O que é que parece um jogo mobile, tem estética de jogo mobile, mecânicas de grind quase infindável como um jogo mobile, e já não é um jogo mobile?

O Gustavo Santos.

Estou a brincar. É o World of Warriors. E até já sabiam a resposta porque está ali em cima em caixas altas no título onde clicaram para abrir este artigo.

Raras são as ocasiões em que um port vindo do mercado mobile funciona. O PC que o diga, que a quantidade de free-to-plays que lá têm ido cair sem grande vergonha e sem grande transição, quase que funcionam como cumprimento da regra de que o que foi feito para mobile, dificilmente sai fora dele.

A primeira culpa desta situação é da diferença de expectativas entre o público dos jogos móveis e o público das consolas e PC. O segundo passa pelos modelos de negócio que interferem, como dano colateral, no próprio game design do jogo. World of Warriors, originalmente lançado para iOS e Android em 2014, foi agora “reinventado” para ser lançado como exclusivo de consolas da PS4. E depois de quase 15 horas de diversão casual tenho de admitir: ora aqui está uma das poucas excepções à regra de bons saltos dados entre o mercado móvel e o de consolas.

World of Warriors cria uma arena para guerreiros de todo o mundo e de tempos diferentes, numa tentativa de demonstrar quem é o mais forte. A resposta é simples: aquele que mais grindou, porque World of Warriors mantém-se fiel aos seus princípios de ex-jogo F2P mobile e tem muito, muito, muito grind para fazerem. Com um elenco povoado por muitos personagens que vamos desbloqueando de forma aleatória com gemas azuis (ganhas a ultrapassar torneios) e através da derrota de bosses que depois ficam disponíveis para serem utilizados.

Mas o sistema de progressão implica que vamos ter de repetir as missões vezes infindáveis apenas para conseguir ter guerreiros de elementos diferentes nivelados entre eles. No meu caso acabei por focar-me tanto no primeiro personagem que recebemos, Abu, que o desnível que ele tem quando comparado com o meu restante roster é gigantesco. Decidi pôr um travão na progressão na “história” (que de narrativo não tem praticamente nada) e começar a fazer level up a outros guerreiros, sob risco de ter apenas 1 personagem pronto para enfrentar a crescente dificuldade deste jogo.

O visual é interessante e reminiscente da estética mobile “determinada” pelo sucesso de Clash Royale. Os personagens levam esse exagero chibi mais longe e são todos uma espécie de mostruário de bobbleheads de abordagem histórica, onde é possível ver personagens como Shaka, ou Boudica com armaduras da época (e da região) mas com uma cabeça gigantesca.

O sistema de combate é simples o suficiente para ser compreensível por todos mas com alguma complexidade para masterizar, em especial quando vamos para o combate online contra outros jogadores. Temos ataques leves e fortes, combos simples, desvios e bloqueios, sendo que estes com o timing certo atordoa os inimigos. Depois de tantas horas de jogo (e tanto grind) ainda sinto que esta é a mecânica mais difícil de dominar pela posição da câmara e pela desproporção física dos guerreiros, cuja cabeça imensa nos permite pouca “leitura” e visibilidade do que está a acontecer.

O movimento também é algo estranho. Mesmo fazendo lock aos inimigos, é fácil sentir com este ângulo relativamente baixo de câmara que atacamos sempre em frente, parecendo verdadeiros nabos a atacar um inimigo e falhando-o por completo. Parte do segredo para melhorar o combate seria sacrificar a noção de profundidade das arenas e levantar a câmara, equalizando o ponto de vista, impedindo desta forma que os momentos em que estamos ao fundo do nível sejam quase impossíveis de perceber em detalhe o que está a acontecer.

World of Warriors é extremamente repetitivo, mesmo com a diversidade de missões e os seus requisitos, sejam a batalha contra (e na arena d’)o Titã nórdico, na gruta da aranha gigante ou do puzzle rotativo no chão da arena, o fundamento é o mesmo: ser o último a cair. Mas se me tenho “aguentado” tantas horas a jogá-lo a muito devo a companhia do meu filho. World of Warriors está feito para ser cooperativo, seja offline ou online, e um segundo jogador pode simplesmente pegar num comando e os embates passam a ser de dois para dois ao invés de um para um. É com alguém ao lado que o jogo consegue sobreviver para além da fina linha que define as suas mecânicas e a sua extrema monotonia e limitação. E só assim se torna divertido, apesar das sessões de jogo terem duração curta até atingirem o enfado.