Dizer que a Valve e que quase tudo o que vem dela é influente no mercado é a definição de eufemismo. Praticamente todas as poucas séries da gigante norte-americana acabaram por redefinir o mercado e os sub-mercados, e até hoje Half-Life, Counter-Strike, Portal, DOTA, Left 4 Dead e Team Fortress são alguns dos nomes pesos-pesados dos videojogos. E claro, nenhum deles chegou (ainda) ao terceiro título.

Q.U.B.E., de 2014, do estúdio indie Toxic Games é apenas uma prova dessa larga influência da Valve. A confirmação de que é possível fazer bons puzzle games tridimensionais com narrativa, não estando excessivamente colado ao que Portal fez. Muitos outros jogos se seguiram, quase todos assente numa ideia, conceito e premissa simples e desenvolvendo a história e os diversos níveis/puzzles a partir daí.

Q.U.B.E. 2 não tinha mais a provar que o seu antecessor não tivesse feito já. Mas a realidade é que desde os primeiros instantes consegue criar-nos uma dualidade de interesse em paralelo e que nos mantém presos com vontade de perceber afinal o que é que se está a passar.

Nesta sequela vivemos o papel de Amelia Cross, uma arqueóloga que acorda misteriosamente dentro de uma estrutura alienígena repleta de cubos, e com um fato que lhe permite controlar alguns aspectos da arquitectura, manipulando cubos.

As nossas habilidades são-nos apresentadas muito no início do jogo e é curioso como é que depois de grande parte do jogo passado esses poderes não se alteram, mas é o level design e os pequenos twists estruturais que complexificam os puzzles.

As nossas luvas têm um pequeno círculo luminoso que podemos mudar para verde, vermelho ou azul. Com ele podemos interagir com quadrados brancos que estejam presentes na arquitectura e atribuir-lhes comportamentos. Um quadrado azul serve de mola/trampolim, projectando tudo o que lhe tocar, o vermelho permite-nos fazer “crescer” um paralelepípedo e o verde cria um pequeno cubo verde destacável. São estas 3 habilidades que vamos ter de alternar (sendo que só podemos ter um quadrado de cada cor activo… pelo menos até uma certa altura) para conseguir resolver todos os puzzles ambientais.

A cada nova “zona” da estrutura os puzzles vão sendo de alguma forma renovados. Seja pela introdução de ímanes, de combustível e fogo, ou por esferas de metal, há uma série de novos elementos presentes em cada sala/puzzle que nos obriga a raciocinar.

Um dos pontos intelectuais altos de Q.U.B.E. 2 é entrar no seu mindset. Entrar numa sala e para a estrutura criada, para o objectivo, e tentar descortinar a solução. Tentar espreitar para lá da matriz, dos arames que unem cada nível, do processo mental dos criadores. E seja depois de algumas tentativas ou apenas pela visualização da sala, quando percebemos a solução há uma satisfação tremenda que nos invade.

O enredo é cativante o suficiente para nos manter engajados, e as sequências de puzzles que se sucedem são mais que uma motivação para descobrir a verdade. Podiam ser apenas filler de uma história a ser contada, mas não são, são os momentos intelectualmente desafiantes que demonstram o excelente e diversificado level design que aqui existe.

Pela primeira vez na curta história da minha rubrica de Twitch Caça ao Indie estive 2 semanas seguidas a jogá-lo, e não porque tenha sido um estrondo de sucesso no nosso canal, muito pelo contrário, e nada que se compare com o que aconteceu com Super Seducer. Mas tinha uma genuína vontade de descobrir a verdade sobre esta estrutura e sobre a entidade que falava connosco em dados momentos, e se as apostas que eu e os nossos espectadores tínhamos em relação ao enredo.

Infelizmente após 2 episódios aproximei-me do fim do jogo mas não o suficiente para poder descortinar em directo a verdade de Q.U.B.E. 2. Ainda assim esta sequela do estúdio Toxic Games consegue levar a série a um ponto mais alto, revelando o amadurecimento de quem o criou, construindo um ambiente envolvente e uma história misteriosa que nos cria curiosidade de forma genuína.

Q.U.B.E. 2 é um excelente puzzle game tridimensional em que a história, assim como em Portal 2, não é apenas cenário. É uma parte importante do todo e cuja soma transforma toda a experiência em algo verdadeiramente interessante.