Havia algo na simplicidade dos jogos de corridas para consolas que ocuparam a nossa infância e adolescência que os tornam inigualáveis a qualquer coisa que tenha sido feito desde então. Mesmo com a aproximação ao realismo da condução, há algo de verdadeiramente primordial na forma como esta abordagem de “arcadas” que estes jogos tinham e que nos mantinham cativados por semanas inteiras.

No meu caso (e acredito que seja transversal a muitos dos que nos lêem), o epitome destes jogos circundavam-se em duas sérias, Micro Machines, os videojogos baseada nos famosos brinquedos, e R.C. Pro-Am, tornada famosa pela Nintendo que era bem mais complexa do que aparentava à primeira vista.

O que diferenciava estes jogos de outros jogos de corridas era a abordagem conceptual do percurso como se de uma pista de brincar se tratasse. Aliás, as duas séries falavam, cada uma à sua maneira, de carros em miniatura, o que justificava esta aproximação dos circuitos a uma pista de montar que pudéssemos ter recebido num Natal próximo.

É curioso que nem o lançamento recente de mais um Micro Machines depois de duas décadas de intermitências de lançamentos veio aplacar essa saudade, especialmente com o foco dado a arena de batalha e não às curtas, simples, e criativas corridas dos jogos originais.

Surpreende-nos que este espaço muito específico dos jogos de corrida tenha sido um candidato “externo” a ocupá-lo. Apesar de ter sido lançado o ano passado para outras plataformas, foi recentemente com o lançamento de Mantis Burn Racing na Switch que demos conta da sua existência. O impacto inicial é surpreendente pelo quão próximo este jogo do estúdio VooFoo Studios está dos brilhantes e simplistas (na acepção mais positiva da palavra) jogos com os quais crescemos.

Controlos simples, de um ou dois botões mais os direccionais, em que a nossa destreza no percurso é mais importante do que muitas das inovações que outros jogos de corrida trazem, mas que certamente só serviriam para criar ainda mais ruído neste regresso áureo aos jogos de corrida em vista aérea.

Com três tipos diferentes de carros com forças e fraquezas distintas, Mantis Burn Racing consegue responder a uma dificuldade conceptual tremenda: como é que se mantém esta sensação de pista de corridas, trazendo-a para um ambiente hiper-realista, distante das miniaturizações de cenário que os dois exemplos que demos criaram?

A resposta é simples: focando quase toda a sua jogabilidade na forma como manobramos os carros, dando-nos a real sensação de circuito reconhecível, ao qual vamos conhecendo as curvas, contra-curvas e as muitas manhas que as pistas dos jogos clássicos tinham e que aqui estão presentes.

Com um excelente modo single player e a possibilidade de multiplayer, exponenciado pela Switch, em que nos basta entregar um JoyCon a outra pessoa para revivermos o melhor dos jogos de corrida competitivos de sofá, que nos fizeram as maravilhas no início dos anos 1990.

Mantis Burn Racing é, a par de Mario Kart 8 Deluxe, o melhor jogo de corridas para a Switch, ainda que se foque em aspectos mais clássicos que vão mexer-nos nas melhores memórias da era da NES. E fá-lo de forma magistral e ao mesmo tempo tornando o jogo visual e mecanicamente tão contemporâneo quanto ser-lhe-ia possível ser.

A Codemasters que olhe para este exemplo e perceba com que peças se monta um jogo de Micro Machines digno desse nome. Ou que a Rare queira ressuscitar R.C. Pro-Am, quase 30 anos depois da última iteração. Fica o desejo para 2018?