Há certas coisas que não compreendo.

A sério que não.

Não consigo imaginar as sessões de brainstorming que fazem nascer certos jogos.

EEEI PAH! TENHO UMA IDEIA MESMO TOP PARA UM JOGO!*

Diz lá Jeremias.

IMAGINA QUE TENS UM PAÍS A TENTAR SAIR DO DECLÍNIO.

Sim, gosto da premissa.

E TEM UM AMBIENTE MEIO DARK A FAZER LEMBRAR A UNIÃO SOVIÉTICA.

Continua, gosto do setting.

E POR VEZES HÁ TERRORISTAS A TENTAR BOMBARDEAR A FRONTEIRA.

Estás mesmo no bom caminho, gosto do caos induzido.

E NÃO OS PODES DEIXAR PASSAR.

Porquê Jeremias? És um soldado do bem? És o presidente a gerir a cidade? És um agente secreto que obteve a informação em missões anteriores?

NÃO. PORQUE O PASSAPORTE DELES ERA MANHOSO.

Como assim Jeremias?

ÉS O GUARDA FRONTEIRIÇO!

Oh Jeremias, que ideia parva. Pensa lá noutra coisa que temos que ganhar dinheiro com isto.

JÁ SEI JÁ SEI! E se fizéssemos um jogo em que uma mulher cai numa masmorra.

Sim, uma protagonista feminina aumenta imenso a identidade de um jogo, continua.

E A MASMORRA ESTÁ POVOADA POR UMA HORDA DE CRIATURAS MALÉFICAS CONTROLADAS POR UM FEITICEIRO MALIGNO!

Um necromancer?

SIM, MAS EM VEZ DE SER UM necroMANCER, É UM necroDANCER, E TENS QUE O DERROTAR COM O TEU BEAT MUSICAL.

Jeremias… Não vamos desenvolver um jogo só porque achaste piada a um trocadilho. Anda lá agora a sério.

PRONTO OK. VAMOS FAZER UM JOGO SOBRE CRIAR LINHAS DE METRO.

… como assim? Construir em 3d, ver se aguentam fisicamente a travessia por montanhas e pontes e outras zonas citadinas, enquanto personalizas os teus vagões com novas e mais modernas peças?

NÃO, SÓ ISSO, FAZES DRAG AND DROP DAS LINHAS E TENTAS QUE OS CLIENTES CHEGUEM ONDE QUEREM EM TEMPO ACEITÁVEL!

… Oh Jeremias… Ninguém vai achar piada a isso.

ACREDITA EM MIM ALBERTO, UM JOGO COM UMA INTERFACE SIMPLISTA, QUE TRAGA AO UTILIZADOR TODA A EXPERIÊNCIA DE CRIAR LINHAS DE METRO, MAS EM FORMATO MINI!

Não digas que lhe vais chamar mini-m…

VOU-LHE CHAMAR : MINI-METRO!

E é isto amigos, um ecrã branco (no meu caso preto porque preferi ativar o modo noturno para não cansar estes lindos olhinhos, visto que o Lasik saiu-me caro (haha visto (haha estou a referir-me ao jogo sobre ser guarda fronteiriço (haha pensavam que era uma piada sobre olhos não era (haha só me apercebi também depois (haha agora será que vou fechar correctamente todos os parêntesis que abri? (haha, ou será que falhei no número mas o editor do jornal corrigiu, ou o contrário?))))))),

Nota: é provavelmente melhor tirares esta parte anterior Ricardo. Escrever artigos quando se está a tentar ganhar sono dá nestes momentos de senilidade, mas deixei ficar para veres ao ponto que isto chegou).

Nota 2: E nem penses em deixar a nota 1 no artigo também, vou pessoalmente a Lisboa DE METRO vingar-me.

Pois… uh… mini-metro.

Um ecrã a preto ou branco, que tem sobre si uma tentativa de réplica de alguma cidade grande que seja possuidora de uma rede de metros, uma espécie de “Vê se fazes melhor serviço do que nós”.

As estações e pontos de paragem vão sendo adicionados conforme a nossa companhia vá arrecadando dias de serviço com sucesso. Vamos podendo contar com um aumento de ferramentas ao dispor, desde centrais de troca de linha, túneis para podermos fazer travessias mais curtas através de rios, maior número de carruagens e locomotivas para conseguir dar seguimento ao cada vez maior fluxo de passageiros na nossa cidade em desenvolvimento.

A interface é tão simplista que me leva a dar os parabéns ao seu designer, a jogabilidade é do mais intuitivo possível, com todas as mecânicas extremamente fáceis de compreender. É daqueles jogos extremamente fáceis de aprender, mas imensamente difíceis de dominar (ou eu é que sou terrível). Até a banda sonora quase que passa despercebida de tão enquadrada que está com o tema. Por 10€ para computador e 5€ em Android/iPhone recomendo vivamente a fãs de jogos de gestão/estratégia, confesso que fiquei extremamente surpreendido.

E no final, ficam com o vosso próprio mapa das estações de metro da cidade que vos garanto será tão confuso como o que vêm nas paragens em Lisboa, até podem escrever uma música como esta e tudo.

Nota do editor: apenas por compreender que o Jeremias é um valente nabo é que permiti que essa que é pior expressão corrente utilizada pelos portugueses, “top”, passe o crivo da edição.