas se alguém na história dos videojogos teve nitidamente um dia da merda, Conker’s Bad Fur Day está no top.

Lançado originalmente no declínio de vendas da N64 em 2001, foi criado pela Rare que já tinha dado aos jogadores da altura Banjo & Kazooie e Donkey Kong 64. Conker é semelhante em aspecto e jogabilidade aos seus “compatriotas” mas as semelhanças acabam aí.

É um jogo onde violência, álcool, tabaco, sexo e asneiras, muitas asneiras coabitavam com o aspecto fofinho e infantil dos jogos tradicionais na consola. Não querendo fazer spoilers de um jogo com quase 20 anos tenho que contar algumas partes importantes para efeitos do artigo fazer mais sentido.

Conker é um esquilo vermelho, bêbado. Começamos a sua aventura com ele a sair de um pub e perder-se ao voltar para casa e a sua namorada, Berri. Antes de mais nada temos que lhe dar comprimidos para curar a ressaca, logo aqui vemos que não é um jogo normal neste ambiente. Chegar a casa com bêbado e/ou com ressaca (combinar os dois é uma proeza que poucos conseguem e que não me orgulho nada de pertencer a essa elite) pode ser uma aventura, mas o jogo não seria grande coisa se fosse só isso. O que acontece é que o vilão partiu a perna de uma das suas mesas e o seu conselheiro disse que um esquilo de cauda vermelha era o melhor substituto. Vai daí, exércitos de criaturas são enviadas atrás de Conker.

Vivendo aventuras absurdas, o jogo eventualmente leva-nos ao capítulo final onde Berri morre para salvar Conker e este mata todos os seus inimigos recorrendo a todos os recursos possíveis inclusive falar com os programadores do jogo.

Quando ganhamos, Conker é tornado o novo soberano do reino mas a sua vitória é um amargo de boca. Apesar de todo o dinheiro que amealhou e ser Rei, ele perdeu a noção do seu objetivo, perdeu a sua mulher e a última vez que o vemos após um discurso estranhamente profundo é no mesmo pub onde começa a aventura, do qual ele sai, mais uma vez bêbado e desaparece debaixo da chuva intensa.

Apesar dos clichés e das constantes referências pop, Conker’s Bad Fur Day é uma prova que na Nintendo também foram lançados jogos adultos, não pela violência ou linguagem mas sim pelo conteúdo. Algo que só vi muitos anos depois de o jogar pela primeira vez, mas se calhar é porque só quando somos adultos é que vemos essas coisas.