Supernatural… Porque o nosso McQueen é, também ele, um detective do sobrenatural!

É um mergulho no passado. Longe vão os tempos em que jogava Leisure Suit Larry, Police Quest ou Day of the Tentacle. The Darkside Detective faz renascer os tempos áureos do point-and-click pixelizado e com um vincado sentido de humor. O jogo foi criado pelo pequeno estúdio Spooky Doorway, que teve os seus Dave e Tracey McCabe a visitar-nos no Indie Dome, no Lisboa Games Week. Na pele de um detective especializado no “lado negro”, vamos, acompanhados do nosso fiel companheiro polícia, desvendando os casos que envolvem o sobrenatural, da responsabilidade da nossa Darkside Division.

Poderia cair na banalidade e ser apenas mais um point-and-click com uns puzzles para resolver, mas a Spooky Doorway fincou pé e fez por marcar a diferença. Subtil, na maioria dos casos, como o genial tratamento da iluminação que dá corpo e ambiente a um grafismo que, de outra forma, não mereceria destaque. O aspecto pixelizado é assumido com orgulho, com os contornos delineados grosseiramente, com o gradiente de cor possível a compor um ramalhete bem arranjado e com os tais jogos de luzes a dar dimensão e corpo a todo o quadro. Outra das preocupações prende-se com o humor. Na palestra que deram no palco do ISCTE-IUL, Dave mencionou que uma das coisas que não lhe agrada nos tradicionais point-and-click é o facto de se estupidificar o jogador, colocando a sua personagem com comentários próprios de quem tem mais dígitos na sua idade do que no seu QI. Querendo fugir a essa ameaça estupidificante, mas querendo manter um apelo cómico (omnipresente, diga-se), a solução passou por Dooley, o nosso Rantamplan em formato agente da polícia. É sobre ele que recai o ónus humorístico do jogo, com comentários que, ainda que pertinentes para a cena em que nos encontramos, revelam uma cândida infantilidade e uma patetice ao nível de um Peninha ou de um… Pateta.

A, B, C, supernatural cases for you and me… and, yes, that’s a floating book!

Dooley não está lá para nos ajudar a resolver os casos. Está lá para isso mesmo, ser pateta. Como subterfúgio para o humor sem estupidificar o jogador, como interlocutor para diálogos cómicos, sim, mas feitos de e para adultos que são, afinal, o público-alvo de um jogo como este. A maior parte dos seus comentários despontam uma incredulidade cómica que o acompanham ao longo de todo o jogo e que vão sendo a figura mais ou menos central do humor em Darkside Detective. Digo mais ou menos porque todo o resto do ambiente se banha em nonsense e em referências à cultura pop apropriadas e manipuladas por forma a encaixarem-se no submundo de Darkside Detective.

E por falar em referências, porque não um Purple Tentacle, de Day of the Tentacle? :)

Com seis casos para resolver, o nosso Detective McQueen e o seu fiel sidekick Dooley mergulham no mundo do sobrenatural para resolver aquilo que mais ninguém da esquadra quer sequer assumir, quanto mais resolver. Ele é fantasmas, ele é portais do oculto, zombies e gremlins. E, claro, monstros! Baralhados, partidos e distribuídos com carinho pelos diversos casos, com deliciosas alusões a escritores, bandas ou jogos famosos. Na retina ficam os fantasmas de Edgar Allan Poe e de H.P. Lovecraft numa infantil birra para ver quem teria o livro mais assustador. Subversivo, inteligente, deliciosamente bem feito. Cabe-nos desvendar tudo isto e resolver as questiúnculas de cada entidade. Tudo isso sendo os outcasts da esquadra, alvo de escárnio pelo nosso flatulento nemesis, o Detective McKing (e o seu penteado perfeito). Flatulento porque (SPOILER ALERT!) a dada altura, tratamos de lhe desarranjar os intestinos. Perceberam?

Ok, esqueçam lá a história da flatulência…

 The Darkside Detective é uma obra de amor. Seis casos bem engendrados, com puzzles engraçados, ainda que bastante acessíveis para jogadores mais acostumados a dinâmicas de point-and-click, personagens com alguma atenção ao detalhe, uma cuidadosa arte a viver de contrastes entre o retro-pixel e os jogos de iluminação mais recentes e muito humor à mistura. É um jogo imperdível para amantes do género. Para os que não o são, continua a ser uma belíssima peça de entretenimento a borbulhar humor.

E, como era feio dar o tease no título e não cumprir depois…