Há muito ódio injusto para com a série Mario Party. É verdade que há muito que se perdeu do essencial da série, com tentativas de reinvenção de um conceito básico que circundava tão somente com pequenos mini-jogos que satisfizessem grupos de amigos. Aliás, é aqui que eu acho que reside parte do problema de aceitação de Mario Party: por muito que os mini-jogos fossem só por si só interessantes, o sucesso deste género vive de um contexto muito específico: ser jogados com amigos, sentados lado-a-lado, a adicionar um doce sabor a pequenos encontros ou a grandes festas.

Isolar esse contexto é à partida tornar um Mario Party um nado-morto. E essa é a conclusão que podemos já inferir, quase no início deste artigo, que por cima de excelentes decisões em torno de Mario Party: The Top 100, reside um problema fulcral: lançar este jogo para uma consola portátil, no caso a 3DS.

Fica a dúvida se um título destes que serve de comemoração dos quase 20 anos da série não poderia ter surgido uns meses mais tarde, na Switch, onde não só as vendas alavancadas pelo sucesso da plataforma dariam um novo fôlego ao título, como cumpririam da melhor forma o conceito da série. Eu bem sei que esta decisão reside no facto de que a numeração da série principal de Mario Party ser atribuída às consolas domésticas da Nintendo, e que o primeiro jogo da série a sair para a Switch será o Mario Party 11, mas não seriam as características únicas da consola o momento certo para lá lançar este spinoff?

Mario Party: The Top 100 é uma viagem nostálgica, um best of das centenas de mini-jogos que acompanharam todos os títulos ditos principais, e que exemplificam, em muitos dos casos, as verdadeiras masterclasses de game design dos diversos estúdios envolvidos com a série. São ideias e execuções simples que colocam os personagens e os ambientes de Mario à prova, e que demonstram a simplicidade dos conceitos de mini-jogos que aqui existem.

Chamar revisita ao que Mario Party: The Top 100 nos traz é quase enganador. São tantas centenas de mini-jogos que já jogámos ao longo de tantos jogos principais e spinoffs (ainda que estes não estejam incluídos nesta colectânea) que a sensação de estarmos a jogar muitos deles pela primeira vez é frequente. E depois de ter cumprido o modo Island Challenge e de ter jogado a tudo o que o jogo tinha para me trazer, é fácil afirmar: estes mini-jogos não são apenas pérolas de game design, são também um dos momentos mais altos que um bom party game pode algum dia querer almejar.

Os Mario Party são jogos recheados de boas ideias, e até o Mario Party 10 que tanta gente crucificou foi para mim um excelente party game a saber enquadrar na perfeição a assimetria da Wii U. Mas fazer um best of destes na 3DS, mesmo com a eficácia do Download Play? Nada mais é que uma oportunidade perdida.

Um bom Mario Party, ou aliás, uma antologia do melhor que os Mario Party principais (relembramos: lançados para consolas domésticas da Nintendo) tem que ser jogado na televisão, em verdadeiro modo de festa, em que todos os jogadores partilham o mesmo “espaço”. Esta é a definição de party game, aberta o suficiente para que seja divertido para quem está a jogar e também para quem está a ver. Obrigar a que todos os envolvidos tenham de estar presos cada um ao seu ecrã, ou ter que esperar que existam 3DS suficientes para que todos possam jogar, é mais um elemento que quebra por completo o conceito.

Sim, Mario Party: The Top 100 é uma óptima ideia, repleta de óptimas ideias, embrulhada numa péssima ideia. Uma antologia aconselhável apenas a quem invariavelmente vá querer encarar a definição deste party game como uma festa solitária na sua 3DS. Resta-nos esperar que nesta torrente de ports para a Switch a viverem do entusiasmo desmedido da comunidade, que finalmente a consola veja chegar ao seu catálogo um jogo que deveria ter saído originalmente lançado para si. Mario Party: The Top 100 poderá ainda brilhar se for um destes casos. Até lá, é apenas a ligeira memória dos pontos brilhantes de uma série que já tomou tantos erros, em que a própria antologia é apenas mais um deles.