Depois da revelação que deixou grande parte do mundo tecnológico embasbacado com o arrojo da Nintendo, sentimos a “missão” de explicar um bocadinho mais aprofundadamente como é que cada um dos três Toy-Con funcionam do ponto de vista técnico.

Para além da montagem e da componente mais manual de toda a construção dos Toy-Con que existe como indicámos no artigo do Observador, temos aqui também uma grande vertente de descoberta em torno destes objectos.

Esta fase de descoberta envolve não só as ferramentas e bases que a Nintendo nos dá para personalizarmos os nossos Toy-Con mas também para desenvolvermos novas propostas de criação. Não será de espantar que pouco tempo depois do lançamento oficial do Nintendo Labo que comecem a surgir novas ideias, novos cortantes criados e desenvolvidos por utilizadores e que as partilhem na internet. A probabilidade de algo semelhante acontecer é enorme, especialmente se tomarmos em consideração o grande envolvimento que as comunidades afectas à Nintendo têm com a sua participação online. Reutilizar alguns destes Toy-Con noutros jogos poderá vir a ser uma grande possibilidade, oficial ou oficiosa, e decerto que a grande matriz do Labo, a imaginação, será a arma a ter em conta no futuro para a Switch.

Carro telecomandado

Tanto a complexidade como a tecnologia deste Toy-Con são possivelmente as mais simples, e é normal que a própria Nintendo o encare como uma espécie de tutorial. Como já devem ter visto pelas imagens promocionais (do qual incluímos aqui o Chicken, the Impaler), o “carro” não tem rodas, mas tem umas pequenas ”pernas”.

A locomoção da estrutura deve-se à grande vibração dos Joy-Con, cada um deles paralelamente colocados nas faces laterais da estrutura. A própria Switch recebe um pequeno cartão com antena apenas pela piada para a encararmos como um verdadeiro comando à distância. No ecrã, dividido em três colunas, temos 3 possibilidades: controlar individualmente cada Joy-Con carregando no botão correspondente (e aqui ajuda ter Joy-Con de cores distintas) já que o mecanismo para virar o carro é feito através da vibração de apenas um deles, ir em frente activando os dois Joy-Con ao mesmo tempo, e abrir o painel central de configuração do carro.

É neste painel que podemos abrir uma porta do comando para configurar a frequência de vibração dos Joy-Con (para afinar a velocidade/desvios que o Toy-Con possa ter) para além de uma pequena janela no centro que está a mostrar em tempo real o que a câmara de infravermelhos está a ver. É com esta possibilidade que se pode jogar àquela posta de obstáculos totalmente às escuras, e guiando o nosso Toy-Con apenas com o que a câmara de infravermelhos nos mostra.

Para já estavam disponíveis mais dois modos multi-jogador: o de corrida (em que cada jogador utiliza a sua Switch) e o de Sumo (onde ambos os jogadores partilham a mesma Switch), em que o giroscópio dos Joy-Con informa a consola se algum deles foi derrubado e declara o vencedor e o vencido.

Cana-de-pesca

Uma construção bem mais complexa, e que demora uns vinte minutos a montar na sua totalidade. Construímos as peças em separado e quando as vamos encaixando umas nas outras e vemos a cana-de-pesca a tomar forma, e a ser perfeitamente funcional, é um dos momentos em que toda a gente expira uns “Ahhhh!” espontâneos.

Com a cana retráctil e com o carreto funcional, este Toy-Con é constituído por duas partes, todas elas sólidas, com imensos suportes e reforços estruturais para garantir que nada se desfaz com o uso corrente, tendo em conta a fadiga natural de um material como o cartão canelado. A cana é a primeira parte e o “mar”, a base onde entra a Switch e a ponta do fio, são a segunda.

Os dois Joy-Con são inseridos na cana, um na base e outro no carreto, e são estes dois que dão a informação instantânea ao jogo na Switch da direcção em que temos a cana e o carreto mostra a profundidade onde está o nosso fio e o nosso isco. Do outro lado, um carretel dentro do “mar” permite recolher a linha de volta para “dentro de água”, num sistema curioso de aplicação de estruturas simples.

Do ponto de vista de jogo é mesmo surpreendente a forma como existe uma ligação contínua entre a nossa linha real, presa à nossa cana de cartão, e aquela que aparece no ecrã. Um bom teste para isso (passado com nota máxima pela Switch) é agitarmos a cana para os lados e permitir que esse movimento abane o fio. Depois de o fazerem vão perceber que a coisa está afinada ao milímetro, e essa transposição do real que “entra” no digital é um passo de quase mágica.

Piano

A jóia da coroa dos três Toy-Con, e aquele que é mais surpreendente pela aplicação simples da engenharia do cartão e das características dos Joy-Con. Antes de falarmos de todos os elementos que o piano possui é mais simples explicar o que está por trás do véu do piano, e como é que a Switch consegue mimetizar sem qualquer delay o acto de tocar uma tecla de cartão e a reprodução do som.

E como é que ela faz isto? De forma simples. Nas traseiras do piano existe um orifício onde inserimos o Joy-Con. No verso de cada um dos componentes do piano existe uma pequena lista branca reflectora que é identificada pela câmara de infra-vermelhos quando cada tecla é pressionada. Esta funcionalidade é perceptível em tempo real através do modo Discovery, que nos mostra o que o Joy-Con vê no interior do ponto de vista de informação. Sempre que pressionamos uma tecla ou activamos outra funcionalidade a câmara detecta-a e activa a função correspondente.

Para além de possuir uma oitava inteira com as suas 13 teclas, há uma curiosidade deste piano que é utilizarmos uma alavanca lateral para subirmos ou descermos mais uma oitava, elevando para um alcance de 3 oitavas um mero piano feito de cartão canelado que deixaria em êxtase o Schroeder se ele existisse realmente.

Mas as curiosidades do piano não ficam por aqui. Para além de um botão com uma música pré-gravada (como todos os nosso pianinhos e teclados de infância tinham), traz também um aspecto de sintetizador com a introdução de umas roscas. Essas roscas têm códigos de cor por espessura de barra reflector que informam a câmara de qual o som de sintetizador a reproduzir (que inclui vozes de gatos a miar) e uma linha a traço interrompido para que o Joy-Con saiba para que lado estamos a rodar esta “rosca”, e que funciona como “pedal” de expressão das nossas teclas.

Por último, temos um scanner de modulação de ondas, onde podemos introduzir umas placas (até recortadas por nós) e cujo formato vai interferir com a frequência do som. O exemplo que tivemos foi com uma rectângulo com dois cortes angulosos e triangulares que, depois de lidos pelo scanner, serviam como modulador de som como nos sintetizadores clássicos. O que significa que qualquer cartão recortado com formas (sejam elas poligonais ou sinusoidais) vai surtir efeito como modulador de som.

Depois de vermos como é que um piano de cartão tão pequeno funciona com todas estas modalidades e possibilidades (e o pessoal que é músico deve estar a sorrir com o que este Toy-Con consegue fazer) percebemos a verdadeira inovação que aqui é feita com a utilização de materiais tão simples quanto o cartão. Basta usar-se algo que é notoriamente abundante nas equipas de desenvolvimento da Nintendo: a imaginação.

Editado às 16h27, substituída a palavra “prensado” por “canelado”, como alertado por um leitor.