Um ano depois da tentativa de relançar o nosso cadavre-exquis do Rubber, eis que a simples pergunta feita pelo Matthieu à redacção serviu de mote a reiniciarmos o Tudo ao Molho.

Visto que para muitos de nós o Natal foi sinónimo de videojogos, reabrimos as portas da rubrica como um prenda que se desembrulha com alegria, aquecidos pelo calor e amor das nossas famílias. Mas afinal,

Qual a MELHOR MEMÓRIA RELACIONADA COM VIDEOJOGOS E O NATAL QUE temos?

Ricardo Mota

A dada altura o dinheiro não abundava. Tive um Spectrum mas saltei toda a primeira fase de consolas, assim como um 286. Mas tive-os sempre em alturas não relacionadas com o Natal. O mesmo com a aquisição de jogos – que são algo relativamente recente na minha vida. Compro-os independentemente da data.

Mas relacionado com o universo dos videojogos tenho 2 boas memórias do Natal, ambas no ano passado. A primeira foi o Steam Link que ofereci aos meus filhos em jeito de prenda de Natal. Os tempos que ainda hoje passo a vê-los jogar jogos que comprei a pensar neles, com comandos que comprei para eles, no Steam Link que comprei para eles é daquelas sensações boas que não me esquecerei. Poder dar-lhes, sem grandes limites ou reservas, coisas que eu queria ter tido enquanto puto e que não podia ter.

A segunda, também no ano passado, é mais rebuscada e mais piegas, mas entrei no Rubber perto do Natal, em 2015. Isto vai sendo uma família: com altos e baixos, mas uma família. Com malta que salta a barreira do “escrever juntos sobre jogos” para a amizade… isso já é uma memória relacionada com videojogos e um Natal inesquecível. Mas destacaria o natal passado quando enviei para o nosso Machado uma prendinha para a sua primogénita: é uma memória quentinha aqui, uma amizade que nasceu por causa dos jogos. Uma lembrança de Natal que dei apenas pela satisfação de saber que um amigo ia ter um filho.

Matthieu Rego

Diz-se que “crise” em chinês também significa “oportunidade”. Como falo chinês posso dizer que isso é tanga mas a ideia até pode ser verdade. A minha relação com as consolas seguia um ciclo de renovação natural: eu a fazer porcaria na escola, o meu pai partir-me a consola, o Pai Natal a remendar com um modelo mais recente.


É difícil escolher o melhor momento. Venerei diariamente a SNES embrulhada escondida num armário. Uma espécie de falso ídolo do paganismo anos 1990. No entanto posso dizer que a minha maior surpresa foi sem dúvida a PS2. Numa altura em que tinha saída poucos meses antes e os meus pais a tinham condenado ao estatuto de estupidamente cara. Enganaram-me bem. Jogar Airblade com o meu irmão às 6h da manha é provavelmente a minha melhor memória do Natal… Por enquanto.

João Machado

Era o Natal de mil novecentos e oitenta e qualquer coisa entre 6 e 9. Estava na escola primária, mas lembro-me bem, portanto era mais perto de 9. Nesse ano os pais deram-nos uma prenda, uma NES Super Set, com Super Mario Bros., Tetris e Nintendo World Cup. Tinha o adaptador e quatro comandos.


Uma NES, era um esforço brutal para qualquer pai e mãe que quisesse oferecer uma aos filhos, custava algo como quarenta contos na altura, que era mais ou menos um salário mínimo nacional. Vou estar sempre agradecido aos meus pais por isso e tudo o resto.
Durante anos foi a minha única consola, passei montes de horas nela e ainda a tenho em casa. Provavelmente das melhores recordações de Natal que tenho por isso mesmo, não foram só de Natal, prolongaram-se durante anos e anos.

Pedro Nunes

Eu era pequeno e todos os meus amigos falavam de algo em uníssono, era o tópico desse Natal na escola, desde as mini pessoas como eu até aos grandalhões da secundária, toda a gente queria ter o jogo mais falado desse ano, o Pokémon. Eu já tinha Game Boy, mas não era fácil pedir um jogo ao preço de lançamento. Mas nada faria de mim o moço mais feliz do que poder combater com os meus amigos que já tinham o jogo ao lado de um Pokémon feito para deslumbrar, com a sua cauda flamejante, o seu bafo de labaredas, o Charmander cuja evolução encabeçava o Pokémon vermelho fez parte de todas as minhas cartas e listas de Natal. Até ao dia 24, essa bela noite de sonhos e magia, em que a minha tia, contra todas as expectativas me disse que este ano me daria uma prenda melhor que a camisola ou meias costumeiras, e entrega-me aquele embrulho, cuja forma era inegavelmente uma caixa de um jogo de Game Boy, o desembrulhar, sem querer dar ouvidos à minha mãe “desembrulha sem rasgar que o papel dá para o ano”, a alegria quando as letras Pokémon se vão materializando à minha frente só foram interrompidas por uma frase :

“- OBRIGADO TIA, COMO É QUE ADIVINHOU?”

