Imaginem uma quarta-feira daquelas normais, mas diferente. Uma quarta-feira onde descobrem que o mundo vai terminar num apocalipse zombie daqueles que estavam carecas de ver em filmes, séries, jogos e etc. É coisa para não dar jeito a ninguém, até porque sexta-feira tinham aquela saída que foi combinada com tanto carinho há umas semanas, mas o fim-do-mundo é assim, um bocado chato. Para tentar combater a coisa, e se possível, evitá-la, optam por:

  1. Procurar asilo com o Passos Coelho na sua casa de Massamá
  2. Ir ter com a Cristas e rezar muito para que Deus (e os zombies) comam antes os pobrezinhos
  3. Refugiar-se num submarino com o Paulo Portas e esperar que a coisa passe
  4. Juntarem-se com amigos e percorrerem as estradas do País a tocar rock/metal e a matar zombies pelo caminho.

Se responderam alguma das 3 hipóteses é certo e sabido que para vocês o fim-do-mundo já aconteceu quando a PaF não conseguiu formar governo contra esses “truculentos” da “geringonça”. Se responderam a hipótese d) então tiveram a mesma ideia que os protagonistas de Double Kick Heroes.

Houve uma altura triste da História recente dos videojogos em que a ganância corporativa pegava na pureza da nossa diversão com Guitar Hero e Rock Band e transformou isso num dos maiores momentos de mungir vacas que tivemos a infelicidade de observar. A proporção entre o gozo que tínhamos com estes jogos e o número de periféricos que companhias como a Activision nos queriam forçar a comprar era quase directa.

Os rhythm e music games viriam a esmorecer de fulgor e a tornarem-se menos frequentes, mas isso não significa que volta e meia não tivéssemos acesso a algumas das mais originais formas de incorporar esses elementos, sendo que as portáteis da Nintendo têm sido agraciadas com a maioria das propostas, seja o rhythm adventure game de Rhythm Thief ou o rhythm RPG de Theatrhythm Final Fantasy (e a forma como foi depois inspirar Metronomicon). Já para não falar do maravilhoso rhythm dungeon crawler que é Crypt of the Necrodancer.

Agora um rhythm side scrolling schm’up? Acho que é mesmo novidade.

Double Kick Heroes promete-nos isto mesmo: um apocalipse zombie diferente de todos os outros, onde um grupo de amigos rockers/metalheads pegam num Cadillac armado na traseira com esse armamento ligado à pedaleira do baterista, e que andam pelas estradas dos EUA a matar hordas de zombies e a tocar diversos géneros de música extrema.

Os títulos das músicas (e nomes dos géneros fictícios) são todos um tremendo piscar de olhos a tanta coisa bem conhecida por nós em termos de metal, e a banda sonora pode ser ouvida em toda a sua glória na página de Bandcamp do compositor Elmobo.

Mecanicamente o jogo é simples. Como habitual neste tipo de jogos, temos uma barra de timing por onde deslizam as notas, e é com precisão que temos de carregar no respectivo botão. Aqui só temos de acertar no tempo certo, sendo que o botão escolhido depende da nossa vontade, entre os dois que controlam respectivamente a arma de cima e a de baixo. Visto que na maioria dos níveis não podemos controlar verticalmente o carro (facto que fica normalmente guardado para as brilhantes boss fights) temos de conseguir alternar entre as duas armas para derrotar todos os zombies que vêm a correr na largura da estrada, conseguindo acertar-lhes com uma ou outra arma apenas, e raramente com ambas. As sequências de notas perfeitas em combo vai evoluíndo o nosso armamento para tiros cada vez mais poderosos, sendo que cada falha vai levando a uma regressão desse mesmo poder.

Double Kick Heroes é divertidíssimo e será lançado em Early Access no Steam no próximo dia 11 de Abril pela mão do estúdio Headbang Club. Ainda com conteúdo limitado nos modos de Arcada e História, o jogo é tão agradável que me foi impossível de o largar até “bater” todas as músicas/níveis já disponíveis. Com uma excelente pixel art e uma ainda melhor banda-sonora, Double Kick Heroes é mais do que recomendado para fãs de rhythm games e/ou metalheads. Um cruzamento feliz de géneros diferentes e que resultam num jogo fresco e divertido, com a possibilidade futura de importarmos as nossas próprias músicas e criarmos novos níveis que irá abrir ainda mais aquilo que já tem todas as características de um excelente jogo.