À primeira vista desenhar um jogos de plataformas sem a possibilidade de saltar é como preparar um cheeseburger sem queijo. Ou pelo menos esta seria a reacção fácil se não tivéssemos um caso tão curioso (e tão delicioso) como o de Magibot, o simpático indie criado pelo Studio Baikin, e que viu a luz do dia nas últimas semanas de 2017.

Antes sequer o que diferenciava Magibot de pázadas (como diria o João) de jogos medianos e medíocres que se espalham pelo Steam como herpes, aquilo que nos conquista quase de imediato é a sua direcção artística.

Quebrando com todas as barreiras de aborrecimento de assets pré-aquecidos no microondas, Magibot traz-nos um ambiente cruzado entre um doce livro para crianças, com a construção de mundos reminiscente de Ori and the Blind Forest. O protagonista, ILO, é um robot feiticeiro com um chapéu bicudo na cabeça, com a missão cheia de esperança de conseguir reerguer os pilares de terra-formação que irão eventualmente salvar a Humanidade da extinção certa.

ILO possui um livro de feitiços que tem de utilizar para completar cada um dos 40 níveis que constituem Magibot. Mas como afirmámos logo no início, Magibot é um platformer onde o nosso protagonista não consegue saltar, mas utiliza todos os feitiços à sua disposição para conseguir resolver todos os perigos e obstáculos que se encontrem no seu caminho.

A forma como os criadores de Magibot quiseram “resolver” a monotonia do género é verdadeiramente interessante. Grande parte dos puzzle platformers envolvem acima de tudo reflexos e destreza, misturados de forma equilibrada com o raciocínio. Visto que ILO não consegue saltar, a forma como temos para ultrapassar os obstáculos bebe mais de elementos dos jogos de estratégia do que do “seu” próprio género.

Em cada nível temos um número fixo de feitiços que podemos invocar, e é com estas limitações que temos de quebrar os puzzles que os autores nos apresentam. Para isso temos de entrar em “modo de colocação”, pausando o jogo, e criando esses feitiços nos pontos indicados (uns círculos interactivos que “respondem” às nossas magias). Seja criar umas pequenas elevações para que possamos atravessar abismos ou servir de escudo contra os projécteis dos inimigos, ou mesmo arremessar-lhes bolas de fogo para os destruir, a resolução de Magibot passa exclusivamente por analisar os cenários possíveis com o número de feitiços limitados que temos.

Misturar estratégia com jogos de plataformas não é a receita mais frequente do livro, e é por isso que Magibot tem um sabor verdadeiramente distinto das propostas que o mercado indie nos tem feito. Desafiante e acutilante ao mesmo tempo, substitui o treino muscular do nosso comando de um protagonista pela necessidade de reflexão e de perceber a sequência de acções que temos de preparar para “bater” cada nível.

Com uma apresentação visual e musical surpreendente, Magibot é um dos pequenos grandes indies que não têm espaço para serem ouvidos, no meio de tanto ruído de lançamentos. O que é indubitavelmente uma pena, porque com alguma aprendizagem que tem de alguns clássicos (em cada nível existem 3 coleccionáveis opcionais que dificultam o término de cada nível), há tanto de bom neste jogo que vale bem a pena as cerca de 7 horas de desafio e doçura pós-apocalíptico que nos dá.