Há um paralelismo imediato que podemos fazer entre Tooth and Tail e o álbum Maus, vencedor de um Pulitzer, da autoria de Art Spiegelman, cuja metáfora visual serviu para contar a pesada história do seu pai enquanto sobrevivente do Holocausto. Aí os judeus eram ratos e os nazis os gatos que os oprimiam.

Tooth and Tail vive essa inspiração antropomórfica mas leva a história para a luta de classes na Rússia, com os ratos a tentarem impor a revolução do proletariado, acompanhados de tantos outros mamíferos na tentativa de derrubar a aristocracia e do seu peso sobre o povo.

Ao invés de ser um RTS típico onde construímos a nossa base e vamos recrutando unidades para derrubar o exército inimigo, em Tooth and Tail controlamos apenas um personagem, o verdadeiro agent provocateur que conduz as hostes em direcção à revolução, e sob o seu direccionamento conseguir destruir os inimigos. Para isso temos sim de recrutar alguns animais, e utilizar um sistema de forças e fraquezas para direccionar os soldados certos contra os inimigos ao qual têm vantagem.

Visto que o personagem que controlamos apenas consegue direccionar os restantes, significa que é extremamente vulnerável a ataques adversários, pelo que o temos de proteger na linha recuada como a voz que comanda a Revolução. Neste caso, de forma literal.

Apesar da sua simplicidade mecânica – relembremos que apesar de podermos recrutar novas unidades, é muito mais importante gerir aquelas que vamos cativando à causa versus a velocidade de “treinar” novos soldados – Tooth and Tail consegue dar-nos missões verdadeiramente desafiantes.

Avançarmos com um esquadrão e deixarmos as nossas quintas e os porcos-agricultores (literais, e sem ofensa nesta expressão) à mercê de algum ataque das bestas aristocráticas é um risco demasiado grande que pode seriamente comprometer o caminho da Revolução.

Da mesma forma que uma má gestão das nossas unidades podem levar-nos a perdas demasiado numerosas para que a força do proletariado recupere a tempo para investir de novo contra a opressão capitalista.

Há paralelismos mecânicos com o genial Pikmin, ainda que o ritmo de Tooth and Tail seja intenso e mais stressante. De igual forma, o apreço que sentimos no jogo da Nintendo pela simpáticas criaturas coloridas é o mesmo respeito pelo qual devemos cuidar da força dos nossos camaradas mamíferos na nossa luta em direcção à revolução bolchevique antropomórfica.

Do ponto de vista de enredo, Tooth and Tail é tão delicioso quanto se esperaria de todo o discurso inflamado amplamente política e ideológico, mesclado com este ambiente antropomórfico polvilhado de vez em quando com excelentes pitadas de humor.

Mas a revolução que este jogo do estúdio Pocketwatch Games atinge é mecânica. Conseguir repensar e aligeirar mecanicamente um RTS para abraçar com todo o furor o mundo das consolas e dos comandos, adaptando com precisão o que os jogos de estratégia podem ser num ambiente distante do PC, perdendo em micro-gestão mas ganhando numa visão macro de jogabilidade.

Tooth and Tail é tão bom quanto visualmente cativante. Não tem a mesma profundidade que um RTS clássico, e ainda bem que assim o é. O caminho da luta faz-se lutando. E nenhuma revolução é atingida com demasiados grilhões ao passado.