Era uma vez um estúdio que tinha um sonho: conseguir espremer um bocadinho da teta putrefacta da febre zombie, ainda que o odor nauseabundo cheire a promessas de dinheiro fácil. Esse estúdio cumpriu esse mesmo sonho, e do meio da carniça ambulante nasceu Dead Alliance.

Dizer que não precisamos de mais jogos sobre zombies é redutor. Dever-se-á dizer que não queremos mais jogos sobre zombies banais, que não consigam ser inteligentes na forma como utilizam esse cliché tão overplayed como o My Heart Will Go On nas rádios entre 1997 e 1998. Em extremo até deveríamos dizer que não queríamos jogos que fossem banais, mas aí já estaríamos a ir longe demais. Às vezes falta carinho pelo shovelware.

Não sei se o título foi suficientemente explícito, mas Dead Alliance é horrível. Uma premissa estranha cuja execução é medonha. O problema aqui não é a bizarria, lembremo-nos que ainda há semanas falávamos desse sonho psicotrópico e genial que é o resultado de cruzarmos Terry Gillian com um RTS em que controlamos uma bola gigante. O ónus do quão mau Dead Alliance é, é que conseguiu passar ao lado de todos os bons exemplos de FPS que utilizam zombies como temática e atirou-os a todos para o lado, como uma fã do Tony Carreira que o ouve e considera-o talentoso, ignorando o que é música a sério.

Um arena shooter com zombies à mistura e algo que pode parecer interessante no papel, durante um brainstorm ou mesmo durante uma trip de ácidos, mas só funciona se quem o produzir souber exactamente o que está a fazer. Coisa que notoriamente a malta do estúdio Illfonic não sabe.

A possibilidade de utilizarmos os zombies que se arrastam pela arena como arma contra os outros jogadores é uma premissa engraçada. Usar os estranhos poderes que Dead Alliance atira para a refrega e que permitem controlar ou dirigir os zombies é algo engraçado mas que na prática não é assim tão divertido. Cada match online torna-se caótico, mas não aquele caótico bom de, por exemplo, estar no meio de um concerto de Amon Amarth. Estar a jogar contra outros jogadores em Dead Alliance é o equivalente ao que imagino ser a diversão de ir ao Pingo Doce naquelas promoções de 1º de Maio.

A quantidade de bugs e glitches deixam-me a dúvida se tornam o jogo absurdamente melhor ou se comprovam o quão mau ele é. Nos primeiros matches, sempre que via os zombies a deslizarem no ar sem se mexerem na minha direcção ficava sempre com a ideia de que deveria ser algum poder especial o de transformar os mortos-vivos em assombrações de filme de terror dos 1980s. Afinal não. São bugs, muitos, daqueles que até me deixam espantado de como é que este jogo conseguiu ser publicado pela Maximum Games em consola. No PC esta falta de cuidado é relativamente frequente, mas é algo verdadeiramente inovador na PS4. Ou então eu tenho tido sorte com os jogos que tenho jogado.

Querem um FPS com zombies e que até tenha alguma componente competitiva online divertida? Já ouviram falar de Left 4 Dead? É isso que querem e que devem pedir ao Pai Natal. Se receberem Dead Alliance é porque se portaram mal, já que o jogo é o equivalente videolúdico de um pedaço de carvão no sapatinho.