Fortnite, já ouviram falar? Claro que sim! Este Battle Royale grátis criado pela aclamada Epic Games surgiu com um único objectivo, ser uma alternativa ao gigante PUBG desenvolvido pela Bluehole Studio conhecida até agora pelo seu maior sucesso, Tera Online.

Fortnite tem uma atmosfera mais ligeira do que o seu concorrente e fundindo habilidades de construção à la Rust com o formato conhecido dos inúmeros (que são mesmo muitos) “Battle Royale” que são lançados todas as semanas. Conseguiu no entanto no meio desta inundação de jogos iguais alcançar o sucesso, e não só sucesso individual mas conseguiu rivalizar o maior, sem largar uma lágrima de suor. Diz-se que o sucesso se alcança com sangue, suor e lágrimas. Pois bem, se a Epic Games não suou para alcançar o sucesso, diga-se, no entanto, que as lágrimas e o sangue foram a dobrar.

Este novo joguinho que passou despercebido a muitos e até nem era suposto ser um Battle Royale na altura do seu anúncio, mas, coisa certa é que se tornou grande, muito, muito grande, maior do que os seus próprios criadores esperavam. Isso é óptimo, ou não. Rios de dinheiro a entrar através da venda de artigos cosméticos, uma comunidade crescente e devota, todas as honras e louvores que advêm de criar o único concorrente real a um dos maiores jogos de que há memória. Mas a que custo?

Epic tal como todos os outros developers não é imune aos problemas normais da indústria, os recursos são limitados aqui assim como em qualquer outra empresa. Já viram Discovery Channel? Aqueles programas que falam sobre estrelas, normalmente narrados pelo Morgan Freeman. Uma das coisas que costumam mostrar são estrelas que adquirem massa a mais e com esse crescimento espontâneo consomem e destroem todos os astros que a rodeiam no seu sistema. É um pouco o que aconteceu aqui.

Paragonum MOBA em terceira pessoa com um grafismo de fazer inveja a muito AAA, usando o irrepreensível Unreal Engine 4 ao máximo das suas funções. Apesar de muitas boas ideias como um sistema de cartas em que cada jogador constrói o seu próprio baralho para posteriormente melhorar a sua personagem em jogo e outras coisas, a verdade é que, era mais um MOBA. Honestamente nem me vou alongar a falar sobre o destino de qualquer jogo novo que tente entrar no circulo fechado desse género. Foi anunciado em Janeiro que os servidores do Paragon serão fechados em Abril e o seu desenvolvimento está oficialmente fechado, para surpresa de poucos. Quanto a este MOBA o futuro dele ficou decidido quando a Tencent, gigante Chinesa da indústria comprou 48% das acções da Epic, de pensar que o jogo foi cancelado em todo o Mundo que não a China, já sabemos o futuro dele: olá Arena of Valor.

Existe ou deverei dizer, existia, mais um jogo em produção pela Epic Games, cujo o nome é suficiente para fazer a sua apresentação, falo claro, de Unreal Tournament. Para quem não conhece a importância deste título para esta empresa, diga-se que a “senhora” Epic Games não existia, pelo menos não no tamanho e relevância que tem hoje, se não fosse este jogo, conhecido por muitos como o avô do formato FPS e talvez o primeiro grande eSport. Sempre foi até “hoje” como uma espécie de showcase para cada novo motor de jogo da Epic, demonstrando todos os truques e dicas que o vencedor de guinness world record por ser o motor de jogo com maior sucesso desde que essa forma de construir jogos existe. Pelo nome até pode ser que não reconheçam mas garanto a 100% que já jogaram algum jogo, algures na vossa vida de jogadores.

Mas chega de lamber as botas a estes meninos porque este artigo não é para falar bem. Não, não… A senhora Epic anda a portar-se muito mal.

