Caçada semanal #139

É quase impossível não ver que pontos da História dos videojogos se escondem por trás de muitos dos indies que jogamos nos dias de hoje. Aliás, se até é possível sentir isso em grandes blockbusters, pior seria se em muitos dos jogos que nos chegam provenientes de pequenos estúdios que não o sentíssemos também.

Há situações em que a inspiração é tão óbvia que dificilmente este novo objecto consegue ir mais longe do que ser uma mera “homenagem” às sua musa. Outros casos há em que se consegue ter uma voz própria, que se utiliza a inspiração apenas como início mas não como fim.

É claro que há uma grande diferença entre inspiração e plágio. Os 3 indies desta semana são um caso óbvio disso.

5 Minutes Rage

Marcar golos e disparar em pessoas. Uma ideia corrente e que até nos faz lembrar as aventuras recentes do presidente do PAOK, que até levaram à interdição do campeonato grego. Mas não, 5 Minutes Rage não é sobre isso nem sobre a carinhosa intervenção de Sérgio Conceição depois de perder o jogo de anteontem com o Paços de Ferreira.

Imaginem que Super Smash Bros se envolvia numa orgia com Rocket League e DOOM, e que daí nascia uma amálgama de criatura indie que era um cruzamento dos 3. Isso é o que 5 Minutes Rage propõe: um jogo competitivo onde temos de abrir caminho ao tiro pela equipa adversária, pegar na bola e marcar golo. Até podemos marcar golo atirando a bola e um adversário para a baliza, que recebemos bónus.

A aura retro 1980s de 5 Minutes Rage contribui para a ideia de jogo para ser jogado numa velhinha arcada. Infelizmente, e já que é um jogo que necessita de jogadores (a piada esgota-se facilmente com bots), ficamos demasiado dependentes de existirem pessoas online para jogarmos. O que, como podem imaginar, não existem. O que é uma pena, porque as suas partidas curtas e dinâmicas mereciam que se desse atenção a esta excelente proposta de arena multiplayer game.

Nippon Marathon

Há um lugar muito especial na minha infância/pré-adolescência para Nunca Digas Banzai (Takeshi’s Castle no original) e a magnífica narração de José Carlos Malato. Os jogos competitivos televisivos do Japão têm destas coisas: propostas loucas, surreais, que eu diria que dificilmente teriam espaço/aposta/investimento em qualquer outro lugar do mundo.

Nippon Marathon é o equivalente disso nos videojogos, seja em tom seja em investimento. Imaginem que o pessoal da Onion Soup Interactive não eram um estúdio indie mas sim uma equipa de uma grande companhia, e tinham de convencer os accionistas a investir neste cruzamento de Sonic R/Micro Machines com Takeshi Castle. Onde personagens como um idoso vestido de colegial e uma rapariga vestida de lagosta correm num percurso de obstáculos saídos da mente retorcida de um produtor de TV japonês e ainda têm tempo para atirar melancias uns aos outros. Será que seria fácil? Não acredito que assim fosse.

Ainda em Early Access, Nippon Marathon é estranho, divertido e um dos mais surreais party games que podemos jogar.

Vesta

Uma rapariga e o seu robot. Isto soa a título de filme maroto mas é o resumo deste simpático indie lançado para PS4, Switch e PC. Vesta é um jogo de puzzle isométrico que nos faz lembrar de dezenas de outros, em especial os puzzles de muitas dungeons de The Legend of Zelda: Spirit Tracks, mas consegue afastar-se o suficiente para não ser sugada por essa mesma inspiração.

Com as limitações físicas de uma criança da sua idade, Vesta tem de contar com a força do seu DROID (que até vem com um canhão embutido) para a ajudar a passar as dezenas de labirintos que o jogo tem, para além de derrotar os muitos inimigos com os quais se cruzam. E que dentro da temática do jogo é um 2 man job (aliás, 1 girl and 1 robot job): DROID consegue atordoá-los para que a nossa protagonista lhes retire a energia e os desligue.

Para ultrapassar todos estes perigos e resolver todos os puzzles temos de ir alternando entre controlar Vesta ou o DROID, e utilizar as capacidades de cada um deles para que, em complemento, esta aventura seja facilmente ultrapassável.

Com maior profundidade narrativa do que se esperaria de um puzzle isométrico, Vesta é um dos mais interessantes e desafiantes jogos do género a chegarem do mercado indie, com uma brilhante execução cartoonizada de um ambiente sci-fi.