Há algo de encantador nas produções da Image & Form de Brjánn Sigurgeirsson, não sei se é o ambiente em que inserem os seus jogos, se as pequenas piadas nos seus diálogos, se os personagens principais ou secundários cheios de conteúdo e perfeitamente humanizados apesar de serem na sua maioria robots, ou se é a combinação das suas partes que cria algo maior que o seu todo, tanto nos jogos individuais como em todo este universo expansivo que se estão a tornar os jogos de Steamworld. Já tivemos no oeste selvagem, fomos ao espaço e agora voltamos às paisagens àridas do deserto e das minas onde vivemos a primeira aventura vestindo a pele metálica de Rusty.

Steamworld Dig 2 tem roubado, de uma óptima forma, o pouco tempo livre que tenho para jogar. Devido a ele tenho ignorado tanto um como o outro jogo que analisei recentemente apesar de terem ainda muito para minar de lá e tenho ignorado por completo os que estão no meu backlog para artigos futuros, algo que pode deixar o nosso editor um pouco chateado, mas ele não vai saber, portanto é na boa. A verdade é SD 2 tem esse apelo, essa magia que nos faz voltar lá constantemente, nem que seja por mais cinco minutos apenas. Devo confessar que tenho estado a testar o jogo na Nintendo Switch o que facilita e muito as incursões rápidas no jogo quando assim tem que ser, mas mesmo que não fosse nessa plataforma porque está disponível em todas as actuais e é um jogo que merece ser jogado até num ábaco, se encontrarem um que dê para o fazer. Acho que é do iAbaco 7 para a frente.

Apesar de ser uma sequela e tendo em conta que convém jogar o primeiro antes, isso não é obrigatório. Mesmo assim acredito que qualquer jogador irá tirar um pouco mais Steamworld Dig 2 se tiver familiarizado com a mecânica do seu predecessor, pois irão ver a evolução que aconteceu naturalmente tornando o que já era muito bom, muito melhor. Em tudo é familiar ao primeiro mas com pequenas alterações, pequenas afinações que tornam o jogo mais fluido, como uma boa sequela deve ser, e não uma cópia ou pior, um travestismo da sua origem. No que diz respeito à história, apesar de usar um protagonista diferente, a ligação é infalível, Dorothy procura Rusty o herói do primeiro jogo e vive a sua própria aventura indo parar a locais onde nunca esperou estar.

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Este digger (acho que se pode chamar a este jogo um digger) de inspiração metroidvania é desafiante, além dos cenários desenhados de uma forma labiríntica onde temos que chegar a certo ponto utilizando as ferramentas adequadas, a maior dificuldade está em encontrar o caminho certo num gigantesco mapa que podemos perfurar à nossa vontade. Não é tão simples como simplesmente ir em linha recta para baixo ou para um dos lados, porque há recursos a apanhar no meio e escavar sem rumo ou alguma planificação, mesmo que em cima do joelho, pode deixar-nos longe do nosso objectivo ou tornar alguns inacessíveis. Pelo menos até ter alguns upgrades mais para o final do jogo. Nota-se que todo o mapa foi desenhado ao pormenor permitindo ao jogador mais do que uma opção na maior parte dos casos sem que nenhuma destas seja obvia ou escondida de mais.

Já muito se debateu se os jogos actuais se tornaram fáceis demais para agradar a gerações quem têm uma necessidade de gratificação imediata constante, mas Steamworld Dig 2 não é um desses. Não é excessivamente difícil como um Mega Man, mas também não nos segura a mão todo o caminho como um daqueles pais que acham que os filhos têm que ser os maiores do mundo em tudo e garantem a todo o custo que os seus rebentos não conheçam um fracasso de maneira nenhuma.

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O ambiente inspirado no oeste selvagem norte-americano mas com robots movidos a vapor é uma combinação interessante tendo em conta o valor que a locomotiva teve na exploração desse mundo inóspito. Todo o jogo é coeso em “lore” e em mecânicas (pun not intended). Talvez o melhor de Steamworld Dig 2 seja isso mesmo, como toda a sua fantasia parece real, como tudo nele conta uma história mesmo sem a contar. Um pouco como o universo dos Star Wars originais em que se nota que tudo tem uso, há marcas e passado nas paredes, nos objectos, uma mitologia… Aqui passa-se o mesmo, é orgânico. Duma maneira mecânica e movida a vapor.

SteamWorld Dig 2 é daqueles jogos que nos leva a ponderar o valor monetário de um jogo Indie e dos AAA. Em fóruns e grupos de redes sociais vi várias pessoas pedirem opinião se valia a pena dar os 19.99€ por este jogo por ser um indie que talvez se acabe entre 6 a 10 horas. Provavelmente são pessoas que gastam duas a três vezes mais num só jogo AAA todos os anos, que apesar de terem um tempo de jogo mais extenso têm menos de metade da qualidade de Steamworld Dig 2.

Não tenho dúvidas no facto de o jogo valer o seu preço, porque tenho a certeza que o empenho, dedicação e paixão que todos os membros da Image & Form colocaram neste jogo vê-se desde o primeiro minuto, e isso não tem preço. Talvez no dia em que o consumidor deixe de ver o valor do jogo pela quantidade de tempo que passa nele, poderemos passar a ter a maioria dos jogos ao nível deste.

Como é obvio, SteamWorld Dig 2 leva o mais alto dos selos de aprovação!

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Clapping Seal of Approval!