Quase 4 anos depois de termos estado pela primeira vez  frente-a-frente com o misterioso The Dealer, é altura de revisitarmos a sua carruagem e que perigos nos esperam nesta sequela do estrondoso Hand of Fate.

Aquilo a que o estúdio australiano Defiant Development se propôs a fazer no primeiro jogo não era inovador per se. É simples de olharmos para Hand of Fate e vermos uma colagem de muitas referências distintas e rapidamente identificáveis, numa colagem dinâmica e coesa que resultou numa óptima interpretação dos RPGs clássicos. A forma como o jogo nos levou a passear num cruzamento de um Fighting Fantasy mesclado com um Action RPG só foi ainda mais glorioso na sua execução por toda a concepção do brilhante ambiente que o rodeia.

Regressamos à excelente ideia de que fomos convidados por uma estranha entidade a um bizarro jogo de cartas que nos está a contar uma história, e que as vivemos a cada carta, como se as suas faces ilustradas fossem um capítulo de uma lenda em que o protagonista e o leitor são uma única pessoa: nós mesmos. O destino, como diria o outro, está gravado nas cartas, e é na sorte ou no azar delas que é traçada a nossa história.

Mas se aquilo que eram as fundações de um bom jogo com o cruzamento de boas ideias já se tinha materializado em Hand of Fate, percebe-se que foi o seu sucesso que catapultou a elevação de qualidade de produção para esta sequela. Não se limitando a recriar o que de melhor tinha acontecido no jogo original, Hand of Fate 2 vem complexificar, estender e melhorar todos os aspectos que provêm do anterior.

Passaram-se então 100 anos desde que derrotamos os The Dealer ao percorrer todos os 13 cenários que ele tinha para nos contar, e com o qual desafiava a nossa vida e a nossa sorte. Neste regresso “com uma vingança”, o The Dealer aprendeu muito no seu exílio e melhorou os perigos e as armas à sua disposição para nos derrotar, estendendo agora a sua história mortal por 22 cenários distintos.

A primeira e mais óbvia melhoria entre o jogo original e este é a qualidade visual entre os 2 jogos. O antecessor tinha um ambiente bem-conseguido, mas percebe-se o investimento artístico e o incremento de orçamento entre os 2, tornando este segundo jogo uma verdadeira pérola artística dentro do género. A melhoria das animações, as texturas quase manuais que cobrem figuras e cenários, ajudam a integrar de forma exímia a jogabilidade com o seu brilhante interface, todo ele baseado em cartas com um tom envelhecido.

A introdução de companions ao nosso protagonista traz uma nova camada de personalização ao jogo. Se ao baralho do The Dealer de cada missão podemos adicionar algumas cartas nossas de encontros aleatórios e de equipamento possível de ser encontrado pelo caminho, adicionar um personagem para nos ajudar vem melhorar em muito a nossa aventura. Para além dos seus contributos para o decorrer de cada uma das missões, trazendo história pessoal para a mesa, é no combate onde este efeito se percebe ainda mais.

O combate, esse, foi em muito aprimorado desde o primeiro título. Com a mesma aura inspirada nos jogos de Arkham em que as lutas são bailados ritmados de pergunta, resposta, acção e reacção, mas complexificada com comportamentos do nosso equipamento e dos nossos inimigos. O segredo do combate de Hand of Fate 2 é a forma como exploramos as vulnerabilidades dos nossos adversários e tentamos tirar partido das nossas armas.

Um inimigo ágil dificilmente vai sofrer muito dano com o nosso pesado martelo de duas mãos, mas outro com imensa armadura certamente vai sentir o impacto da nossa arma. É nesta gestão do nosso inventário que Hand of Fate 2 encontrou forma de melhorar o combate, que por si só está mais fluído e mais dinâmico. Mas também mais punitivo, com os nossos erros a serem rapidamente denunciados com uma valente mordidela na nossa parca barra de vida.

Em praticamente todos os aspectos esta sequela consegue não só respeitar o que foi anteriormente feito, como levá-la longe, melhorá-la, e tornar a nossa experiência à mesa do The Dealer como um grande momento dos RPGs. Hand of Fate 2 saiu no final do ano passado e foi um dos jogos mais injustamente esquecidos de um ano cujos padrões de qualidade foram sobejamente elevados. Para quem tem saudades das suas Aventuras Fantásticas, mas aqui narradas por Anthony Skordi que dá voz ao vilão, e para quem quer ver como é que em todos os aspectos se consegue criar um excelente RPG clássico com elementos de acção. Hand of Fate 2 é um dos melhores RPGs indies disponíveis na actualidade, e nem precisamos de saber ler cartas para o afirmar.