O meu sogro dizia-me que quando ele era miúdo nos anos 1940 que o seu grupo de amigos brincava animadamente a imaginar que tinham no pulso um dispositivo que lhes permitia ver e falar com alguém à distância. Hoje, 70 anos depois, já fiz tantas videoconferências com ele que acredito que lhe seja difícil imaginar o tempo em que ele achou que essas possibilidades estavam apenas no campo do sci-fi.

Sendo umas décadas mais novo, também há uma série de “mistérios” da tecnologia que existem hoje e que durante muito tempo habitavam a minha esfera da imaginação. Sempre sonhei com aquilo que são hoje os serviços de streaming, com bibliotecas inteiras disponíveis ao alcance de um clique, ou, motivado por filmes que marcaram a minha infância como TRON, sonhar com o que poderia ser a Realidade Virtual.

Estamos ainda a alguns anos da imersão quase sobrenatural que os diversos meios culturais sempre preconizaram para o VR, com experiências quase extra-corpóreas que nos fazem sentir verdadeiramente noutra realidade que não a nossa.

Mas há experiências que existem já nos dias de hoje, com as constrições tecnológicas dos dispositivos e plataformas que dispomos que nos levam a uma imersão surpreendente. E desde o lançamento para PSVR (e também HTC Vive e Oculus Rift) que Sparc é um desses exemplos.

Desenvolvido pelo estúdio CCP, Sparc comprova que a melhor forma de tornear os limites técnicos contemporâneos no VR é apostar na simplicidade, estilização visual, e acima de tudo na capacidade de criar mecânicas e experiências atractivas que nos mantenham “desligados” do mundo real.

Prometendo ser um desporto de Realidade Virtual, Sparc é divertido e criativo e funciona realmente neste campo: ou de inventar uma modalidade a ser levada a cabo em ambiente VR, e com regras e estímulos de jogo suficientemente atractivos para nos manter conectados.

Sparc é um desporto de duelo, em que dois jogadores se encontram num corredor fechado, frente-a-frente, por onde irão ricochetear duas esferas de energia (cada uma da sua cor) pelas paredes, tecto e chão. O objectivo é simples: conseguir acertar com alguma dessas esferas no adversário, levando-o a falhar o embate na bola com o seu escudo.

Imaginemos o jogo do mata (dodgeball para os anglo-saxónicos) mas jogado no 1 para 1, e em que a bola é brilhante e saltitante e pode ser defendida com um escudo de energia no nosso braço, agarrada (no caso da bola da nossa cor) ou simplesmente esmurrada para longe. Se nos desviarmos da bola do adversário e esta acertar na parede atrás de nós (marcando “golo”), ela crescerá de tamanho e ficará mais rápida, tornando-se mais difícil de defender.

Visto que este jogo deve ser jogado com os Move ou os controladores do HTC Vive, é uma actividade verdadeiramente gestual e física, e não é incomum que sintamos depois de uma sessão de jogo que nos estivemos a exercitar. Porque na realidade estivemos.

Sparc é muito simples mas é das experiências VR mais divertidas que já tivemos. “O desporto do futuro” como é promovido é uma prova que esse mesmo futuro não está para vir. Na realidade ele já chegou há algum tempo, deu-nos uma palmadinha nas costas e seguiu o seu caminho, imparável.