Perdoem-me desde já os fãs de surf. A minha total incultura em torno da modalidade obrigou-me a utilizar como trocadilho para o título deste artigo o único surfista cujo nome conheço, e apenas porque foi impossível esquecer o seu grande feito de bater o record do mundo ao dominar aquela onda gigante aqui na nossa Nazaré. Portanto o evidente paralelismo entre McNamara e Tony Hawk, que é possivelmente o maior skater de sempre, é apenas uma coincidência do meu desconhecimento profundo.

Falar em Tony Hawk’s Pro Skater é referir uma das séries de desporto mais inovadoras de sempre, e que conseguiu fazer tanto e tão bom com algo que à partida soaria limitado, ou, em extremo, como um gigantesco desafio.

Longe vai também o tempo em que a verdadeira febre causada por Tony Hawk’s Pro Skater inspirou uma série de estúdios a produzirem jogos de desporto radical, alguns melhores que outros, mas na sua grande maioria verdadeiros falhanços que saturaram o mercado e que foram esgotando a atenção do público para o sub-género.

Ver em 2017 chegar um jogo que tenta aplicar os conceitos e as mecânicas arcade de Tony Hawk’s ao surf é uma verdadeira surpresa. E visto que é o primeiro jogo de surf que alguma vez joguei, posso dizer que é sem sombra de dúvida o melhor jogo do género que já joguei, e simultaneamente o pior.

É possível que o tutorial de Surf World Series tenha sido aquele no qual eu passei mais tempo nestes anos todos de jogador. Foram tantas as vezes em que caí da prancha que por alguns momentos acreditei que o jogo era tão realista que aquele avatar estava apenas a comportar-se como eu se tentasse sequer pôr-me em cima de uma prancha de surf. No areal, amparado por duas pessoas, cairia de certeza.

Se existia um grande nível de intuitividade em Tony Hawk’s Pro Skater (e até em SSX, a tremenda série de snowboarding) e que reconhecemos na herança que existiu em Steep, em Surf World Series parece existir uma dificuldade excessiva na forma como os controlos foram criados. A forma de preparar os truques e movimentos é levada um pouco ao extremo, sendo que temos de efectuar os combos antes de atacarmos a onda, limitando-nos a controlar a prancha para que não sejamos derrubados a meio do movimento.

Como seria de esperar, e dentro das limitações que a transposição de um jogo de surf tem em comparação, por exemplo, o skate, é que Surf World Series rapidamente começa a transparecer a monotonia do próprio jogo e das suas 5 únicas localizações, entre as quais figura a nossa praia de Supertubos em Peniche.

A dificuldade é tremenda, não só pelas expectativas que o jogo cria para a nossa destreza, mas pelas dificuldades auto-impostas pelos próprios comandos que transformam a aura arcade necessária à boa-execução deste jogo uma verdadeira dor de cabeça. Aquilo que os jogos de desportos radicais de sucesso nos mostraram é que o ponto especial entre o desafio e a afinação de comandos é aquilo que transpõe com eficácia um jogo do género para a ribalta.

Infelizmente Surf World Series não é um deles. Talvez a tradução para videojogo de um desporto tão específico como surf crie dificuldades extremas do ponto de vista criativo, ou foi apenas a incapacidade dos Climax Studios que falaram mais alto.