EU SÓ QUERIA UM BLACK AND WHITE NOVO.

God simulators. Esse nicho estilístico de jogo, com muito poucos aventureiros a arriscarem navegar nas suas águas (80% das vezes, Peter Molyneux, o qual eu carinhosamente apelido de “A Electronic Arts, mas toda junta no mesmo gajo”).

Já vi partidos cumprirem maior percentagem de promessas do que ele por jogo.

Não me levem a mal, estou muito grato a quem investiu neste género que me desperta sempre curiosidade, mas dificilmente mandam uma para a caixa. Nem sei se vou incluir o Spore aqui no meio, mas há tanto potencial criativo e inexplorado neste género que não percebo como é que acaba tudo igual (posso ou não estar a referir-me a Black and White 2, Godus e a Crest).

Vamos lá ver o que calhou desta vez na raspadinha.

Espero que seja tão indirecto como o livre indirecto contra o Porto. (Sim, aquele que saiu no meio campo e acabou à entrada da área).

Versão : 0.4.qualquercoisa. Ou seja, o clássico Early Access, também conhecido por: “É só pa bers cumo tá, a gente vai fezendo u que pod“. Se os outros GodSims me ensinaram alguma coisa, é que ser um Deus, é extremamente difícil. Mas para pôr as coisas em pratos limpos e para se conseguirem relacionar com a minha experiência em Crest – an indirect god sim (daqui para a frente apelidado apenas de Crest para poupar), imaginem o seguinte:

São os donos de uma empresa e chega hoje o estagiário novo.

Querem que ele vos traga um café, mas o pager da empresa, em vez de possuir um teclado qwerty, só possui cerca de 20 teclas.

10 delas com verbos (sendo que 5 são apenas a negação dos outros 5), e outras 10 com os locais e tipos de funcionários da empresa, e claro, alguns não podes usar porque ele é de outro país e ainda está a aprender Português.

Tipo isto Então obviamente decides dizer que o funcionário novo – porque é dele que estás a falar – devia usar a acção comer, porque é a que mais se adequa, relacionando tudo com a entidade patrão.

Passados dois minutos aparece a recepcionista de 19 anos (que contrataste faz agora três anos, depois do estágio curricular, dois estágios profissionais e meio ano de voluntariado na empresa), com as suas meias de renda, ar sedutor e uma credencial a dizer “ilegal”.

Bem, realmente a funcionária mais nova tentou usar a ação de comer o patrão, mas não era isto que pretendíamos de momento.

Temos então que mandar uma mensagem extra a referir que a receptionista / não comer / patrão , e aí eles já percebem que estavas a falar do estagiário mais recente e não do funcionário que nasceu mais tarde.

O problema é que ele aparece com a marmita na sala do chefe. Não era de todo o que queríamos, porque chamar a recepcionista outra vez para limpar as migalhas da sandes de torresmos (sim, isto é uma empresa em Lisboa) seria constrangedor.

Surge então o dilema de mandar o funcionário mais novo ir à cantina vezes suficientes, até ele aprender alguma palavra que seja minimamente relacionada com o que queremos que ele faça.

Porque nós estamos trancados e não conseguimos sair do escritório.

E somos mudos.

E é isto Crest.

Após uma introdução que nos explica que antes não havia nada, depois havíamos nós…e agora há os humanos que temos que seguir, somos levados ao nosso novo mundo.

Ir às opções gráficas desligar as sombras é derrota instantânea.

Começámos com um punhado de aldeões, que não fazem rigorosamente nada. (Vá-se lá saber como é que conseguiram chegar à idade adulta antes da nossa intervenção divina).

O “tutorial” (tal como a alcateia é um conjunto de lobos, tutorial é o nome científico que Crest atribui a um conjunto de pop-ups), informa que botões fazem o quê, dá-te uma palmadinha nas costas e segue a vida dele, não deixa objectivo, metas a alcançar, é o “olha, vai deusando por aí”.

Pomos então mãos à obra e escrevemos o nosso primeiro mandamento.

“Aldeões perto do mar pescar”.

E lá vão eles todos contentes.

“Aldeões mais velhos alimentar aldeões mais novos”

Villager 4 foi comido por villager 2.

WHAT?

(Espero que implementem as 10 grandes pragas)

Ou só uma, por favor. Dá vontade.

Em certas coisas posso considerar Crest a prequela do Black and White, chamar-lhe-ia : ______.

A premissa do jogo para já é esta, existir, e fazer com que os totós da nossa ilha continuem a existir.

Em cerca de duas horas consegui:

  • Desbloquear 90% dos verbos, nenhum deles me permitia insultar os meus seguidores.
  • Viajar para ilhas diferentes.
  • Dar o meu escasso alimento aos leões assassinos.
  • Leões esses que eu pedi várias vezes e de todas as quatro maneiras diferentes que arranjei que fossem mortos,comidos,destruídos e evitados.
  • Minar ouro, metal e cristais. Que não servem para nada a não ser umas estátuas para dar boost à produção.
  • Criar guerra entre os aldeões mais velhos e as cidades com pessoas com filhos. Seja lá como for que os meus seguidores deduziram isso.
  • Receber dicas dos meus aldeões falecidos que eram ainda menos claras que os mandamentos que eu lhes tinha escrito em vida.
  • Divertir-me.

Culpa-me a mim de teres sido apanhado com a mulher do vizinho culpa.


O potencial está lá, a banda sonora não é chata, os visuais são apelativos, mas ainda está muito verde. A interface precisa de sérios melhoramentos, a certa altura tinha 40 mandamentos com interpretações subjectivas que tinha que decidir se eram ou não do meu agrado. O sistema de só podermos escrever um mandamento por cada 3 de “influência” devia ser repensado na minha opinião. Ao início ou quando o jogo está a correr mal e os nossos seguidores não geram influência só podemos fazer um mandamento/acção por dia e o jogo fica ainda menos interativo que o mountain simulator.

Falta um objectivo: jogar-se por tempo indefinido quando já se desbloqueou tudo é bastante desnecessário do ponto de vista da nossa agência perante Crest. Os mapas serem gerados aleatoriamente foi engraçado, tirando quando a minha cidade fez spawn em cima de uma floresta povoada por leões e perdi no dia seguinte.

Em suma, está no bom caminho, se for bem trabalhado irá valer muito a pena, mas tem que haver mesmo muitas mais features, eu diria para aguardarem pela full release.