Vender HYPERNOVA: Escape from Hadea apenas como um tower defense é tão redutor como dizer que o Demis Roussos é o tipo anafado do “Goodbye my love, goodybe” esquecendo a belíssima voz que o senhor tinha e a sua prestação, mais jovem, nos brilhantes Aphrodite’s Child.

HYPERNOVA: Escape from Hadea é um tower defense mas é mais, muito mais, e captou a minha atenção por ser promovido como isso mas por mostrar-se ser um dos mais slow paced e densos RTS que contactei nos últimos meses.

O enredo é simples: Hadea, o planeta de onde “somos” originários precisa de ser evacuado, já que a estrela Naidira irá entrar em hipernova. Mas para conseguirmos encontrar os recursos necessários à nossa “fuga para o espaço” precisamos de colectar os devidos bens naturais para construir a tecnologia necessária, e que só se encontra na inóspita lua Haya.

HYPERNOVA: Escape from Hadea possui apenas um mapa e um modo, mas o seu ritmo mais lento e a grande complexidade de todo o sistema de pesquisa e melhorias tecnológicos é tão vasto que é fácil ficarmos absorvidos neste misto de RTS com gestão de recursos e tower defense.

Aterramos a nossa nave-mãe, que é simultaneamente uma impressora tridimensional de novos edifícios e o centro nevrálgico da nossa colónia. Quando criamos uma nova construção ela não se limita a ter uma informação de cooldown até estar pronta, mas vai emergindo lentamente da impressora até que possamos pegar nela e indicar-lhe qual o local onde deve pousar.

Em HYPERNOVA todos os edifícios são móveis, e são-no não só por questões de mobilidade e ajuste estratégico, mas também como elemento de retirada, fazendo lembrar o sistema semelhante criado para os Terran em StarCraft.

O ambiente de Haya é tóxico e para conseguirmos alargar a nossa colónia em busca dos afamados recursos raros precisamos de is estendendo o nosso alcance. Mas é-nos impossível ter colonos ou mesmo edifícios funcionais no meio da toxicidade, e portanto precisamos de ir instalando purificadores de ar que aumentem em diâmetro novas zonas de pureza ambiental. Mas, num sistema de pescadinha-de-rabo-na-boca, para que esses purificadores funcionem precisamos de torres eléctricas conectadas à nave-mãe que estendam o sistema energético pela nossa colónia e que tornem funcionais os nossos edifícios. Esta inter-dependência dos edifícios (uma torre precisa de ar não-tóxico para ser instalado, mas para colocar um purificador necessitamos de energia eléctrica) é uma das grandes gestões da extensão e alcance da colónia.

O crescimento do número de habitantes é outro factor importante para a colónia, especialmente porque é o seu número que determina o acesso a tecnologias progressivamente mais avançadas. Mas pouco podemos influenciar para que os habitantes se multipliquem para além de criarmos condições passivas – através de edifícios que adicionam bónus à reprodução – para que a natalidade aconteça.

Sendo vendido como, e tendo, de facto, elementos de tower defense, a defesa da nossa colónia é uma tremenda dor de cabeça, especialmente se tivermos em consideração um dos maiores ensinamentos que a História nos trouxe sobre o equilíbrio difícil entre extensão e defesa de território.

A lua de Haya é habitada por criaturas que emergem lentamente de cavernas, em vagas, e que vêm atacar a nossa colónia, ao bom estilo de um tower defense. O aparecimento de criaturas mais fortes de forma crescente está interligada ao desenvolvimento da nossa civilização, o que significa que podemos demorar o tempo que quisermos a ir progredindo na tecnologia, porque há determinados patamares (escondidos) que despoletam o aparecimento de criaturas mais fortes.

O grande problema desta interligação de elementos é que para todo o investimento de tempo que dedicamos à nossa colónia, um ataque devastador de uma ou duas vagas de criaturas pode colocar um ponto final ao muito tempo que passamos em torno de HYPERNOVA: Escape from Hadea, e se não tivermos um save point que acautele uma catástrofe só nos resta desistir.

Entrando na fase picuinhas da análise, há um pormenor mecânico que me irrita e que me surpreende o pessoal do estúdio ActaLogic ter implementado uma lógica de touch em tablet a este RTS de PC. Para acedermos ao menu contextual de cada edifício temos de premir o botão do rato em cima dele e arrastar para que as opções surjam. Por muito que isto funcione através do toque, com o clique do rato é um passo extra desnecessário e que complica a já difícil tarefa de micro-gerir todas as incontáveis coisas que estão a acontecer no nosso terreno.

Como este jogo só possui um modo, a rejogabilidade fica intimamente ligada à nossa eficácia de conseguirmos fazer o êxodo de Hadea com sucesso. Toda a vastidão mecânica e tecnológica é interessante mas tenho algumas dúvidas que o seu reduzido conteúdo (de lembrar que após terminado, pouco ou nada mais há a fazer) não justifique o seu preço algo elevado (21,99€ no Steam).

HYPERNOVA: Escape from Hadea tem uma fusão de ideias interessantes e um ritmo que há muito não encontrávamos num RTS, mas a sua falta de conteúdo e o seu preço fazem-nos olhar para outros congéneres que nos manterão ocupados e divertidos durante muito mais tempo do que aquele que demora a fugir de uma estrela a morrer.