O melhor brinquedo que eu nunca tive foram os LEGO Technics. Era, aliás, perversa a forma como os anúncios da TV nos intervalos dos desenhos-animados tinham aquele senhor com a voz entusiasmada que anunciava os brinquedos “para rapazes”. Mas os Technics eram um produto um bocado caro, e já me contentava com o balde de LEGO que recebi (e que recentemente foi herdado pelo meu filho).

Trailmakers vem de alguma forma fazer-me compensar esse “buraco” na minha vida. Um indie com um visual cativante low poly lançado há poucos dias em Early Access e que nos transforma num simpático piloto/construtor de veículos.

Um mundo aberto onde somos convidados a construir os nossos próprios veículos através de peças modulares e motores, e que nos levem a atravessar este vasto território da forma mais eficaz possível. No início somos guiados na construção do nosso primeiro veículo, um carro simples a lembrar um buggy que temos de ir progressivamente alterando para ultrapassar o terreno acidentado do deserto.

Há uma lógica de engenharia mecânica muito interessante neste Trailmakers. Se os módulos podem ser utilizáveis a nosso bel-prazer, criando as estruturas mais rocambolescas que nos aprouver, o poder necessário para fazer os veículos efectivamente andarem depende de uma série de factores. O primeiro, e óbvio, no caso de veículos terrestres, passa pelas rodas, se são direccionáveis, e como estão dispostas no carro. O segundo e mais importante, é o número de motores. À medida que vamos explorando este mundo vamos encontrando núcleos que servem para dar poder a mais motores, e é que com a adição equilibrada de mais motores que a potência do carro vai aumentando, e ele será capaz de movimentar o peso do veículo até por rampas inclinadas.

Depois de percebermos todas as lógicas de Trailmakers através do seu modo de campanha, em que temos de apanhar uma série de parafusos dispostos no mapa como uma espécie de puzzle platformers, é que o jogo se abre.

Trailmakers brilha na sua liberdade de construção, e na forma como a lógica de adequação mecânica das nossas criações funcionam com uma paleta relativamente limitada de módulos. Daí até começarmos a construir veículos que envergonham os concept artists de Mad Max é um pulinho, mas um não tão grande como o acto de construirmos as nossas primeiras máquinas voadoras.

A possibilidade de partilharmos as nossas criações e de irmos buscar a de outros jogadores é um excelente elemento a ser incorporado, e que decerto trará a comunidade à sua volta, tal e qual como aconteceu com outro monumental jogo do género: Space Engineers.

Com tantos jogos a embaterem sem qualidade própria na barreira do Early Access, Trailmakers é uma excelente proposta para um jogo relativamente casual, mas que nos põe a criatividade e a imaginação mecânicas à prova. Para mim é o sucedâneo dos LEGO Technics que nunca tive e que tem ocupado o meu tempo a permitir-me criar os carros mais loucos que possa imaginar. A dificuldade é conseguir que eles andem.