Candleman The Complete Journey é um platformer com um conceito simples mas com uma execução maravilhosa, que começou o seu caminho pela escuridão ainda por terras do Kongregate. Desenvolvido com base num par de ideias simples, o desafio que Candleman traz para os platformers parece até a antítese do próprio género, já que consegue interligar a destreza do controlo de saltos com a percepção e construção mental e espacial, num ambiente tridimensional.

Vivendo a pele, ou aliás, a cera do titular Candleman, temos de percorrer uma série de níveis na escuridão. Podemos carregar no botão para acender o nosso pavio, mas este é um recurso limitado, já que nós derretemos após 10 segundos de chama acesa, sejam eles consecutivos ou não.

O segredo passa por ir carregando a chama em fracções de segundos, o que não só nos permite ter uma ideia de onde estão os precipícios como deita uma pequena gota de cera que se solidifica no chão e que permanece mesmo se morrermos. Há uma grande dose de estratégia na forma como utilizamos os parcos dez segundos em que conseguimos arder o pavio antes de derretermos por completo e morrermos.

Pelo caminho encontramos outras velas – ainda que sem explicação nós sejamos a única consciente – que podemos ir acendendo, e algumas delas servem-nos de checkpoint, permitindo que continuemos da sua posição se morrermos. Quando isso acontece é curioso depois de fazermos respawn de vermos pequenos círculos cinzas no chão a demarcarem os pontos onde acendemos o nosso pavio e onde derrubámos uma gota de cera, como um trilho de migalhas de Hansel e Gretel.

Se mecanicamente (e conceptualmente) o jogo é simples, é a sua direcção artística que surpreende para um “pequeno indie”. O trabalho aprimorado de luzes e a forma como ela brinca nas superfícies, fazendo jogos cromáticos contrastantes com a escuridão, tornam cada nível de Candleman uma pequena grande amostra da qualidade dos seus criadores. A proximidade estética (e qualitativa) dos cenários de Candleman e Little Nightmares é um tremendo elogio à capacidade de trabalho do estúdio Spotlightor Interactive, que consegue, com toda a descrição que rodeia o seu lançamento, aproximar-se de uma das grandes surpresas do ano passado.

A atmosfera sonora de Candleman é outro dos aspectos que ajudam a complementar a aura deste puzzle platformers com intenções narrativas-emocionais. Há um sentimento de solidão que nos acompanha por esta aventura, com uma variedade de level design que consegue manter-se fresca mesmo tendo um conceito simples pelo meio.

Desafiante, mas justo, rapidamente entramos no mindset necessário a conseguir descortinar o caminho que se esconde por trás da escuridão. Por irónico que seja afirmá-lo, a estrada em que Candleman deambula nas trevas é verdadeiramente brilhante. E torna-o uma pequena pérola de um género saturado que já há poucos sítios dignos de serem tocados pela luz.