– “O Pai Natal leu as tuas cartas e disse-me!”

– “Mas eu pedi ao Pai Natal o Pokémon vermelho, e este é o azul…”

– “Eu sei Pedro, foi isso que o Pai Natal disse à tia, mas a tia quer que sejas do Porto está bem?”

Portanto a minha maneira de lutar contra o sistema foi escolher o Bulbasaur. Que se f*** o futebol.

Nuno Marques

Embora a minha época de memórias relacionadas com jogos seja o Verão, fruto do meu aniversário ser a 30 de Agosto, tenho uma memoria particularmente prazerosa de um Natal. No verão de 2001, no meu 8° aniversário, a minha família juntou se toda e deu me a minha primeira consola, a bela PS2. Já tinha jogado antes no Game Boy e Game Gear das minhas irmãs, mas esta era verdadeiramente a minha primeira consola. Fruto do preço elevado dos jogos de PS2, a minha família decidiu dar-me dois jogos de PS1, Digimon World e Mega Man Legends 2. Fiquei maravilhado com ambos os jogos, mas sabia que já haviam alternativas mais avançadas na altura. Juntando os trocos que os meus avós me davam ao longo do Verão, decidi alugar um jogo de PS2 numa casa tipo Blockbuster. Eis que me deparo com um jogo cuja capa era extremante simples, apenas um título e o logo em fundo branco: Final Fantasy X. Por esta altura já conhecia a franquia, pois os colegas de turma da minha irmã adoravam e jogavam o VII e VIII a toda a hora e deixavam-me ver e fazer aquele grind mindless que não queriam fazer eles mesmos. Embasbacado com a hipótese de ter um jogo FF ao meu dispor e poder jogar as partes que me apetecesse, agarrei-o logo.
O meu eu de 8 anos ficou de queixo no chão…. Os gráficos eram lindos, a música maravilhosa. Quase todas as personagens tinham voice-over… O meu final de férias foi passado colado ao ecrã! Até que chegou a altura de o devolver… relutantemente lá fui com os meus pais à loja e separei-me do tão amado disco. O tempo foi passando e acabei por me esquecer do jogo, até porque naquela altura ter dois jogos num ano era um sonho e eles mantinham-me mais que satisfeito nos tempos pós-aulas.

Chegados ao Natal, debaixo da árvore havia um curioso embrulho rectangular fino… eu não queria acreditar no que estava a ver. Sabia que me tinha portado bem ao longo do ano e tinha tirado notas excelentes, mas receber três jogos num ano era algo impensável! Ao abrir o embrulho, sou presenteado com a capa minimalista que há meses atrás me tinha enfeitiçado e… não aguentei, fui a correr dar um abraço aos meus pais e tive de combater as lágrimas, tal era a emoção! Longos foram os serões que passei com a minha irmã a jogar aquela obra-prima, inclusive zangamo-nos pois uma vez joguei sem ela e passei algumas das cenas mais importantes do jogo. Bons tempos!

João Antunes

Não me lembro do ano, mas a minha Mega Drive tinha “morrido” há pouco tempo, para tristeza minha e do meu irmão. Para o Natal eu tinha pedido uma Sega (não me lembro se era Saturn ou Dreamcast, mas sei que era Sega, na altura esse nome era suficiente para mim). O meu pai como qualquer outro pai acusou-me de ter estragado a Mega Drive e como tal não merecia outra consola. Obviamente era uma mentira, pelo menos a parte de não merecer outra consola.

Era dia 22 ou 23, estávamos eu e o meu irmão a ver o Canal Panda como todas as noites antes de dormir, quando o meu pai nos chama à sala para vermos uma coisa. Ao chegar à sala deparamo-nos com a visão de o meu pai a segurar um presente grandão daqueles que uma criança adora abrir. Pediu para abrirmos, algo que parecia estranho visto ainda faltarem uns dias para o Natal mas a vontade, curiosidade e nervosismo do meu pai eram tão elevados que me fiz aos presentes como um cão raivoso. Não era uma Sega mas era uma PlayStation 1! O meu coração rebentou de alegria, Tekken 3 e Gran Turismo eram os jogos que acompanhavam a consola. Tantas noites que passei com os meus pais a jogar naquela consola que nem consigo contar! Ainda tenho a menina guardada na minha coleção apesar de já não funcionar.

