– Pois, mas repara, um dos grandes problemas da linguagem é que a determinado ponto o valor semântico perde-se para dar lugar a simples valor simbólico. Um Bom Bocado, em determinada altura deixa de estar bom. Passa então a ser um Não Bom Bocado? Mas a conversa vai mais longe que isso: O que é ser bom em primeiro lugar?

Source: BimbyWorld.com

– Bem, julgo que algo bom ou mau é um parâmetro subjectivo, ao contrário de ter ou não qualidade.

– Seria de facto bastante cómico que um amante da cultura mexicana, ao pedir um bom bocado, se deparasse com o empregado a chamar dois mariachis para tocarem La Cucaracha.

Quando se fala de um produto ter ou não qualidade pensamos: primeiro num conjunto de parâmetros

$latex a_0,a_1,…,a_k\in ]0,1[$

que categorizam o quanto esse produto satisfaz uma característica k; segundo a média aritmética simples destes parâmetros, ou seja:

$latex \frac{\sum^k_{i=0} a_i}{k+1}$

Por exemplo, assumindo que a qualidade de um automóvel é caracterizada pela sua durabilidade (a0) e autonomia (a1), a sua qualidade será (a0+a1)/2. Mas como determinamos os parâmetros a0a1?

Uma possibilidade é compará-lo à durabilidade e autonomia média para os automóveis da actualidade, no entanto, isso adicionaria uma variável temporal à nossa métrica. Um carro com qualidade 0.75 não será um carro de qualidade 0.75 daqui a 10 anos porque a durabilidade e autonomia média para os automóveis vai ser diferente daqui a 10 anos (melhor ou pior é pano para outras conversas).

Ser bom ou não ser, à partida, considera um conjunto de coeficientes

$latex b_0,b_1,…,b_k\in [0,1]\ tal\ que\ \sum^k_{i=0} b_i = 1$

para cada parâmetro determinados pelo indivíduo, assim, o quão bom é para determinado indivíduo é determinado por:

$latex \sum^k_{i=0} b_i\times a_i$

Ou seja, se eu der mais valor à durabilidade que à autonomia de um automóvel ele é melhor para mim do que a sua qualidade o determina.

E depois há a arte. Ai jesus.

Poderia ser feito uma análise semelhante se considerarmos os princípios que uma obra invoca e quão sucedidas são a segui-las. No entanto, há obras que ganham valor exactamente por negligenciarem esses princípios.

Então onde ficamos? Onde devemos traçar a linha do que é relativo e não é relativo?

A verdade é que toda esta discussão está longe de abolir relatividade. Podemos considerar médias para a quantificação de parâmetros, mas mesmo se o fizermos, o próprio exercício de enumerar características é uma tarefa relativa ou demasiado extensa para ser prática.

Não há consenso, há tempo perdido. Podemos alinhar as nossas atenções de acordo com as pessoas que segundo a nossa óptica dizem coisas acertadas. Ou podemos procurar conteúdo que nos leve a questionar as nossas crenças. Qualquer adjectivação de obra ou produto que defenda perfeição está completamente errada ou é apenas marketing. Independentemente de estarmos a falar de videojogos como produto de entretenimento ou obra para apreciação artística.