Quem nasceu nos 1970s e nos 1980s sabe que não só a ideia de PEGI estava longe de existir como a avaliação paterna dificilmente se encaixaria na visão contemporânea que temos das coisas. Enquanto pai dificilmente me imagino a ver filmes de acção dos 1980s e 1990s com o meu filho de quase 5 anos, mas não recrimino a descontracção com que o meu avô me permitia ver praticamente tudo na TV. 

O Steven Seagal tornou-se o meu action hero favorito desde que vi com a família numa sexta-feira à noite o VHS alugado de Nico, à Margem da Lei (Above the Law, no original). O seu ar durão, voz quase sussurrada, calma inabalável e a quantidade de vezes que os seus movimentos de Aikido pareciam fazer os seus membros flutuar, desviando os ataques dos inimigos e contra-atacando-os com máxima eficácia.

Nessa mesma altura os side scrolling beat ‘em ups começavam a ganhar a força que tiveram nas arcadas, em especial pelo brilhante contributo da Capcom que criou alguns dos nossos jogos do género preferidos.

Misturar estas duas ideias para o mercado de hoje é precisamente a ideia do primeiro jogo do estreante estúdio Household Games com o seu Way of the Passive Fist (perceberam o trocadilho duplo? Entre pacifist e a referência ao clássico jogo The Way of the Exploding Fist?) e a forma como cria uma espécie de side scrolling non-beat’em up.

A ampla homenagem aos jogos da Capcom (e não só) na sua definição artística é um dos seus pontos altos iniciais, com as animações de sprite dos diversos personagens a mostrar uma fluidez saudosa dos melhores momentos da pixel art nas máquinas de arcada. Um mundo pós-apocalíptico que serve de  resposta a “o que aconteceria se o Steven Seagal fosse o protagonista de Mad Max?”.

Há tanto de familiar, de simples e de extremamente difícil de dominar na ideia base deste Way of the Passive Fist. Contrariando aquilo que é o hábito de centenas de jogos do género, em Way of the Passive Fist não temos de esmurrar ou pontapear os nossos adversários, mas sim cansá-los ao deflectir e esquivar todos os seus ataques. Quando eles ficam momentaneamente exaustos podemos utilizar um ataque certeiro para os derrotar.

Todo este sistema funciona quase como um rhythm game encapotado, em que cada adversário tem uma cadência de ataque que vamos ter de decorar para conseguirmos defender todos os ataques. À medida que o jogo avança (e ao bom velho estilo do género) os adversários vão-se diversificando não só com recolourings mas com alterações ao ritmo e cadência de ataques, com defesas cada vez mais exigentes, e é nesta progressão que o desafio do jogo vai crescendo.

À medida que vamos deflectindo os ataques com sucesso, vamos enchendo uma barra que nos permite fazer um ataque poderoso, e que é dos poucos momentos de ataque activo do protagonista. É neste sistema que encaramos as boss fights, enchendo a barra com os minions que o circundam e aproveitar para descarregar o ataque especial na cara do vilão, desbastando-lhe a barra de vida.

Em muitos aspectos Way of the Passive Fist pode parecer algo monótono, e em alguns sentidos, é. Um beat’em up clássico tem obrigação de ser mais dinâmico do que um jogo que inverte a ideia e centra-se unicamente em defender e contra-atacar, mas o desafio que isto coloca (desafio esse que literalmente pode ser customizado por nós) é interessante e uma lufada de ar fresco no género.

Com uma excelente pixel art e uma ideia e execução excelentes, alterando em 180º a ideia de beat’em up, Way of the Passive Fist é uma excelente estreia para os seus criadores e um jogo desafiante e interessante. Uma introdução subtil de conceitos de rhythm game sobre um brawler e que funciona tão bem, ainda que o conteúdo disponível seja muito fino, mas ao mesmo tempo um óptimo indie que casa na perfeição uma ideia relativamente inovadora com uma boa execução.