Marco Janeiro

Bom já não era uma criança, não sei o ano, mas se pesquisarem a data de lançamento do jogo descobrem. O jogo que tinha pedido era o GTA 3, na altura tanto eu como os meus primos queríamos o jogo mas na altura a eles faltava-lhes o componente principal (PS2).

Eu já sabia qual era a prenda e a boa memória não foi abrir a prenda mas sim o mal o “Pai Natal” chegou, abrimos as prendas todas e ignoramos completamente tudo excepto o GTA 3, corremos para o quarto ligámos a PS2 e ao fim de três boots falhados (sim a PS2 tinha disso, alias a minha só funcionava em pé, eu deitava-a para ela ficar segura enquanto não a usava) o jogo arrancou e a partir dai jogámos horas a fio. Lembro-me apenas de me aperceber das horas quando a malta em casa começou a acordar, e foi aí que me apercebi que tinha feito a minha primeira direta na vida. E foi aí também que senti que já estava um homem…

Maria João Andrade

Rodeada de primos que adoravam jogar PlayStation e computador, o bichinho do gaming sempre esteve presente ao meu redor. Porém, tendo em conta que este bichinho nem sempre era compreendido pelos meus pais, ter uma consola ou até mesmo jogos era uma sorte que só conseguia no Natal e a muito custo. Dois anos após ter saído a PlayStation 2 e após muito chatear os meus pais para a comprarem, foi então que naquele magnífico Natal recebi aquilo que mais ansiava com o jogo Rayman 2. O meu entusiasmo era gigante e não demorou muito a que esta se tornasse a minha brincadeira favorita… Com uma particularidade… O bichinho não compreendido pelos meus pais levou a que eles nunca me comprassem cartões de memória, tendo a minha diversão durante muitos anos sido a questão “No dia de hoje quanto é que vou conseguir avançar mais no jogo??”. A verdade é que (durante anos) ficava dias a repetir todas as partes do jogo de novo – feliz na verdade – simplesmente para chegar ao meu recorde pessoal do dia anterior. Lembro-me dos meus primos irem a minha casa almoçar e passarmos as tardes a jogar o mesmo jogo, as mesmas partes, até chegar ao momento onde eu tinha ficado. Bons tempos estes… nos quais eu me resignava à realidade e tinha a maior paciência e felicidade do mundo com pouco.

Já vos disse também que além desse jogo só tive demos da revista PlayStation? E que para mim eram os melhores presentes da vida? Moral da história… no mundo do gaming com pouco satisfaço-me muito!

Ricardo Correia

Os problemas económicos parecem ser transversais a todos e parece-me que se falássemos com uma grande maioria das pessoas que nos lêem, o tom desta resposta seria a mesma. A minha Family Game e os jogos que tive foram um luxo suado, sofrido, que acarinhei sempre como o grande tesouro que eram para mim, sem saber, em retrospectiva, o quanto viriam a definir-me e a marcar o meu futuro. Usualmente tinha 2, 3 jogos com sorte, por ano, porque apesar dos cartuchos de Famiclones serem mais baratos, o dinheiro não abundava para grandes desvarios.
Deve ter sido no Natal de 1992, aquele que ficou mais marcado na minha memória. Foram três jogos verdadeiramente fantásticos que recebi, das pessoas que tanto amo, e que se juntaram para me oferecer, com muito esforço, muito mais do que esperaria, e certamente muito mais do que pediria, que sempre foi praticamente nada. Quando se tem pouco agradece-se o tudo o que se tem, especialmente se esse tudo for amor e carinho. E esses, felizmente, foram em abundância desde tenra idade.
Mas debaixo da árvore de Natal não estava apenas um embrulho com um óbvio cartucho de Famiclone, mas sim 3. Para além do Super Mario Bros. 3, o famoso cartucho azul celeste do qual falei há um ano, um dos beat ‘em ups que joguei mais em toda a minha vida, Teenage Mutant Ninja Turtles III: The Manhattan Project e TwinBee 3: Poko Poko Daimaō, a sequela de um jogo que eu já adorava.


Lembro-me de passar o dia 25 colado à TV, com um sorriso de orelha a orelha. Lembro-me dessa diversão ter-se mantido por largos e largos meses. Mas lembro-me sobretudo que o dia de Natal era aquele que eu recebia um jogo, o qual ia acarinhar durante meses e que agradecia com todo o carinho com um abraço e um beijinho acalorado à minha família. Amo-os por isso mas por muito mais do que conseguiria descrever em palavras.