… e o que isso significa para a nossa produção nacional

Há pouco menos de um ano o Ricardo Mota falava de Syndrome, o jogo de terror que sucessivamente recebeu perguntas e indagações, mescladas com surpresa de “isto é português?” como quem sugere de forma condescendente que Portugal não tem nem nunca terá capacidade para se erguer acima da malfadada e imposta mediocridade.

Ainda há semanas, quando falava do Greedy Guns, aproveitei para lembrar Syndrome. Os dois jogos pertencem a uma tríade (ao qual se junta Strikers Edge, que teima em não ver a luz do dia) que representa, para mim, a charneira de desenvolvimento. No caso dos dois já lançados, são objectivamente produções orçamentalmente reduzidas mas que vão demonstrando a capacidade de quem por cá produz e a qualidade do que se vai fazendo. São jogos com óptimos argumentos para receberem verdadeiros elogios, mas possivelmente quase nenhum que lhes permita destacarem-se no mercado global hiper-competitivo como é o dos videojogos.

São sobretudo os 2 exemplos máximos que produzimos como bandeira da pequena ebulição que vai existindo numa comunidade game dev nacional com características específicas, e que não vão ser alvo de discorrência por agora, por falta de foco, tempo e acima de tudo pela minha falta de vontade de correr à frente de archotes e ancinhos.

Syndrome, como é sabido, foi um dos finalistas incontestáveis do Indie Dome 2016, comprovando o respeito que nutrimos pelo estúdio Camel 101, que ano-após-ano continua a batalhar para melhorar o seu labor, e a mostrar sinais de aprendizagem e melhorias a cada lançamento, com a humildade de quem reconhece o caminho a percorrer mas sabendo que lá há de chegar, um dia.

Como anunciado na quinta-feira passada no Lisbon Game Conference, o novo (e até então inédito) jogo da Camel 101, Those Who Remain, vai ser finalista (novamente incontestado pelo júri) do Indie Dome 2017, mas não sem ao mesmo tempo o estúdio ter passado a outro estúdio português, a Bigmoon Entertainment, um novo passo para o seu anterior jogo: trazer parte da experiência de Syndrome para a Realidade Virtual, especialmente para o PSVR onde foram o primeiro projecto português a chegar à plataforma.

Parece-me, vindo de fora, que esta aventura por terras de VR e de PSVR com Syndrome, neste caso um projecto desenvolvido pelo já algo veterano estúdio Bigmoon Entertainment a partir do jogo base desenvolvido pela Camel 101, passou por um inteligente momento de aprendizagem por parte da equipa, que aproveitou o período pós-lançamento do jogo para experimentar algo de novo (para si).

Syndrome em PSVR não vai fazer crescer a quota de mercado do jogo por si só, mas tem uma importância cabal para o mercado game dev português como um todo. É usual afirmar-se ou sentir-se que neste sector estamos na cauda da Europa e que precisamos de correr muito para compensar o resto dos trilhos. Mas a chegada de um jogo português a um novo meio como o PSVR a menos de 12 meses do seu lançamento (e sucesso) no mercado global prova mais uma vez a confiança que devemos ter nos estúdios portugueses que têm uma visão global do mercado, e cujo objectivo é produzir sempre, e cada vez melhor.

Fica o primeiro teste português para esta plataforma a augurar o que poderá vir aí com Those Who Remain, que poderá ser experimentado na presença dos próprios devs no Indie Dome 2017, durante os próximos dias 16 a 19 de Novembro na Lisboa Games Week, na FIL.