Antes de mais vou já avisar que isto não é um texto de “Get off my lawn!”, em alguns pontos é exactamente o contrário, é sobre a minha aceitação de algumas alterações no meu universo de jogos que demorei a fazer. Passei a admitir que entendo porque algumas pessoas gostam, mesmo que eu não.

De certa maneira, tal como Walt Kowalsky protagonizado por Clint Eastwood no fantástico Gran Torino, a resistência que tive a algumas alterações nos videojogos foi sendo apaziguada com a minha gradual habituação, um bocado forçada em certos aspectos. Deixarei os multiplayer online para o final do texto, porque para já quero falar do Twitch essa coisa que eu não percebia a razão de existir. Mas porque raio é que alguém quer ver outra pessoa a jogar um jogo? Não é preferível só jogar? Estes miúdos de hoje em dia… no meu tempo não era assim, eu via jogos porque era forçado a isso, o meu irmão jogava e eu como mais novo só podia quando ele perdia, não era opcional…

Ok, ok… estou a ser Velho do Restelo outra vez, mas tenho uma razão para isso, e muita gente da minha geração também, só quero preparar o ambiente. Para nós mais antigos, enquanto crescíamos, jogar era um luxo. Digo isto e sei que tinha uma vida mais luxuosa que muitos neste aspecto, mas mesmo assim, jogar NES ou PC lá em casa era só ao fim-de-semana. E era partilhado a maior parte do tempo. Não só havia a parte do tempo como limitador de jogo, as plataformas eram as já ditas consolas ou computador. Coisas que ocupavam espaço, faziam barulho, ocupavam a TV, era chato. Hoje em dia já não, há milhentas maneiras de jogar, seja porque pagamos pela milionésima versão de Skyrim, ou jogar Fortnite grátis que acho só não correm no frigorífico ou nos computadores de bordo de alguns carros. Portanto ter um Game Boy era a melhor cena do mundo. Mesmo com as suas limitações.

Quando comecei a ver jovens falarem de jogos porque viam pessoas a jogar, em vez de os jogarem fazia-me urticária. Ainda faz, mas menos. Como diz a Alexa é o mesmo que dizer que se é bom a fazer sexo porque viram montes de filmes adultos. A minha opinião tem mudado acerca do Twitch desde que comecei a ver algumas sessões do pessoal aqui do galinheiro (coisa que nunca pensei ver, mas os tempos mudam toda a gente), mais em particular as do Ricardo nos seus Caça ao Indie, todas as terças feiras, pelo nosso gosto comum de jogos Indie. Os outros vejo quando posso, enquanto os Caça ao Indie são como ver TV à moda antiga, sem poder usar a box para meter para trás, naquele dia e hora, estou sentado em frente à caixa mágica. Sendo algo que não me vejo a fazer (mas nunca digo nunca) começo a entender o fascínio de quem faz streaming e de quem os vê. É engraçado ver o jogo a decorrer, tentar ajudar e ir conversando com pessoal. Da mesma maneira que Walt vai aceitando a cultura dos seus vizinhos, eu também começo a aceitar este conceito porque tal com eSports são desporto, ver um jogo no Twitch é tão entretenimento como ver um jogo de bola, um concurso de cultura geral ou até um filme. É claro que o conteúdo varia, tal como na TV mas isso depende do gosto de cada um, e a qualidade do produto não tem uma ligação directa com este. Eu gosto de ver coisas que no geral são consideradas más, e não me importo, o facto de eu gostar não lhe confere um estatuto superior ao que realmente é.

O problema maior que ainda tenho com o Twitch é a frustração de não poder interagir. Mais do que aquela pessoa que está a ver um filme de terror clássico e grita para a gaja não subir as escadas e ficar presa no andar de cima, é muito, mas mesmo muito irritante, estar a perceber a solução de um enigma, ver um erro de estratégia ou outra coisa semelhante e ter que escrever o que se quer dizer, ter que esperar que o Twitcher leia e faça o que escrevemos e não o que ele entende enquanto joga… Isto sem contar as vezes que a minha mão estava no rato e mexia para onde que queria por exemplo na última sessão de Q.U.B.E 2. Quase era mais rápido ter ido lá a casa dele e dizer “Dá cá que eu faço isso!”!

Ver jogos no Twitch é algo que aceitei e faço cada vez mais e com gosto, já jogos que forçam multiplayer online