Já vimos que existe de facto muito nas mãos desta empresa, e sabe-se que é impossível gerir e tentar fazer tudo tendo limites tanto de números de equipa como de dinheiro, depois existem também prazos a cumprir que muitas vezes não são conhecidos do público e claro, as pressões de um investidor maioritário conhecido pela sua única razão de mercado, fazer dinheiro em cima de dinheiro gastando pouco. Digo maioritário porque a Tencent possui 48% sendo que 8% são partilhados e os restantes dois sócios, por sua vez fundadores da Epic, Tim Sweeney e Mark Rein possuem um total de 52% combinados, apesar de não saber que tipo de divisão possuem entre si, podemos concluir que nenhum deles deverá ter apenas 4%, única forma que permitiria o outro igualar o valor da gigante Chinesa.

Quero falar um pouco dos valores éticos de um decorrer de decisões destes. Calma lá, não sou um ingénuo que está a chorar por perder um dos seus jogos favoritos (até sou mas não é relevante), a verdade é que este é um assunto cada vez mais mediático. Se recuarmos um pouco e visitarmos aos Hi-Rez Studios, responsável por SmitePaladinsTribes Ascend e Global Agenda, temos a história de uma empresa que até começou bem mas a certa altura percebeu que era possível utilizar um modelo antigo de negócio e ser bem sucedido com isso. O que está a dar são MOBAs? Vamos lançar um, team shooter? Também se arranja, agora são battle royale? Fazemos já um e ainda lançamos também um jogo de cartas para competir com o Hearthstone! E SÃO TODOS “GRÁTIS”! Realmente devem estar muito contentes com os seus números, quem não fica contente são os jogadores dos jogos anteriores deles, cada vez que sai um novo a produção do anterior atrasa em meses, com lançamentos de conteúdo cada vez mais separadamente. Será para este caminho que caminha a Epic?

Quem anda nisto há algum tempo já viu muito jogo que gostava ser cancelado, muitas vezes antes de sequer sair do forno mas normalmente por problemas de produção, desacordos entre estúdio e editora, third parties em que a empresa pagante desiste a meio ou então Xbox a fazer coisas de Xbox.  O que se passou aqui é diferente, os jogos estavam e ainda estão cá fora, mostram qualidade e capacidade de progresso mas o irmãozinho mais novo tem um QI do Stephen Hawking. Ora bem, os pais retiraram todo o dinheiro do college fund dos mais velhos para comprar um berço de ouro e chucha de diamante, sem saber se aos 15 anos ele vai estar no Bronx a dar no crack. Enquanto isso os dois mais velhos podiam ter sido engenheiros com média de 12 ou 13, não eram geniais mas iriam fazer a família muito feliz e gerir bem a sua vida, mas acabaram por ir trabalhar para uma velha loja de discos para pagar os seus quartos junto à linha do comboio.

Tal como esta pequena comparação, tudo pode falhar para a Epic caso a moda mude, se aparecer um novo tipo de jogo que adquire 3 milhões de jogadores em 9 meses, então alguém vai ficar agarrado a um projecto vazio, sem qualquer backup pois parou a produção das suas saving stones. Quem vai sofrer com isto, nunca será a Tencent, esta empresa tem muito por onde se agarrar, e o falhanço da Epic seria apenas uma gota num oceano de lucro. A Epic no entanto sofreria a níveis possivelmente irrecuperáveis pois não teria onde se agarrar.

Por isso eu pergunto-me sem necessariamente saber a resposta, é este o caminho das empresas de videojogos? Seguir a moda, apagar o passado e saltar de mão em mão. Este era o caminho na altura da NES, saía um novo filme, todas as empresas faziam um jogo sobre ele, havia um novo modo de jogo, todas as empresas o imitavam. Para quem sabe, isto levou a um dos piores momentos dos videojogos de que há memória, mas eu tenho medo de que estejamos a caminhar no mesmo caminho. Seja a Epic a culpada, seja a Hi-Rez, seja a EA ou qualquer outra. A verdade é que a culpa é de todos nós por permitirmos que tal aconteça.