Diversão para lá da frustração

São poucos os jogos que têm a coragem de se apresentar no mercado com uma bandeira a dizer “difícil” desfraldada ao vento. Mesmo com o ribombante sucesso da série Souls e outros jogos como Cuphead a liderarem o pedigree dos jogos modernos, muitos são os jogadores que desistem de jogar ou nem experimentam certos jogos por serem demasiado difíceis. Num mercado cada vez mais popular e com um número de jogadores maior, os esforços para acomodar o máximo de gostos e capacidades diferentes multiplicam-se e desdobram-se, muitas vezes criando verdadeiros obstáculos ao design de um jogo e às próprias mecânicas.

No entanto, a criação de um jogo difícil e bom é louvável. Isto porque a capacidade de equilibrar o nível de dificuldade com a progressão da proficiência do jogador, ao mesmo tempo assegurando a diversão deste, é rara nos dias que correm. Muitos são os jogos que preferem escolher ser mais fáceis, para não frustrar os seus jogadores. Ainda mais são os jogos que, sendo difíceis, o são de maneira injusta e mal pensada.

Uma obra prima do género

Super Hydorah, a nova aposta shmup de Locomalito e Gryzor87, publicada pela Abylight Studios, apresenta-se como mais uma excelente adição ao panteão de jogos “no ponto”. Este shmup é um exemplo perfeito de como polir mecânicas consagradas, introduzir algumas novidades e apresentar tudo num invólucro completo de alta qualidade. Somos uma pequena nave (ou duas, sim o jogo tem co-op, tanto na campanha principal, como num modo cooperativo/competitivo adicional), encarregada com a salvação da humanidade de uma invasão de Meroptians, raça biomecânica avançada. Para isto temos de escolher os nossos armamentos, que são desbloqueados com cada nova missão completa, e completar uma árvore de missões com algumas ramificações, que eventualmente desaguam num confronto na nave-mãe inimiga. Esta estrutura não-linear é pouco comum neste tipo de jogos, e oferece-nos alternativas, no caso de haver dificuldades em passar certos níveis.

Caminhos diferentes apresentam recompensas e desafios diferentes!

A acção decorre no plano horizontal, com as nossas armas, velocidade e escudo a crescerem em poder à medida que eliminamos inimigos e apanhamos os correspondentes power-ups. Cada nível tem várias secções, com um mini-boss e um boss final entre elas. As lutas contra os bosses não são muito longas, mas são difíceis e variadas, fornecendo momentos de jogabilidade em fluxo puro. Para além disto, Super Hydorah conta com uma direcção artística colorida que estaria à vontade numa antiga arcade, com a opção de colocar linhas de CRT no ecrã, para a experiência quintessencial. Todos os níveis possuem um estilo diferente, mas altamente detalhado, com uma variedade e qualidade de inimigos impressionante. Desde os projécteis aos power-ups, todos os visuais estão excelentes, dentro do estilo.

A banda sonora, por Gryzor87 é grande, variada e está repleta de pistas excelentes. Se forem como eu, vão se encontrar a trautear ou a assobiar alegremente as músicas ao fim de algumas tentativas de passar o nível.

Neste boss, temos de destruir a armadura para poder atingir o ponto fraco

Em suma, Super Hydorah é um dos melhores shmups que alguma vez joguei, sendo capaz de nos transportar para uma era de jogabilidade simples, eficaz e polida. É desafiante, mas não frustrante e tem um valor de “rejogabilidade” elevado. Quando comparado a jogos similares, como R-Type ou Gradius, Super Hydorah demonstra que a qualidade dos developers indie atuais é elevadíssima, sendo este jogo uma obra-prima do género.

Podem encontrar Super Hydorah ao preço de 19,99€ na Steam, Xbox One, PS4 e PS Vita.