Caçada Semanal #129

Nunca vou perceber esta tradição da Passagem de Ano que muitas famílias têm, e que pelo menos a minha tinha. A quantidade de coisas que eu cresci a fazer à meia-noite de dia 1 de Janeiro equiparam-se a um artista circense, carreira que não prossegui por maior inépcia física do que aquela que a profissão permite.

Usar roupa interior azul clara, ter doze passas na mão e comê-las uma a uma ao ritmo das doze badaladas enquanto se pensa num desejo para cada uma delas (nunca planeei os desejos antecipadamente), com a outra mão com um copo de champagne para brindar, e saltar de uma cadeira para o chão quando o relógio bater a meia-noite. Com tanto aparato, se tivéssemos sacrificado uma virgem no dia 31 de Dezembro e o Cavaco Silva nos tivesse dado a bênção com um beijo na testa e a coisa rapidamente mudava de figura de um Réveillon para uma invocação do Cthulhu.

Esta actividade supersticiosa deve ter sido das coisas que mais me aproximou de ser um protagonista de um platformer, isso e a estranha descoberta no preparatório que até tinha jeito para salto em barreiras, se esquecesse o medo terrível que tinha de me espetar no chão ao tropeçar numa delas.

Uma das últimas caçadas semanais do ano vão ser justamente dois platformers que nos vieram parar às mãos e que de uma forma ou outra abordam o platforming como espírito de vida. E curiosamente nenhum deles faz acrobacias tão grandes quanto aquelas que eu fazia nas saudosas passagens de ano com a minha família.

The Dungeon Power

São tantos os dungeon crawlers e roguelikes que têm de forma hiper-óbvia a palavra dungeon no título que admito que The Dungeon Power me apanhou na curva só pelo facto de este não ser de facto um jogo desses géneros, mas um platformer.

Desenvolvido no Brasil, The Dungeon Power coloca-nos na difícil missão de escaparmos de uma masmorra que se estende por 30 níveis e muitos, muitos obstáculos. É aliás aqui que reside a dificuldade do jogo: o de fazermos um exercício de observação e de destreza similar aos platformers clássicos mas adaptado a uma visão isométrica tridimensional, em que temos de perceber os ciclos e comportamentos das armadilhas para terminarmos cada nível eficazmente.

Pode neste momento ser comprado no Steam por 0,59€, e apesar de não ser o jogo mais bonito do mundo, por este preço compensa bem pelo equilíbrio entre frustração, desafio e diversão que atinge.

Jump Gunners

Uma das melhores memórias de infância de sempre? Não, não é saltar de uma cadeira à meia-noite, é dividir uma tarde de Contra com um amigo, cada um com o seu comando, a tentar ultrapassar tudo o que os senhores cruéis da Konami tinham para nos tentar derrotar.

O mercado indie tem visto chegar às suas fileiras uma série incontável de jogos do género, a tentarem emular essa experiência. Mas uma das mais diferentes e divertidas é sem dúvida Jump GunnersE porquê?

Primeiro porque não se limita a replicar uma fórmula repetida à exaustão e adiciona alguns elementos curiosos à jogabilidade, sendo que o mais óbvio é aquele que dá nome ao jogo. Em Jump Gunners o coice das nossas armas é tão grande que as usamos também como jet packs para podermos alcançar as plataformas mais distantes, criando aqui uma diversidade tão grande quanto divertida. Num indie co-op até 4 jogadores com uma apresentação soberba, em que a sua pixel art nos deixa quase de lágrimas nos olhos de tão boa que é.